Redatora
Publicado em 1 de novembro de 2025 às 13h17.
Última atualização em 1 de novembro de 2025 às 14h02.
O Brasil vive uma epidemia silenciosa de excesso de peso. Segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2025, 68% da população brasileira apresenta sobrepeso e 31% convive com algum grau de obesidade. Esse cenário ajudou a impulsionar a rápida popularização dos medicamentos à base de GLP-1, conhecidos como as “canetas emagrecedoras” — uma tendência que começou entre celebridades e hoje conquista diferentes públicos.
Os medicamentos à base de GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1) agem diretamente nos centros de saciedade do cérebro, regulando a fome e o nível de açúcar no sangue. Inicialmente desenvolvidos para o tratamento do diabetes mellitus tipo 2, esses fármacos ganharam destaque por sua eficácia na redução de peso e no controle da obesidade.
Estudos projetam que o mercado global de GLP-1 deve movimentar até US$ 150 bilhões até 2030, com potencial de alcançar R$ 7,5 bilhões no Brasil em 2026. A tendência reflete não apenas o sucesso clínico da substância, mas também o crescimento da indústria do bem-estar e da longevidade.
Nos Estados Unidos, 12,4% da população adulta utiliza medicamentos como Ozempic, WeGovy e Mounjaro, segundo o Índice Nacional de Saúde e Bem-Estar da Gallup. O número representa um salto em relação aos 6,6% registrados no ano anterior.
As mulheres são as principais usuárias: 15,2% das norte-americanas fazem uso do tratamento, contra 9,7% dos homens. A faixa etária predominante está entre 40 e 64 anos, reforçando o perfil de consumo de pessoas em idade economicamente ativa e mais preocupadas com a saúde preventiva.
De acordo com pesquisa da PwC EUA, o objetivo do uso do GLP-1 já ultrapassa o foco do cuidado em diabetes. Seis em cada dez entrevistados afirmam usar o hormônio com foco no emagrecimento. Outro dado relevante mostra a mudança de percepção sobre o tema: 82% dos pais disseram apoiar o uso do tratamento em seus filhos, desde que com recomendação médica e comprovação de eficácia.
Apesar do sucesso, o alto custo continua sendo a principal barreira para a expansão do uso das canetas emagrecedoras. Nos Estados Unidos, 45% dos usuários entrevistados pela PwC citaram o preço como motivo de interrupção do tratamento. No Brasil, o cenário é semelhante.
Enquanto a obesidade cresce entre as classes de menor renda — impulsionada pelo acesso limitado a alimentos nutritivos —, o tratamento com GLP-1 ainda é inviável para boa parte da população. Medicamentos populares, como o Mounjaro, chegam a custar mais de R$ 1.300 por mês.
A expectativa de médicos e especialistas é que a queda da patente de substâncias como a semaglutida, prevista para 2026, estimule a produção nacional e reduza significativamente os preços, democratizando o acesso ao tratamento.
No Brasil, o interesse pelos medicamentos à base de GLP-1 também cresce nas redes sociais. Um levantamento da Ipsos mostra que as menções a “canetas emagrecedoras” aumentaram 56% entre junho de 2024 e maio de 2025, somando 239 mil citações. O Ozempic lidera o ranking, seguido por Mounjaro, WeGovy, Saxenda, Victoza e Trulicity.
Empresas internacionais já buscam capitalizar esse movimento global. No Reino Unido, a ShedMed levantou US$ 50 milhões em rodada de investimento para expandir sua plataforma de controle de peso baseada no hormônio. Nos Estados Unidos, a Andel, startup focada em programas corporativos de saúde, recebeu US$ 4,5 milhões para conectar empregadores a fabricantes e reduzir custos de medicamentos.
O futuro do tratamento com GLP-1 — seja para o diabetes ou para a obesidade — depende de ampliar o acesso a quem mais precisa. Hoje, há relatos de pacientes que compartilham doses para dividir despesas, prática não indicada por especialistas. Médicos alertam que o uso do hormônio deve sempre ser acompanhado de avaliação clínica personalizada e orientação profissional contínua.