St Patrick's Day comemorado na Irlanda. (PETER MUHLY/AFP/Getty Images)
Colunista
Publicado em 23 de outubro de 2025 às 23h37.
Todo investidor no Brasil tem um sócio oculto. Ele não aparece no contrato social, não aporta capital nem compartilha riscos. Mesmo assim, exige a primeira e maior fatia do resultado. Esse sócio, o Estado, está cada vez mais faminto. A cada proposta tributária, a cada manchete sobre o rombo fiscal, uma pergunta nos confronta: meu patrimônio está seguro?
Reclamar não é uma opção para quem leva o próprio dinheiro a sério. O investidor inteligente percebe a imprevisibilidade das regras nacionais. Por isso, olha o mapa. A diversificação internacional deixou de ser luxo e virou necessidade tática. É a busca por jurisdições estáveis e eficientes. Nessa procura, muitos encontram caminhos mais eficientes, mas pouco comentados.
O Segredo Está no Endereço
Estou falando dos UCITS, um acrônimo que parece complicado, mas que na prática se traduz em uma ferramenta bem interessante. Pense neles como ETFs, os fundos de índice que já conhecemos. A diferença é que nascem e operam sob a regulação europeia, com domicílio fiscal na Irlanda ou em Luxemburgo. E é nesse detalhe geográfico que está a vantagem estratégica.
A primeira está no fluxo de caixa. Ou melhor, na ausência dele. Um ETF americano tradicional é obrigado a distribuir dividendos trimestralmente. Parece ótimo, mas o governo dos EUA retém 30% na fonte. É uma mordida dolorosa. Os UCITS, em sua maioria, são fundos de acumulação: eles recebem os dividendos e os reinvestem automaticamente. Você não recebe o dinheiro, portanto não há fato gerador de imposto. O efeito dos juros compostos trabalha a seu favor de forma plena, sem as interrupções do Leão americano.
A verdadeira blindagem
Essa eficiência tributária já justificaria o investimento. Mas o fator decisivo é outro: o Estate Tax, o imposto sobre herança americano. Poucos brasileiros sabem, mas se você morrer com mais de 60 mil dólares em ativos nos Estados Unidos, seus herdeiros podem enfrentar uma alíquota de até 40% sobre o valor excedente. Quase metade do patrimônio que você construiu pode evaporar na transferência para a próxima geração. Por serem domiciliados na Irlanda, os UCITS são considerados ativos não americanos. Estão fora do alcance desse imposto. É uma excelente camada de proteção.
Claro, há peculiaridades. O horário de negociação segue o mercado de Londres, o que para nós significa operar de madrugada ou no início da manhã. A liquidez, embora alta, pode não ser a mesma dos gigantes americanos. Vejo esses pontos, no entanto, como ajustes operacionais diante de benefícios estruturais relevantes. Para o investidor de longo prazo, que monta e carrega uma posição por anos, essas questões se tornam secundárias.
Uma Nova Mentalidade
Num Brasil onde o cerco fiscal parece se fechar a cada nova reforma, olhar para fora é uma necessidade. O governo, com sua fome por arrecadação, nos força a ser mais criativos. Estruturas como os UCITS irlandeses são respostas inteligentes a esse cenário. Elas representam a evolução do investidor brasileiro, que sai de uma postura reativa para uma atitude proativa, buscando a melhor eficiência global disponível.
Investir é, essencialmente, fazer escolhas inteligentes. É colocar o dinheiro para trabalhar da forma mais eficaz possível. E hoje, uma das rotas mais interessantes para diversificar, otimizar tributos e blindar o patrimônio sucessório passa por um pequeno país na Europa. A bússola do investidor deve sempre apontar para a inteligência estratégica, onde quer que ela esteja.