Robô humanoide: tecnologia inovadora simula a gravidez humana com um útero artificial (Imagem gerada por IA/Freepik)
Repórter
Publicado em 19 de agosto de 2025 às 11h25.
Última atualização em 19 de agosto de 2025 às 11h48.
Um robô humanoide capaz de carregar um bebê humano foi desenvolvido na China. Equipado com um útero artificial, o robô foi projetado para carregar um feto desde a concepção até o nascimento em um ambiente sintético e controlado.
Segundo uma equipe de cientistas chineses liderados pelo Dr. Zhang Qifeng da Kaiwa Technology em Guangzhou, a tecnologia está em um estágio avançado de desenvolvimento e já foram realizados testes utilizando fluido amniótico sintético e sistemas de fornecimento de nutrientes que mimetizam o funcionamento do cordão umbilical.
Apesar dos progressos, ainda não foram realizados testes com embriões vivos, e a integração do sistema de útero artificial ao corpo humanoide do robô ainda está em fase de avaliação e ajustes.
O desenvolvimento desse robô surge como uma resposta ao crescente problema da infertilidade e ao desejo de contornar as barreiras legais em torno da "barriga de aluguel", que tem sido um desafio para muitas famílias, especialmente em países com restrições legais rigorosas.
No caso da China, a proibição da gestação por substituição comercial gerou um mercado clandestino, o que torna a proposta do robô de gravidez uma solução inovadora e, ao mesmo tempo, controversa.
Para os cientistas, o robô, com um preço estimado de 100.000 yuan (aproximadamente US$ 14 mil), pode ser uma "opção mais acessível em comparação aos altos custos de gestação por substituição", um fator importante em um país com uma população envelhecendo rapidamente e uma crescente demanda por soluções reprodutivas.
A equipe de Zhang Qifeng projeta que o robô humanoide de gravidez poderá estar pronto para testes de implantação em humanos até 2026.
Mas, para que isso aconteça, uma série de testes clínicos, incluindo a realização de experimentos com animais de grande porte, serão necessários para garantir a segurança da tecnologia. Além disso, a obtenção das autorizações regulatórias e a aprovação ética podem levar mais dois anos, com o primeiro nascimento de um bebê por esse método previsto para 2027.
O robô não apenas imita os processos biológicos básicos da gestação, mas também promete um controle total sobre o ambiente no qual o feto se desenvolve.
Isso inclui a regulação precisa da temperatura, do pH e do fluxo sanguíneo, o que, segundo os cientistas responsáveis, cria "um espaço ideal para o crescimento do bebê de forma segura e monitorada, sem os riscos comuns das gestações humanas".
Mas proposta gera muitas discussões éticas. A ideia de substituir a mãe biológica por uma máquina levanta questões sobre o papel da maternidade e da paternidade, o vínculo entre pais e filhos e até mesmo os direitos de um bebê nascido por esse método.
Especialistas alertam para os riscos de desumanização do processo reprodutivo, questionando se a criação de uma criança em um ambiente completamente artificial pode afetar o desenvolvimento emocional e psicológico no futuro.
Além disso, a introdução dessa tecnologia no mercado também traria uma série de desafios legais e regulatórios.
A China, por exemplo, precisará revisar suas leis relacionadas à fertilização in vitro, à manipulação de embriões e à definição de filiação, para permitir que o uso do robô de gravidez seja legalizado. Especialistas afirmam que a ausência de uma legislação específica sobre gestação artificial pode criar lacunas jurídicas em torno dos direitos dos bebês nascidos por esse método, além de questões sobre a responsabilidade dos pais, dos fabricantes e dos médicos envolvidos no processo.
A China atravessa uma das maiores crises demográficas de sua história.
A taxa de natalidade do país, que já foi uma das mais altas do mundo, caiu de forma dramática nas últimas décadas. Hoje, a nação enfrenta um dos maiores declínios populacionais do planeta, com a taxa de fertilidade total (TFT) caindo de 2,25 filhos por mulher em 1990 para cerca de 1,00 filho por mulher em 2023, muito abaixo do nível de reposição populacional, que é de 2,1 filhos por mulher.
Em 2024, a taxa de fertilidade teve um leve aumento, chegando a aproximadamente 1,71 filho por mulher, mas permanece abaixo do nível de reposição. Em 2024, nasceram cerca de 9,54 milhões de bebês na China. Mesmo assim a população continuou a cair, com um declínio populacional estimado em torno de 1,39 milhão de pessoas, segundo a Divisão de População das Nações Unidas.
Um dos principais motores para a queda da natalidade na China foi a política do filho único, implementada em 1979 e que vigorou até 2015. A medida foi criada para controlar o crescimento populacional e, apesar de ter sido abandonada, os efeitos dela ainda são sentidos. Durante mais de 30 anos, o governo desencorajou as famílias de terem mais de um filho.
Outro fator que contribuiu para a queda da natalidade foi a mudança nas condições sociais e econômicas. A sociedade chinesa passou por transformações significativas nas últimas décadas. O adiamento do casamento e da maternidade é um reflexo dessas mudanças. De acordo com dados do governo chinês, a idade média do primeiro casamento passou de 24 anos em 2010 para 28 anos em 2020. Já a idade média da maternidade aumentou de 26 anos para 29 anos no mesmo período.
Além disso, a infertilidade tem se tornado uma realidade crescente entre os casais chineses. Em 2023, 18,2% dos casais enfrentavam dificuldades para ter filhos, o que representa quase um em cada seis casais.
O contexto econômico também pesa na decisão de ter filhos. O alto custo de vida nas grandes cidades, a escassez de habitação acessível e a precariedade dos serviços de apoio a crianças são fatores que dificultam a criação de filhos. A China, que já enfrenta um envelhecimento acelerado da população, precisa de jovens para sustentar sua economia.
Mas agora muitos casais optam por não ter filhos ou adiar o momento devido à incerteza econômica e aos altos custos de educação e cuidados infantis, segundo estudos.
Pesquisas mostram que o custo médio para criar um filho até os 18 anos na China é extremamente elevado, cerca de US$ 75 mil (aproximadamente 538.000 yuan), considerado um dos mais altos do mundo em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita.
Além disso, um estudo de 2025 revela que essas incertezas, como instabilidade no emprego e preocupações com o futuro econômico, estão associadas à diminuição da intenção de ter filhos, já que afetam a percepção da viabilidade de formar uma família. Especialistas apontam que as dificuldades financeiras e a insegurança econômica fazem com que muitos casais escolham não ter filhos ou adiem a maternidade/paternidade, agravando o problema do envelhecimento populacional e suas consequências para a sustentabilidade econômica do país.
O aumento da proporção de idosos coloca uma pressão crescente sobre os serviços públicos e as políticas de aposentadoria. Em 2023, o número de nascimentos foi superado pelo número de mortes, com um saldo natural negativo de -1,39 milhão, segundo dados do Escritório Nacional de Estatísticas da China (National Bureau of Statistics, NBS, na sigla em inglês).
Em 2022, a China registrou sua primeira queda populacional em mais de seis décadas, com uma perda de 2,08 milhões de pessoas. Em 2023, a população chinesa diminuiu em mais 1,39 milhão de pessoas, alcançando a marca de 1,4097 bilhão de habitantes. Essa diminuição populacional traz uma série de desafios, especialmente no que diz respeito ao sistema de seguridade social e à força de trabalho do país.
Para tentar reverter esse cenário, o governo chinês adotou uma série de medidas pró-natalidade. Em 2021, a política do filho único foi substituída pela política de três filhos. A partir de 2023, o governo implementou subsídios financeiros e cobertura de seguro médico para fertilização in vitro em várias províncias do país.
Em 2024, o governo anunciou um subsídio de 3.600 yuan (cerca de US$ 500) por criança até 3 anos, para ajudar as famílias a arcar com os custos de criação. No entanto, especialistas afirmam que essas políticas podem demorar a surtir efeito, pois as mudanças culturais e sociais que impedem as famílias de ter mais filhos são profundas.
Se a taxa de fertilidade continuar abaixo do nível de reposição, a população chinesa pode enfrentar um declínio acelerado nas próximas décadas. Estimativas indicam que, até 2100, a população da China pode cair para 590 milhões de pessoas, dependendo das políticas implementadas.