(Conclave/ Divulgação/Divulgação)
Colunista
Publicado em 6 de maio de 2025 às 14h34.
Última atualização em 6 de maio de 2025 às 15h16.
A palavra “conclave” vem do latim cum clave, que significa literalmente “com chave”. O termo surgiu para descrever o processo pelo qual os cardeais da Igreja Católica são trancados em um local isolado – atualmente a Capela Sistina – até escolherem o novo Papa. O Conclave, como conhecemos hoje, foi instituído formalmente em 1274 pelo Papa Gregório X, após a escandalosa eleição do Papa de Viterbo (1268–1271), que durou quase três anos, levando as autoridades locais a trancarem os cardeais e até reduzirem sua alimentação para forçar uma decisão.
No próximo dia 07, portanto, inicia-se o 54º Conclave para a escolha do sucessor do Papa Francisco. Trata-se do cerimonial mais importante da Igreja Católica, repleto de simbolismos e liturgia, e que é acompanhado por todo o mundo, independentemente de credo ou religião.
Mesmo sendo judeu, me interesso pelo tema e pretendo seguir passo a passo esse importante acontecimento. Não pude deixar de assistir ao filme Conclave – disponível nos cinemas e no Prime Video. Independentemente da narrativa do filme, que é fictícia e polêmica, vale assisti-lo exatamente para entender o rito do Conclave, os ambientes onde ele ocorre e toda a liturgia do cerimonial.
E, é claro, a impecável atuação do ator Ralph Fiennes, que interpreta o Cardeal Thomas Lawrence, o Decano do Colégio dos Cardeais. Num momento tenso do enredo, quando começava a se criar um ambiente pesado de polarização e intolerância entre os cardeais, o Cardeal Lawrence resolve quebrar o protocolo e falar de improviso, “do fundo do coração”, como diz ele.
Gostei tanto das palavras do Cardeal Lawrence que, com elas, encerro este texto. Nestes tempos difíceis em que vivemos, torço para que elas possam ser lidas pelo maior número possível de pessoas, e que ressoem no coração e nas mentes de cada um de nós…
Paulo disse: “Sejam submissos uns aos outros por reverência a Cristo.”
Para trabalharmos juntos, para crescermos juntos, devemos ser tolerantes. Nenhuma pessoa ou facção deve buscar dominar outra.
E, falando aos efésios — que eram, claro, uma mistura de judeus e gentios — Paulo nos lembra que o dom de Deus para a Igreja é a sua variedade.
É essa variedade, essa diversidade de pessoas e de opiniões que dá força à nossa Igreja.
E ao longo de muitos anos a serviço de nossa mãe, a Igreja, deixem-me dizer-lhes: existe um pecado que eu aprendi a temer acima de todos os outros — a certeza.
A certeza é o grande inimigo da unidade.
A certeza é o inimigo mortal da tolerância.
Nem mesmo Cristo teve certeza no final.
“Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”, ele clamou em sua agonia na nona hora na cruz.
Nossa fé é um ser vivo justamente porque caminha de mãos dadas com a dúvida.
Se houvesse apenas certeza e nenhuma dúvida, não haveria mistério, e, portanto, não haveria necessidade de fé.
Rezemos para que Deus nos conceda um papa que duvide.
E que Ele nos conceda um papa que peque e peça perdão, e que siga em frente.
Amém.