Economia

A professor da USP, Guedes diz que vai se "dedicar" à reforma tributária

Esperada discussão sobre reforma tributária começa a ganhar corpo no Congresso, em comissão mista de deputados e senadores

Paulo Guedes: reforma tributária é uma das prioridades do governo neste ano (Wilson Dias/Agência Brasil)

Paulo Guedes: reforma tributária é uma das prioridades do governo neste ano (Wilson Dias/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de março de 2020 às 07h42.

Última atualização em 5 de março de 2020 às 07h48.

São Paulo — O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a sua linha de ação, a partir de agora, é "se dedicar e se empenhar" fortemente pela aprovação da reforma tributária. O relato foi feito ao professor titular de Direito Tributário da Universidade de São Paulo (USP), Heleno Torres, durante reunião no Ministério da Economia.

Torres foi convidado pelo ministro a ir a Brasília para falar sobre a reforma depois que, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, alertou que as propostas de reforma que estão no Congresso são inviáveis. A entrevista teve grande repercussão e alimentou, dentro e fora do Congresso, o debate sobre os rumos da reforma.

Nesta quarta-feira, 4, a Comissão Mista da Reforma Tributária se reuniu pela primeira vez para analisar duas Propostas de Emendas Constitucionais, a 45 e a 110, que tratam sobre o tema.

A polêmica sobre a reforma ganhou força porque o Congresso instalou a comissão mista informal que vai buscar convergência entre as duas propostas que tramitam na Câmara e no Senado.

Ao Estado, Torres informou, após a reunião, que sugeriu a Guedes que apoiasse a proposta de fazer a reforma de simplificação tributária sem aprovação das Propostas de Emenda Constitucional (PECs), mas por via de lei ordinária e de lei complementar.

Para aprovar uma PEC são necessários três quintos de aprovação na Câmara (308 dos 513 deputados) e no Senado (49 de 81 votos). Já a aprovação de uma lei complementar exige maioria absoluta (mais do que 257 deputados e 41 senadores), enquanto que, para aprovar uma lei ordinária, basta maioria simples dos presentes.

Heleno disse que Guedes ficou de conversar com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sobre a viabilidade da proposta.

Segundo ele, Guedes está "muito animado" e disse que está, mais do que tudo, decidido "a assumir" a reforma tributária. "Ele falou: eu já entreguei a reforma da Previdência, estamos fechando a administrativa que está indo ao Congresso e, agora, vou me empenhar e me dedicar fortemente à reforma tributária", relatou Heleno.

De acordo com o tributarista, foi Guedes que quis ouvir a sua proposta de fazer a mudança sem mexer na Constituição. A proposta de Heleno pressupõe duas frentes: um projeto de lei ordinária para criar um tributo federal em substituição ao PIS/Cofins e um projeto de lei complementar para criação de outro tributo no lugar do ICMS.

A proposta é semelhante à que Guedes vem defendendo desde o ano passado: a do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) dual (um apenas com impostos federais e outro incluindo tributos estaduais e municipais), mas que enfrenta resistências das lideranças da Câmara, sobretudo do seu presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que colocaram capital político na PEC 45 de autoria do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), desenhada pela equipe do economista Bernard Appy, do Centro de Cidadania Fiscal.

Para Torres, essa mudança poderia ser feita por meio de leis ordinária e complementar, sem necessidade de alterar a Constituição. Isso daria celeridade ao processo, que poderia ser aprovado até maio com um acordo na comissão mista formada nesta quarta-feira. Segundo Torres, Guedes disse que o projeto do PIS/Cofins do governo será enviado nos próximos dias ao Congresso para impulsionar a reforma tributária. "Ele me disse que, em respeito ao Congresso, o trabalho do Ministério da Economia e do Congresso têm que andar de forma concomitante", afirmou o professor da USP.

Para Torres, há espaço para a mudança de estratégia no Congresso e acabar com as PECs. "O debate está totalmente aberto. Os municípios não aceitam perder o ISS", afirmou. Heleno Torres informou também que a Associação Brasileira das Capitais divulgará nota pela qual apontará que não aceita a reforma por meio das PECs. Ele ressaltou que os setores de serviços e parte do comércio não estão concordando com as PECs que estão no Congresso.

Na defesa do caminho mais curto para a reforma tributária, o professor da USP disse que o Brasil não pode esperar o tempo maior exigido pelas PECs, que precisarão ainda de outras leis para serem implementadas. "Ainda teríamos que esperar a edição de todas as leis complementares e ordinárias da União e dos Estados. Isso vai demorar muito", disse.

Procurado, o Ministério da Economia não quis se manifestar.

Acompanhe tudo sobre:Câmara dos Deputadoseconomia-brasileiraReforma tributáriaSenado

Mais de Economia

MP do crédito consignado para trabalhadores do setor privado será editada após o carnaval

Com sinais de avanço no impasse sobre as emendas, Congresso prevê votar orçamento até 17 de março

Ministro do Trabalho diz que Brasil abriu mais de 100 mil vagas de emprego em janeiro

É 'irrefutável' que vamos precisar de várias reformas da previdência ao longo do tempo, diz Ceron