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Da Argentina para o mundo: o impacto da gestão Milei no continente

Após os Estados Unidos, Brasil pode ser o próximo a sentir efeitos da guinada à direita, avalia Agustín Etchebarne

 (Fundación Libertad y Progreso/ Divulgação)

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Instituto Millenium
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Publicado em 11 de fevereiro de 2025 às 18h36.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2025 às 18h50.

Durante o Latin America Liberty Forum, realizado na semana passada, no Rio de Janeiro, a Argentina e a Venezuela estiveram no centro dos debates, mas por razões opostas. Enquanto a Argentina foi amplamente celebrada como um exemplo de recuperação econômica e avanço das liberdades sob a gestão de Javier Milei, a Venezuela foi abordada em um painel sobre a repressão política e a falta de liberdade no país.

Em meio a esse cenário, conversamos com Agustín Etchebarne, economista, professor da Universidad de Belgrano e diretor-geral da Fundación Libertad y Progreso, um dos principais think tanks liberais da Argentina. Pessoa próxima de Milei, Etchebarne contou um pouco mais sobre os primeiros meses do governo, os desafios enfrentados, a relação com o governo Trump, os avanços conquistados e o impacto do novo modelo econômico no país e na região. Na entrevista, ele detalha a queda da inflação e da pobreza, a estratégia do governo para enfrentar sindicatos e grupos de pressão e como a Argentina pode se tornar um símbolo de liberdade para toda a América Latina.

Sobre o Brasil, ele disse acreditar que, nas próximas eleições, o país seguirá a mesma tendência da Argentina e dos Estados Unidos, dando uma guinada à direita. “Estou convencido de que Lula perderá as próximas eleições e que o país elegerá um presidente muito mais alinhado aos ideais liberais”, declarou. Acompanhe abaixo a entrevista completa.

Instituto Millenium: A gestão de Milei na Argentina deu o tom do evento (Liberty Forum), sendo citada como o grande exemplo latino-americano a ser seguido pelo restante do continente. Na sua opinião, qual foi o maior feito de Milei para justificar esse destaque?

Agustín Etchebarne: A transformação que Javier Milei está promovendo é extraordinária. No instituto Liberdade e Progresso, fizemos uma estimativa e calculamos que a Argentina já subiu 61 posições no índice de liberdade econômica. Ele implementou um processo muito rápido de corte de gastos e eliminação do déficit fiscal, que agora está zerado. Além disso, reduziu a inflação de 211% para 2,7% em dezembro, com previsão de 2% em janeiro e 1,7% em fevereiro. A queda da inflação é impressionante. E isso foi feito em um ano muito difícil, com um ajuste forte no primeiro semestre. No entanto, a economia já se recuperou no segundo semestre, e a pobreza caiu de 57% para 38%. O mais impressionante é que os keynesianos não conseguem explicar isso. O que dirão agora? Reduzimos o gasto público e, ainda assim, a economia cresceu.

IM: Apesar do impacto inicial da desvalorização da moeda, os índices de pobreza tiveram uma redução significativa ao longo do ano. O que explica essa melhora?

AE: No início, com a primeira desvalorização, a pobreza aumentou e atingiu 57%, reflexo da herança que o presidente recebeu. No entanto, a última medição, feita pela Universidade Católica, indicou que o índice caiu para 38,5%, o que representa uma redução expressiva no segundo semestre. Para este ano, projetamos um crescimento econômico de 5%. Além disso, acreditamos que a Argentina poderá manter um crescimento anual de 5% por muitos anos, recuperando o tempo perdido devido a décadas de estatismo, populismo e peronismo, que destruíram o país. O presidente Milei tem demonstrado coragem e uma convicção inabalável na liberdade. Temos confiança de que ele conseguirá transformar a Argentina em um dos países mais livres do mundo. Não será algo imediato, mas esse é o caminho. E não queremos parar por aí. Nosso objetivo maior é que toda a América Latina se torne o continente mais livre do mundo, com países como Cuba, Venezuela e Nicarágua finalmente conquistando sua liberdade. Esse deveria ser o objetivo comum de todos nós que fazemos parte do movimento liberal.

IM: Milei conseguiu transformar a agenda liberal em algo mais acessível e até popular. Qual seria a receita para replicar esse sucesso em outros países da América Latina?

AE: Milei tem um estilo muito particular de comunicação e de alcançar sucesso, e isso nem sempre é replicável. Cada país precisa encontrar o que funciona melhor para sua realidade. No entanto, algo fundamental que podemos aprender com ele é a necessidade de agregar emoção às ideias liberais, que muitas vezes explicamos apenas de forma racional. Milei trouxe o "rock and roll" para o discurso liberal. Outros podem adotar o humor, o romantismo ou qualquer outra abordagem emocional. Existem duas grandes forças no mundo: Eros, que representa o amor, e Thanatos, que simboliza o impulso destrutivo. Eu prefiro o impulso do amor, mas qualquer um pode ser utilizado para engajar as pessoas. É necessário entender o que funciona em cada contexto e explorar isso. Acima de tudo, acredito na importância do trabalho em equipe e no fortalecimento da rede liberal. Podemos aprender muito uns com os outros.

IM: Como Milei tem lidado com a oposição e com grupos de pressão, como sindicatos, para implementar a agenda para a qual foi eleito?

AE: Essa é uma questão muito interessante. Diferente do que fez Macri, Milei cortou o financiamento dos chamados "gestores da pobreza", ou seja, aqueles que controlavam os programas sociais na Argentina. Antes, os movimentos sociais decidiam quem receberia os benefícios, mas Milei mudou isso, transferindo os recursos diretamente para a população. Dessa forma, as pessoas passaram a receber mais dinheiro e, ao mesmo tempo, não precisavam mais prestar contas a intermediários. Como resultado, os bloqueios de ruas e manifestações constantes em Buenos Aires praticamente desapareceram. Já em relação aos sindicatos, ainda há muito a ser feito. A Argentina precisa seguir o exemplo do Brasil e acabar com o desconto obrigatório de contribuições sindicais no salário dos trabalhadores, tornando-o opcional. Além disso, precisamos adotar o modelo chileno, onde os acordos individuais entre empresários e empregados prevalecem sobre as negociações coletivas. Há muitas reformas importantes ainda por fazer nesse sentido.

IM: Milei tem influenciado até mesmo a nova gestão de Trump nos Estados Unidos. Como acredita que os dois países poderão se beneficiar dessa relação nos próximos anos? A Argentina ganhará mais destaque no cenário global?

AE: Sim, acredito que Argentina e Estados Unidos poderão formar uma parceria muito interessante. Milei está impulsionando um tratado de livre comércio, que pode parecer contrário à abordagem protecionista de Trump. No entanto, na prática, Trump utiliza o comércio como ferramenta geopolítica. Se olharmos para a China, veremos que o país já firmou 33 tratados de livre comércio com países africanos, fortalecendo seus laços na região. Os Estados Unidos fariam bem em adotar a mesma estratégia com os países que compartilham os valores da liberdade. A relação entre Milei e Trump, assim como seus vínculos com Elon Musk, Ron DeSantis e Marco Rubio, demonstram um respeito mútuo que pode render frutos nos próximos anos. Tenho certeza de que veremos coisas muito positivas surgirem dessa aliança.

IM: Após as mudanças ideológicas na Argentina e nos Estados Unidos, acredita que o Brasil seguirá a mesma tendência? Com Bolsonaro inelegível, vê alguém com potencial para liderar esse processo?

AE: Tenho certeza de que o Brasil caminhará na direção da liberdade. Estou convencido de que Lula perderá as próximas eleições e que o país elegerá um presidente muito mais alinhado aos ideais liberais. Não sei se será Tarcísio de Freitas ou alguém como Romeu Zema, mas o Brasil tem excelentes candidatos com chances muito interessantes. Acredito que 2026 marcará o início de uma grande mudança no país. Pessoalmente, já estou investindo no Brasil, pois vejo um futuro promissor.

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