Economia

4 pontos sobre a confusão econômica na Argentina

País está perto de um calote técnico, explicam consultorias


	Casa dança tango em Buenos Aires: Argentina se aproxima de calote técnico
 (Julian Finney/Getty Images)

Casa dança tango em Buenos Aires: Argentina se aproxima de calote técnico (Julian Finney/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de novembro de 2012 às 05h24.

São Paulo – A greve geral que ocorreu há uma semana em Buenos Aires é uma das demonstrações de insatisfação dos argentinos sobre o governo atual do país. Investidores internacionais também começam a se preocupar com a situação econômica da Argentina.

Os sindicatos que pararam Buenos Aires por 24 horas pediam reajustes salariais acima da inflação. Já os investidores internacionais se preocupam com a chance de o país não honrar dívidas.

Um relatório do Fórum Econômico Mundial divulgado neste mês colocou a Argentina na posição 55º de um ranking sobre sistemas financeiros em 62 países. Traduzindo em miúdos, o sistema argentino é o oitavo pior do mundo, detectou o relatório.

O ranking é um reflexo da frágil situação econômica no país. Conheça quatro questões que colocam a economia da Argentina em dúvida no cenário atual:

Nacionalizações

As incertezas internacionais em relação ao país começaram no início do ano. Em abril, o congresso argentino aprovou desapropriação da YPF das mãos do grupo espanhol Repsol.

A lei tirou 51% das ações da Repsol YPF, as ações do grupo espanhol na YPF Gas, declarando a ação do interesse público nacional.

A ação gerou preocupação de que algo parecido pudesse acontecer com outras empresas estrangeiras no país.

Dados econômicos duvidosos

Os dados do Instituto Nacional de Estadísticas y Censos (Indec, equivalente ao IBGE na Argentina) não são confiáveis. Especialmente quando se trata de inflação, os argentinos sentem no bolso um peso muito maior do que o governo diz que sente.


Por conta disso, existe uma série de consultorias e modelos no país que buscam medir a inflação como alternativa a oficial. Uma dessas ferramentas é o site PriceStats, usado pela The Economist para substituir os dados oficiais do Idec na área de indicadores da revista. 

Segundo o PriceStats, a inflação oficial na Argentina em 2012 está em 25%, enquanto os dados oficiais apontam alta de 13% dos preços.

No país, algumas consultorias que medem e jornalistas que divulgam índices alternativos da inflação podem ser processados pelo governo por meio de um conjunto de leis da “Lealdade Comercial”.

Câmbio regulado

O Banco Central da Argentina controla há um tempo a compra de moedas estrangeiras por seus residentes. Em julho deste ano, o país colocou regras para proibir formalmente a compra de dólares como poupança, algo praticado pelos moradores do país que buscam se proteger contra a inflação.

Recentemente, esse controle prejudicou a província de Chaco, que não conseguiu fazer o câmbio necessário para pagar uma divida em dólares emitida no país, quebrando assim uma regra contratual de emissão de dívidas.

Dívida arriscada

O caso da província de Chaco foi citado pela Moody's em um relatório de 25 de outubro, no qual reduziu a nota máxima para as dívidas argentinas. O problema do câmbio é só um dos pontos que torna as dívidas do país duvidosas.

No documento, a Moody's reconheceu que o banco central argentino permite a compra de moedas estrangeiras para pagamentos de dívidas no exterior, mas lembrou que o aumento das restrições para transações internas tornam o pagamento de outros tipos de dívidas cada vez mais incerto.

Se as agências já vinham apontando chance de calotes em algumas dívidas, neste mês, esse risco aumentou, como apontou a consultoria de riscos políticos Eurasia Group em relatório.

Um tribunal dos Estados Unidos ordenou que a Argentina pague para detentores de bônus do país um total de 1,3 bilhão de dólares até 15 de dezembro. A aposta da consultoria e de outros bancos é de que o país deve apelar da decisão, podendo levar o assunto para a Suprema Corte dos Estados Unidos, para postergar o pagamento. “Um calote técnico é muito provável, a não ser que a decisão mude antes de 15 de dezembro”, escreveram os analistas da Eurasia em relatório.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaArgentinaCristina KirchnerDívidas de paísesPolíticos

Mais de Economia

Justiça proíbe financeiras de bloquearem celulares dados em garantia para empréstimos

Banco Central divulga incidente de segurança envolvendo dados cadastrais de chaves Pix

IPCA de abril desacelera e fica em 0,43%; inflação acumulada de 12 meses sobe para 5,53%

BC limita valores entre registradoras de recebíveis de cartões; veja o que muda