Teorema de Pitágoras (Reprodução/Reprodução)
Money Report – Aluizio Falcão Filho
Publicado em 15 de fevereiro de 2022 às 10h49.
Aluizio Falcão Filho
Hoje, alguns historiadores questionam a existência de um matemático chamado Pitágoras, aquele do Teorema (a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa). Mas há um influenciador – aquele mesmo que sugeriu banir os clássicos da literatura da escola – que deseja contestar o ensino desta fórmula icônica da matemática. Ele postou em sua conta de Twitter: “[Tenho] 34 anos e ainda não precisei usar o Teorema de Pitágoras. Creio que um dia irei… Não podem ter me forçado a decorar isso à toa”.
O escritor Sérgio Porto, que usava o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, tinha uma série de artigos, nos anos 1960, chamada Febeapá – o Festival de Besteira que Assola o País. Influenciadores e blogueiros famosos produzem nos dias de hoje tantas sandices em seus posts e vídeos que poderiam reeditar essa coleção de crônicas, que mostrava verdadeiras barbaridades ocorridas no Brasil de cinquenta e poucos anos atrás.
Sou egresso de uma faculdade de comunicações, um mundo no qual as pessoas têm pouca intimidade com números e fórmulas. Mas preciso admitir que o ensino da matemática, mesmo que o aluno não se transforme em um engenheiro, é fundamental para estimular o raciocínio abstrato e treinar sua inteligência.
O rapaz da internet pertence a um grupo que aparentemente quer fazer apenas aquilo que deseja, sem se importar com certas obrigações que cercam a vida dos pobres mortais. Ninguém – ou quase ninguém – está cercado apenas de tarefas agradáveis. Infelizmente, boa parte de nossa vida é composta de obrigações. A escola, ao nos colocar diante de matérias que não gostamos (ou não temos facilidade natural para lidar com elas), nos prepara para este tipo de situação e nos ensina, mesmo que de forma inconsciente, a sermos resilientes.
Ao limarmos o lado chato da escola – livros clássicos e teoremas que dificilmente serão aplicados no cotidiano das pessoas –, corremos o risco de lidar no futuro com uma geração de adultos que só experimentaram um ensino suave e não tiveram de se superar em nenhum momento. Que tipo de pessoas seriam essas? É possível arriscar que esses adultos não estariam preparados para lidar com dificuldades ou superar os obstáculos.
Esse episódio se soma ao do podcast em que se falou asneiras sobre o nazismo.
É impressionante como pessoas que dizem verdadeiros disparates tenham audiências enormes e possam influenciar hordas de jovens. Esses infantes, evidentemente, não vão assimilar todas as opiniões tortas que escutam. Mas é triste vê-los consumindo um conteúdo tão apalermado. Estamos em uma sociedade na qual há relativa liberdade de expressão. Portanto, esses influenciadores vão continuar a pregar idiotices pela rede. É uma tristeza. Mas é melhor isso do que viver em uma sociedade dominada pela censura.