19.01.2025 - Cidade de Belém no Pará, Capital da Cop30 Amazônia. Foto: Rafa Neddermeyer/Cop30 Amazônia (Rafa Neddermeyer/ COP30/Divulgação)
Colunista
Publicado em 13 de agosto de 2025 às 16h27.
Última atualização em 13 de agosto de 2025 às 16h28.
Tenho lido vários artigos sobre a polêmica em relação à hospedagem na COP 30, que vai ocorrer em Belém do Pará. Segundo matéria recente na Exame:
“A escalada de preços atingiu patamares sem precedentes, multiplicando-se entre dez a 15 vezes em relação aos valores habituais — muito além da inflação típica de duas a três vezes observada em outras conferências internacionais.”
E ainda, de acordo com a revista Veja, um funcionário do governo brasileiro, encarregado das negociações com as redes hoteleiras, teria dito: “Belém do Pará está parecendo programa de TV: todo mundo quer virar milionário”, em alusão ao quadro semanal apresentado por Luciano Huck.
Essa situação me remeteu ao filme O banheiro do papa, uma coprodução franco-uruguaio-brasileira lançada em 2007. Baseado em fatos reais, o filme retrata o impacto da visita do papa João Paulo II, em 1988, à pequena e pacata cidade de Melo, no Uruguai, próxima à fronteira com o Brasil. A passagem do pontífice foi fortemente alardeada pela imprensa local, que estimou que dezenas de milhares de pessoas visitariam a cidade. A população de Melo, em sua maioria humilde e vivendo de subempregos, viu na vinda do papa uma oportunidade única para sair da miséria.
Muitos investiram além de suas posses — contraindo dívidas — para aproveitar a ocasião. Montaram centenas de barracas de cachorro-quente, pastéis, chorizo, bandeirinhas, santinhos e tudo mais que se pudesse imaginar (ou melhor, vender). O protagonista, Beto, por sua vez, endividou-se para construir um banheiro público que, na realidade, não passava de um cubículo com uma única privada. Na porta, um cartaz anunciava: serviço de higiene. A ideia de Beto era faturar alto, cobrando dos visitantes pela possibilidade de satisfazerem suas necessidades fisiológicas.
Mas, para total desespero dos melenses, o número de turistas foi uma pequena fração do esperado. Além disso, o discurso do papa durou apenas 15 minutos…
Voltando à polêmica da COP30, é louvável e emblemática a escolha de Belém como sede do maior evento climático do mundo. Afinal, a cidade está às portas da Floresta Amazônica, o maior bioma tropical do planeta. Em tempos de tantas crises climáticas, entende-se e valoriza-se o simbolismo da escolha.
Entretanto, não obstante as boas intenções, não se pode ignorar a realidade — tal como fizeram os sonhadores habitantes de Melo. No caso da COP30, escolher uma cidade com 18 mil leitos de hotel para receber um público estimado de 50 mil pessoas, impõe desafios logísticos significativos — para dizer o mínimo. Por mais que se condene a ganância dos donos de hotéis — o que parece ser real —, não se pode esquecer a principal lei que rege a economia de mercado: a lei da oferta e da procura. Ao se escolher uma cidade com estrutura hoteleira tão limitada, era óbvio que os preços seriam pressionados para cima.
E, mesmo abstraindo os preços dos hotéis, uma parte expressiva dos participantes, vindos de 190 países, terá que se hospedar em navios, escolas improvisadas, casas de família — e sabe-se lá onde mais. E isso sem falar, ainda, nos desafios de aeroporto, transporte interno e alimentação para tanta gente.
Será que, diante de tanta demanda e improviso, veremos também, em Belém, tal qual ocorreu em Melo, o surgimento de cubículos erguidos às pressas, onde será preciso pagar para se aliviar? Se houver, já de pronto sugiro um nome para eles: “banheiros do papa”.