Repórter
Publicado em 5 de agosto de 2025 às 16h14.
Os medicamentos Olire, indicado para o tratamento de obesidade, e Lirux, para diabetes tipo 2, ambos desenvolvidos pela farmacêutica EMS, começaram a ser disponibilizados nas farmácias nesta segunda-feira, 4. Fabricados no Brasil, as canetas injetáveis tornaram-se conhecidas como o "Ozempic brasileiro".
Apesar de possuírem características semelhantes, os medicamentos têm princípios ativos e mecanismos de ação distintos. Eles chegam ao mercado com preço sugerido inferior aos principais concorrentes, como Ozempic, Wegovy, Mounjaro e Saxendra.
A seguir, conheça as principais diferenças entre o Olire, o Lirux e os medicamentos Ozempic, Wegovy e Mounjaro.
A diferença inicial está no princípio ativo de cada medicamento. Olire e Lirux possuem liraglutida, uma molécula análoga ao GLP-1, hormônio produzido pelo intestino e liberado na presença de glicose. O GLP-1 sinaliza ao cérebro que o corpo está alimentado, diminuindo o apetite e ajudando a regular a insulina e os níveis de açúcar no sangue.
Essa substância é a mesma presente nos medicamentos Saxenda (da dinamarquesa Novo Nordisk) e Victoza, também voltados para o controle da obesidade e diabetes tipo 2, mas descontinuados pela Novo Nordisk. A patente desses produtos caiu este ano no Brasil, o que possibilitou a fabricação do Olire e Lirux no país.
Por outro lado, Ozempic e Wegovy utilizam semaglutida, uma molécula semelhante à liraglutida, que também regula a glicemia e aumenta a sensação de saciedade.
Já o Mounjaro é composto por tirzepatida, que ativa os receptores do GLP-1 e do GIP, dois hormônios que atuam na regulação do apetite e estimulam a produção de insulina, ajudando no controle da glicose no sangue.
Um estudo comparativo inédito entre dois medicamentos amplamente utilizados para perda de peso indicou que o Mounjaro (tirzepatida), desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly, em maio de 2025, superou seu concorrente Wegovy (semaglutida, o mesmo princípio ativo do Ozempic), da Novo Nordisk, em termos de eficácia.
Apesar de dos remédios resultarem em uma perda significativa de peso, o Mounjaro se destacou com uma redução de 20% após 72 semanas de tratamento, enquanto o Wegovy apresentou uma redução de 14%, conforme os resultados do estudo.
Os pesquisadores responsáveis pela comparação observaram que ambos os medicamentos desempenham um papel importante no tratamento da obesidade, mas destacaram que o Mounjaro pode ser mais eficaz para indivíduos que necessitam perder uma maior quantidade de peso.
Ambos os medicamentos têm em comum o efeito de "enganar" o cérebro, promovendo uma sensação de saciedade que reduz o apetite, fazendo com que o paciente ingira menos alimentos e utilize as reservas de gordura do corpo. No entanto, as diferenças em como atuam explicam a superioridade do Mounjaro em termos de resultados.
O Wegovy imita um hormônio natural do corpo, que é liberado após as refeições e ativa um sinalizador químico no cérebro responsável pela sensação de saciedade. Em contrapartida, o Mounjaro ativa duas substâncias que agem no sistema nervoso, proporcionando uma eficácia maior.
O estudo, financiado pela Eli Lilly, fabricante do Mounjaro, contou com a participação de 750 indivíduos obesos, com um peso médio de 113 kg. Os participantes foram selecionados para utilizar a maior dose possível de um dos dois medicamentos.
Os resultados, apresentados durante o Congresso Europeu sobre Obesidade, realizado em Málaga, na Espanha, e publicados na revista New England Journal of Medicine, mostraram os seguintes dados:
Em entrevista à emissora britânica BBC, Louis Aronne, médico responsável pelo estudo no Centro de Controle de Peso da Weill Cornell Medicine, em Nova York, concluiu que "a maioria das pessoas com obesidade se sairá bem com a semaglutida (Wegovy)".
"Aqueles com níveis mais altos de obesidade podem, em última análise, se sair melhor com a tirzepatida (Mounjaro)", comparou.
Outra diferença importante entre os medicamentos está nas dosagens e na frequência de aplicação. Enquanto Ozempic, Wegovy e Mounjaro exigem aplicação semanal, Olire e Lirux requerem aplicação diária.
O Lirux possui uma dose máxima de 1,8 mg por dia, e está disponível em embalagens com uma, duas, três, cinco ou dez canetas. O Olire tem a dose máxima de 3 mg por dia, com embalagens contendo uma, três ou cinco canetas.
No caso dos concorrentes, a dose máxima do Ozempic para o tratamento de diabetes tipo 2 é 1 mg semanal, enquanto o Wegovy chega a 2,4 mg. Já o Mounjaro começa com uma dose inicial de 2,5 mg por semana, com doses de manutenção de 5 mg, 10 mg e 15 mg após quatro semanas.
Os medicamentos para emagrecimento também variam consideravelmente em termos de custo. Nesse aspecto, o Olire se destaca entre os concorrentes. A farmacêutica EMS oferece o medicamento com um preço de R$ 760,61 para a caixa com três canetas, valor abaixo do preço praticado pelo Saxenda, que custa cerca de R$ 730, podendo superar os R$ 1.100 dependendo da alíquota de ICMS.
Tanto o Olire quanto o Saxenda, que possuem o princípio ativo liraglutida, devem ser administrados diariamente, com doses que variam de 0,6 mg a 3 mg, conforme a recomendação médica. Na dose máxima, uma caixa de liraglutida cobre cerca de 18 dias de tratamento.
No entanto, medicamentos mais conhecidos, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, são indicados para aplicação semanal, o que facilita a adesão ao tratamento. Esses remédios também têm mostrado taxas de perda de peso superiores em comparação aos outros.
O Wegovy, composto por semaglutida, pode gerar uma redução média de 17,4% do peso após aproximadamente 16 meses. Já o Mounjaro, com tirzepatida, pode proporcionar uma perda de até 25,3% em 1 ano e 8 meses. Em comparação, a liraglutida (na dose de 3 mg/dia) promove uma redução média de 8% após 12 meses de uso.
Em relação ao custo, os valores também variam bastante: o tratamento mensal com Mounjaro pode ultrapassar R$ 4.000, enquanto o Wegovy tem um preço que pode chegar a R$ 2.600. Mas, com programas de desconto, o valor do Wegovy pode ser reduzido para cerca de R$ 1.700. Já o Ozempic, indicado para diabetes, tem sido utilizado off-label para emagrecimento, com o custo aproximado de R$ 999 na dosagem de 1 mg.
Apesar de sua eficácia mais modesta, o Olire surge como uma alternativa nacional com custo mais acessível, especialmente para aqueles que desejam iniciar o tratamento com análogos de GLP-1.
Categoria | Originais (Saxenda, Ozempic, Wegovy, Mounjaro) | Genérico Nacional (Olire – EMS) |
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Princípio ativo | Saxenda: Liraglutida / Ozempic/Wegovy: Semaglutida / Mounjaro: Tirzepatida | Liraglutida |
Classe terapêutica | Análogos de GLP-1 (diversas moléculas, incluindo semaglutida e tirzepatida) | Análogos de GLP-1 (molécula mais antiga) |
Aplicação | Saxenda: diária / Ozempic/Wegovy/Mounjaro: semanal | Diária |
Eficácia no emagrecimento | Saxenda: ~8% em 1 ano / Wegovy: ~17,4% em 16 meses / Mounjaro: até 25,3% em 1 ano e 8 meses | ~8% em 1 ano |
Preço aproximado | Saxenda: R$ 730 a R$ 1.100 (3 canetas) / Ozempic: ~R$ 999/mês / Wegovy: até R$ 2.600 (R$ 1.700 c/ desconto) / Mounjaro: >R$ 4.000/mês | R$ 760,61 (3 canetas) |
Público | Adultos (varia por fármaco e indicação) | A partir de 12 anos (Anvisa) |
Observações | Moléculas mais novas (semaglutida e tirzepatida) têm eficácia superior e aplicação semanal | Preço mais acessível, opção nacional, eficácia mais modesta |