Redação Exame
Publicado em 28 de julho de 2025 às 06h49.
O meteorito Northwest Africa 12264 (NWA 12264), uma rocha de apenas 50,8 gramas encontrada em 2018 no noroeste da África e adquirida de um comerciante no Marrocos, está provocando uma revisão profunda no entendimento sobre a cronologia de formação do Sistema Solar.
O fragmento, analisado por equipes internacionais, se formou há aproximadamente 4,569 bilhões de anos, praticamente ao mesmo tempo que os meteoritos mais antigos do Sistema Solar interno, como os angritos e os condritos ordinários. Até então, os modelos tradicionais indicavam que os planetas rochosos (Terra, Marte, Vênus e Mercúrio) surgiram primeiro, enquanto corpos do Sistema Solar externo levariam milhões de anos a mais para se consolidar. O NWA 12264 coloca essa teoria em xeque.
Segundo os pesquisadores, o meteorito veio de um protoplaneta já diferenciado que orbitava além de Júpiter, em uma região conhecida como reservatório de condritos carbonáceos, rica em elementos voláteis e representativa do chamado “Sistema Solar externo”. Trata-se de uma achondrita não agrupada, um meteorito magmático raro e o mais antigo desse tipo já identificado vindo das regiões externas do sistema planetário.
Os dados obtidos pelos métodos de datação isotópica chumbo-chumbo (Pb-Pb) e alumínio-magnésio (Al-Mg) sugerem que a formação planetária pode ter ocorrido de forma simultânea em toda a nebulosa solar, e não em etapas de “dentro para fora”, como se pensava. Isso indica que protoplanetas externos também passaram por diferenciação rapidamente, formando núcleos, mantos e crostas nos primeiros milhões de anos do Sistema Solar.
Os pesquisadores acreditam que existiram diversos protoplanetas complexos no início do Sistema Solar que acabaram destruídos por colisões, liberando fragmentos como o próprio NWA 12264. Outros meteoritos, como o NWA 7822, apresentam características semelhantes, sugerindo que mais corpos parentais desse tipo existiram e podem ser identificados em futuras descobertas .
As implicações vão além do nosso Sistema Solar. A pesquisa reforça a possibilidade de que planetas ao redor de outras estrelas também possam se formar rapidamente e em diferentes regiões de seus discos protoplanetários, revisando inclusive modelos usados atualmente para explicar a formação de exoplanetas.
Para os cientistas, o NWA 12264 funciona como uma “cápsula do tempo” do início do Sistema Solar. Ele obriga a ciência a reconsiderar conceitos fundamentais sobre a origem dos planetas e demonstra que a diferenciação planetária pode ter sido muito mais rápida e sincronizada do que se imaginava.