(Arthur Calasans)
Fundadora e CEO da RM Cia 360
Publicado em 20 de setembro de 2025 às 08h00.
Falar sobre negócios, finanças e, mais especificamente, dinheiro ainda é um tabu na sociedade. Quando colocamos na mesa assuntos como pessoas com deficiência e inclusão, a medida fica ainda maior. Diante dos dados apresentados no relatório do Banco Mundial em 2021 — que apontam que a exclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho pode gerar uma perda de 3% a 7% do Produto Interno Bruto (PIB) —, como empresária e conselheira, divido com vocês mais uma reflexão sobre o impacto da exclusão nas empresas e a urgência de transformar esse cenário para avançarmos economicamente.
Carolina Ignarra, pessoa com deficiência, CEO e sócia fundadora da Talento Incluir tem colaborado com ações para que possamos ser mais assertivos na contratação e manutenção de planos de carreira para pessoas com deficiência. Líder do comitê de inclusão de pessoas com deficiência da ABRH SP, já incluiu aproximadamente 9 mil profissionais PCDs em mais de 800 empresas por todo o Brasil e América Latina.
“Ser uma empresa inclusiva é ir além da contratação. É agir de forma intencional em quatro pilares: estratégia, cultura, acessibilidade e carreira. Empresas que apenas contratam condenam suas pessoas com deficiência a carreiras estacionadas, desperdiçam talentos e investimentos e não praticam a inclusão que escrevem em suas políticas”, ressalta a CEO.
O quanto deixamos de avançar quando não geramos oportunidades para que pessoas com deficiência exerçam suas profissões e ocupem espaços de protagonismo nas empresas? Essa pergunta deveria estar no centro estratégico das lideranças. Muitas empresas acreditam que são inclusivas apenas porque contratam pessoas com deficiência. Mas, na prática, esquecem do essencial: oferecer oportunidades reais de desenvolvimento profissional.
“A presença das pessoas com deficiência, naturalmente, traz a falsa sensação de que está tudo certo, de sermos acessíveis por proporcionar a oportunidade. Dar oportunidade é obrigação legal, não é ação intencional de inclusão. A inclusão de verdade exige desenvolvimento, promoção, equidade e acessibilidade”, enfatiza Ignarra.
De acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV), 80% dos profissionais com deficiência no Brasil estão em cargos operacionais, o que dificulta o acesso aos cargos de liderança. A diferença salarial também é um ponto de atenção: pode chegar a 40% em comparação a profissionais sem deficiência.
“A contratação, sem estratégia para planejar a trajetória da pessoa com deficiência é uma das principais razões pelas quais nossas carreiras ficam estagnadas. Como mostra a pesquisa “Radar da Inclusão: mapeando a empregabilidade de Pessoas com Deficiência”, 63% dos entrevistados nunca receberam uma promoção, mesmo estando há mais de três anos na mesma empresa”, aponta Carolina Ignarra.
Carolina é Top Voice do LinkedIn e está entre as 20 mulheres mais poderosas do Brasil — eleita pela revista Forbes em 2020 — e foi considerada a melhor profissional de Diversidade do Brasil em 2018 pela Veja. A CEO declara que a falta de representatividade de profissionais com deficiência em cargos de liderança colabora para a desmotivação dos mesmo e aceso a plano de carreira. Autora dos livros _Manual Anticapacitista, com Billy Saga_, e _INCLUSÃO – Conceitos, histórias e talentos das pessoas com deficiência_, ela fomenta o acesso a diálogos, jogos interativos e estruturas que ofereçam caminhos de ascensão.
“Após contratar, medir a qualidade da inclusão, é a primeira ação intencional e com indicadores, colhidos em ambiente seguro, para entender se estamos incluindo ou se seguimos na exclusão. Injustamente, a pessoa com deficiência é culpabilizada por não buscar protagonismo ou por não ser produtiva o suficiente. O fato é que gastamos muita energia para provar que somos capazes e para lidar com ambientes que não estão prontos para nos reconhecer plenamente”, enfatiza.
Quando não incluímos, perdemos a chance de inovar e gerar resultados. Incluir de maneira assertiva é transformar o ambiente para que todo talento possa se desenvolver, e esse movimento abre espaço para inovação, justiça e crescimento econômico.
O futuro das empresas exige decisão, e, entre elas estão: insistir em modelos de negócios ultrapassados ou abrir caminhos para que pessoas com deficiência ocupem todos os espaços, inclusive os de liderança, fortalecendo empresas e a sociedade.