3I/ATLAS: imagem do cometa capturada pela missão STEREO divulgada nesta quarta-feira (Reprodução/NASA)
Estagiária de jornalismo
Publicado em 19 de novembro de 2025 às 20h46.
As novas imagens do cometa interestelar 3I/ATLAS divulgadas no fim da tarde desta quarta-feira, 19, pela NASA geraram uma onda de decepção nas redes sociais. Após semanas de expectativa sobre a "campanha de observação sem precedentes", o público se deparou com pontos de luz fracos, imagens granuladas e um objeto celeste que mal se distingue nas fotografias.
"Tiraram a foto com um Nokia tijolão?", comentou um dos usuários no Instagram da NASA. As expectativas do público estavam altas após a NASA anunciara que mostraria as novas imagens em uma transmissão ao vivo. O interesse no cometa começou em julho, quando surgiram especulações sobre uma possível origem alienígena após as observações iniciais.
O 3I/ATLAS foi descoberto em 1º de julho de 2025 pelo telescópio ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System) no Chile. O "3I" em seu nome indica que é o terceiro objeto interestelar conhecido a passar em nosso Sistema Solar depois de 'Oumuamua, em 2017, e do cometa Borisov, em 2019.
A origem extraterrestre do objeto foi confirmada por sua órbita hiperbólica, que indica que ele veio de fora do nosso sistema e não está gravitacionalmente ligado ao Sol. Para os cientistas, objetos assim são como "cápsulas do tempo" de outros sistemas estelares, oferecendo pistas sobre como planetas e cometas se formam em outras partes do universo.
O termo "alienígena" viralizou nas redes sociais não porque houvesse qualquer sugestão de vida extraterrestre, mas simplesmente porque o cometa é literalmente um "alien", vindo de fora do nosso sistema solar. Ainda assim, a nomenclatura ajudou a inflar as expectativas do público.
A NASA mobilizou 12 instrumentos espaciais espalhados pelo Sistema Solar para observar o 3I/ATLAS, em uma coordenação inédita. As imagens mais próximas vieram de Marte, onde o Mars Reconnaissance Orbiter, a sonda MAVEN e o rover Perseverance fotografaram o cometa de 30 milhões de quilômetros de distância quando ele passou pelo planeta em setembro.
Missões de observação solar, como STEREO, SOHO e PUNCH, conseguiram rastrear o cometa quando ele passou atrás do Sol. Já as espaçonaves Psyche e Lucy, a caminho de suas missões para estudar asteroides, capturaram imagens de centenas de milhões de quilômetros de distância.
Até os grandes observatórios espaciais entraram em ação: o Telescópio Hubble observou o cometa em julho, seguido pelo Telescópio James Webb em agosto.
Muitos desses instrumentos não foram projetados para fotografar cometas. A missão PUNCH, por exemplo, foi desenvolvida para estudar a atmosfera do Sol. Para conseguir ver o 3I/ATLAS, a equipe precisou empilhar múltiplas observações e, mesmo assim, o cometa aparece como um fraco ponto de luz com uma "leve elongação" que seria sua cauda.
O cometa fará sua maior aproximação da Terra em 19 de dezembro, mas ainda assim ficará a 274 milhões de quilômetros, quase o dobro da distância entre a Terra e o Sol.
Apesar da decepção visual, os cientistas insistem que as observações têm valor científico real. Dados espectrográficos e ultravioleta da sonda MAVEN podem revelar a composição química do cometa. As múltiplas observações ajudaram a refinar sua trajetória. E comparar esse visitante com cometas do nosso sistema pode oferecer informações sobre diferenças entre sistemas estelares.
"É a primeira vez que nossas missões de heliofísica observam propositalmente um objeto originado em outro sistema solar", destacou a NASA em comunicado.