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2025: O governo será reinventado

Governos devem entregar resultados, garantir segurança e impulsionar o desenvolvimento, com soluções ágeis e baseadas em evidências para enfrentar desafios

França: a segunda onda da pandemia do novo coronavírus na Europa pode atrasar recuperação do turismo (Benoit Tessier/Reuters)

França: a segunda onda da pandemia do novo coronavírus na Europa pode atrasar recuperação do turismo (Benoit Tessier/Reuters)

Regina Esteves
Regina Esteves

CEO da Comunitas e colunista

Publicado em 3 de fevereiro de 2025 às 17h15.

Como governar em um mundo que se transforma em uma velocidade sem precedentes? Em 2025, a expectativa da sociedade sobre o setor público nunca foi tão alta.

Governos precisam entregar resultados, promover segurança e impulsionar o desenvolvimento. Mas a complexidade dos desafios exige mais do que respostas prontas: requer a construção de soluções estruturadas, ágeis e baseadas em evidências.

As novas demandas sociais, as mudanças tecnológicas e a evolução da economia digital colocam um desafio central: como transformar a máquina pública para que ela não apenas acompanhe esse ritmo, mas atue de forma protagonista na construção do futuro?

Desafio de formulação de boas políticas

A resposta passa pelo fortalecimento da governança, pela ampliação do uso de dados para tomada de decisão e pelo compromisso com políticas públicas embasadas em métricas concretas de impacto.

O grande desafio da gestão pública não está apenas na formulação de boas políticas, mas na capacidade de implementá-las de forma efetiva e mensurável.

O excesso de foco nos processos e a priorização de insumos (recursos, legislações, estrutura organizacional) em detrimento dos resultados concretos (entregas e impacto real) podem afastar as políticas públicas de sua finalidade principal: gerar transformação social.

Governos que se destacam globalmente são aqueles que adotam modelos de gestão orientados para resultados, investindo em soluções que já demonstraram impacto positivo e fortalecendo sua capacidade de adaptação a novos cenários.

A inovação no setor público não significa improviso, mas sim a capacidade de integrar metodologias ágeis, aprimorar a eficiência e reduzir barreiras burocráticas sem comprometer a transparência e o controle institucional.

Se a sociedade muda rapidamente, a governança pública também precisa evoluir. O Brasil já conta com estruturas híbridas que combinam flexibilidade e accountability, como as Organizações Sociais (OS), utilizadas para melhorar a gestão de serviços essenciais.

Inspirações internacionais

Mas há espaço para expandir essa lógica, inspirando-se em modelos internacionais que tornaram governos mais responsivos e eficazes.

O Reino Unido está estruturando “Mission Boards”, que reúnem especialistas e diferentes setores para enfrentar desafios estratégicos.

Na Nova Zelândia, joint ventures interministeriais promovem maior colaboração na formulação e execução de políticas públicas. No Texas, a prática de revisão periódica dos órgãos públicos exige que cada entidade comprove sua relevância e eficiência para continuar operando.

O que esses exemplos mostram? Que reduzir a inércia institucional e fortalecer a governança baseada em resultados são caminhos essenciais para governos que querem ampliar sua capacidade de entrega. O Brasil pode se beneficiar desse tipo de abordagem para acelerar a transformação da gestão pública.

Além da modernização institucional, a digitalização da administração pública já não é mais um diferencial – é uma necessidade urgente. Inteligência artificial, análise preditiva e automação de processos estão redefinindo a forma como governos operam.

Se algoritmos já analisam processos judiciais, otimizam a alocação de recursos na saúde e auxiliam no planejamento urbano, é essencial que o setor público integre essa tecnologia de forma estratégica e ética. Mas a transformação digital não é apenas sobre automação – ela exige uma reconfiguração da força de trabalho.

Dados da RAIS, compilados pelo Republica.org, indicam que há 4,5 vezes mais servidores com mais de 50 anos do que entre 18 e 29, o que significa que, nos próximos anos, a administração pública passará por uma renovação sem precedentes.

Isso abre espaço para repensar modelos de recrutamento, estrutura de carreiras e mecanismos de avaliação de desempenho, garantindo que o setor público atraia talentos com habilidades digitais e visão de futuro.

Se a tecnologia e os dados são fundamentais para a modernização da gestão pública, a escuta ativa da sociedade continua sendo indispensável. Os governos mais eficientes não são apenas os que entregam bons serviços, mas os que conseguem alinhar essas entregas com as reais demandas da população.

A participação cidadã tem sido fortalecida em diferentes países. Na França, assembleias de cidadãos vêm sendo utilizadas para discutir desafios complexos, como mudanças climáticas. Em Taiwan, a plataforma pol.is permitiu que milhares de pessoas participassem de debates estruturados sobre regulação do transporte por aplicativo, garantindo que as decisões do governo estivessem alinhadas às expectativas da população.

Confiança entre sociedade e governo

No Brasil, a ampliação de canais de participação digital e o fortalecimento de mecanismos de governança colaborativa podem criar um ambiente de maior confiança entre sociedade e governo, tornando as políticas públicas mais eficazes e legitimadas pelo debate público.

O setor público tem diante de si um momento decisivo. A administração pública pode liderar a transformação social e econômica do Brasil, mas para isso precisa fortalecer sua capacidade de inovação, gestão de dados e implementação de políticas eficazes.

As mudanças já estão acontecendo: modelos mais flexíveis de governança, expansão do uso de inteligência artificial e ampliação da participação cidadã são movimentos irreversíveis.

O que definirá o futuro da gestão pública não é a velocidade da tecnologia, mas a capacidade dos governos de estruturar políticas públicas baseadas em evidências, garantir eficiência na entrega e ampliar o impacto positivo na sociedade.

A transformação do governo não é uma escolha – é uma necessidade para garantir serviços mais ágeis, inteligentes e alinhados às expectativas da população. O futuro da administração pública já está sendo moldado, e quem souber aproveitar essa oportunidade será protagonista na construção de um Brasil mais eficiente, justo e inovador.

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