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Colunista
Publicado em 16 de outubro de 2025 às 11h01.
Complete a frase: “O tempo passa, o tempo voa, e a poupança...”
Completou? Então você já passou dos 40, e vai se enxergar em cada linha deste artigo.
Há uma geração inteira que cresceu vendo comerciais que viraram ditados, assistindo ¨Chacrinha¨ aos sábados e indo dormir tarde para assistir o ¨Jô soares Onze e meia¨. Hoje, essa mesma geração está repensando a carreira, buscando novos significados e, em muitos casos, decidindo empreender. São homens e mulheres que chegaram aos 40, 50, 60 anos e descobriram que o fim de um ciclo não é o fim do caminho, é o recomeço.
Vivemos um tempo em que a maturidade deixou de ser sinônimo de estabilidade, para se tornar sinônimo de reinvenção. O mercado mudou, a tecnologia acelerou, e o mundo do trabalho já não é mais o mesmo. Mas a boa notícia é que a experiência, antes vista como peso, agora começa a ser reconhecida como diferencial competitivo.
Segundo o IBGE, mais de 40% da população brasileira tem 40 anos ou mais, o que representa cerca de 85 milhões de pessoas. É um público com poder de consumo, repertório e vontade de continuar aprendendo. Relatório Executivo GEM Brasil 2022/2023, mostra que, entre os empreendedores estabelecidos (negócios com mais de 3,5 anos), 33,5% encontram-se na faixa etária de 45 a 55 anos, enquanto 21% estão entre 55 e 64 anos, faixa etária que reúne estabilidade emocional, redes consolidadas e maior clareza de propósito. Outros estudos, como o de Singh e DeNoble (2003), sugerem que empreendedores mais experientes tendem a reunir fatores que aumentam suas chances de sucesso, como maturidade emocional, redes consolidadas e visão estratégica. E, segundo Harvard, a idade média dos fundadores mais bem-sucedidos ao criarem suas empresas é de 40 anos.
A explicação é simples: empreender depois dos 40 é transformar bagagem em vantagem. É colocar a serviço dos novos negócios aquilo que a juventude ainda não teve tempo de construir: paciência, leitura de contexto, empatia e capacidade de negociação. É usar a nossa experiência como trampolim.
Mas há um desafio silencioso nesse cenário: o etarismo. Ainda há empresas que associam inovação à juventude, como se criatividade tivesse data de validade. É um erro caro. A longevidade é uma das maiores revoluções sociais do século, e a economia da maturidade está apenas começando. Um país que envelhece precisa de políticas, negócios e lideranças que valorizem a diversidade etária, o encontro entre energia e sabedoria, entre o novo e o vivido.
O Brasil de 1920 tinha expectativa de vida de 34, anos. Hoje, ultrapassa os 76. Isso significa que alguém de 50 está no meio da vida, não no fim. Como diria uma música que marcou os anos 80, “o tempo não para”. E se não para, é preciso aprender a dançar no ritmo das mudanças.
Empreender 40+ é justamente isso: um movimento de reconexão com o propósito, com o prazer de criar, servir, resolver problemas e gerar impacto. Não se trata apenas de abrir empresas, mas de empreender na vida, no trabalho, nas relações. É o que chamamos de intraempreendedorismo maduro: usar a sabedoria acumulada para inovar dentro das organizações, liderar transformações e inspirar novos caminhos.
E por que isso importa? Porque sem a participação ativa dessa geração, o sistema produtivo e previdenciário não se sustenta. Como apontam Bloom et al. (2015) e Camarano (2020), o envelhecimento populacional é um desafio econômico. Precisamos que o grupo 40+ esteja produzindo, criando, inovando, não apenas consumindo. É uma questão de sustentabilidade econômica e social.
Há quem diga que os jovens correm mais, mas os experientes sabem para onde ir. E essa talvez seja a síntese da nova economia da experiência. Enquanto a juventude tem energia, a maturidade tem direção. O ideal é quando as duas caminham juntas.
De certa forma, empreender depois dos 40 é como revisitar antigas propagandas e perceber que elas também falavam sobre nós: o tempo passa, a vida muda, mas quem soube construir valores sólidos, trabalho, resiliência e ética, carrega um ativo poderoso. A bagagem.
E é essa bagagem que vira vantagem. É ela que nos lembra que a simplicidade ensina, que a cultura inspira, que a fé sustenta e que a curiosidade mantém viva a chama de aprender. Como escreveu Vinícius de Moraes, “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida” — e ninguém entende melhor essa arte do que quem já viveu tantos desconcertos.
Se você completou a frase lá do começo, parabéns. Você faz parte de uma geração que viu o mundo mudar e agora tem a chance de mudar o mundo. O tempo passa, é verdade. Mas para quem sabe o valor da experiência, ele não leva, ele traz.