Ciência

Startup do Nobel de Química desenvolve tecnologia que extrai água diretamente do ar

A empresa Atoco, sediada na Califórnia, tem como foco data centers instalados em áreas com recursos hídricos limitados

Omar Yaghi: professor é um dos vencedores do prêmio Nobel de Química de 2025 (Atoco/Divulgação)

Omar Yaghi: professor é um dos vencedores do prêmio Nobel de Química de 2025 (Atoco/Divulgação)

Publicado em 15 de outubro de 2025 às 15h04.

Uma tecnologia desenvolvida por um laureado com o Prêmio Nobel de Química promete revolucionar o acesso à água potável em regiões afetadas pela escassez hídrica.

A startup Atoco, fundada pelo professor Omar Yaghi, um dos vencedores do Nobel de Química de 2025, pretende comercializar sistemas capazes de extrair água diretamente do ar no segundo semestre de 2026, segundo informações da agência Bloomberg.

A empresa, sediada em Irvine, na Califórnia, tem como foco data centers instalados em áreas com recursos hídricos limitados. Essas instalações consomem volumes expressivos de água para resfriamento de equipamentos e manutenção da operação, o que pressiona ainda mais os reservatórios locais.

Além dos data centers, a Atoco também mira usinas de hidrogênio verde e comunidades atingidas por secas severas, que enfrentam desafios semelhantes de acesso a recursos hídricos.

Como funciona a tecnologia

Os dispositivos da empresa não precisam de eletricidade e utilizam apenas luz solar ambiente ou calor residual de instalações industriais para produzir água ultrapura.

A base do sistema está na engenharia de estruturas conhecidas como "metalorgânicas” (metal-organic frameworks, ou MOFs), uma nova forma de arquitetura molecular com amplas aplicações na indústria e na pesquisa científica, desenvolvidas por Yaghi na Universidade da Califórnia, em Berkeley.

De acordo com Heiner Linke, presidente do Comitê do Nobel de Química, os MOFs possuem “enorme potencial, trazendo oportunidades inéditas para materiais sob medida com novas funções”.

As estruturas "metalorgânicas" têm alta porosidade e são capazes de capturar moléculas específicas do ar, como a de água.

Demanda por água

Um protótipo com capacidade para produzir 200 litros de água por dia deve ser apresentado ainda neste trimestre. A versão comercial, do tamanho de um contêiner, poderá gerar até 1.000 litros diários — volume ainda distante da demanda de um grande data center, que consome cerca de 2 milhões de litros por dia.

De acordo com dados das Nações Unidas, metade da população mundial enfrenta algum grau de escassez de água, e 25% vivem sob estresse hídrico extremo. Mesmo na Califórnia, estado com a quarta maior economia do mundo, quase um milhão de pessoas não têm acesso a água potável limpa, segundo relatório de 2024.

Filho de refugiados palestinos, Yaghi nasceu na Jordânia e imigrou para os Estados Unidos para cursar o ensino superior. Ele credita seu sucesso ao sistema de universidades públicas e aos financiamentos federais da Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos (NSF) e do Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE), que viabilizaram suas pesquisas — agora transformadas em negócio com potencial de impacto global.

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