"Vejo perda de competitividade, a possibilidade do encerramento dessas empresas, e pior ainda, empresas que poderão se aventurar pelo campo da não tributação, da sonegação", diz Roberto Ordine (Exame/YouTube/Reprodução)
Publicado em 23 de abril de 2025 às 12h10.
Última atualização em 23 de abril de 2025 às 12h56.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) estuda apresentar uma emenda parlamentar ou um recurso infraconstitucional para garantir que as empresas do Simples Nacional continuem tendo acesso a créditos tributários. Com a reforma tributária, os micro e pequenos negócios do regime não terão esse direito e, com isso, "perderão competitividade", afirma o presidente da entidade, Roberto Ordine, em entrevista ao Macro em Pauta – edição especial Reforma Tributária –, da EXAME.
Ordine destaca que a manutenção do crédito tributário para as empresas do Simples Nacional é hoje a principal preocupação da ACSP, uma vez que os demais ajustes poderão ser feitos ao longo da regulamentação da reforma.
Ele considera fundamental que seja criado um mecanismo que assegure a essas empresas algum tipo de compensação ou direito ao crédito. "Temos de reivindicar isso, seja por meio de uma legislação específica, seja por meio de um sistema compensatório", diz.
Atualmente, dentro da complexidade tributária vigente, quando uma empresa do Simples Nacional presta serviços ou vende produtos a uma empresa maior, gera crédito para a contratante de 9,25%. Mas com a reforma essa possibilidade deixará de existir, tornando o Simples menos atrativo, segundo o presidente da ACSP.
A mudança preocupa especialmente os negócios intermediários entre indústria e comércio, como atacadistas e distribuidores de pequeno porte.
"Essas empresas estão travadas e isso não é justo. As que vendem diretamente para o varejo podem até ter uma sobrevida, mas perderão competitividade, porque o preço delas não será o mesmo preço de uma empresa maior que tenham a possiblidade de se creditar e debitar dos impostos", afirma Ordine.
Sem o direito ao crédito tributário, o presidente da ACSP avalia que as empresas do Simples Nacional enfrentarão um aumento significativo nos preços de seus produtos e serviços, tornando-se menos competitivas em relação a empresas que podem se creditar e debitar impostos ao longo da cadeia produtiva.
"Imagine um pequeno empresário que compra mercadorias pagando uma alíquota de 26% ou 27%, sem direito a crédito. Ele terá de repassar esse custo ao preço final, enquanto uma empresa maior consegue compensar esse valor. Como ele vai concorrer?", diz.
O Simples Nacional é previsto para as micro ou pequena empresa que faturam até R$ 4,8 milhões ao ano.
Ao optar por esse regime, o empresário paga vários impostos em uma única guia, chamada DAS (Documento de Arrecadação do Simples Nacional). Com isso, tributos como IRPJ, IPI, CSLL, Cofins, PIS/Pasep, CPP, ICMS e ISS são todos pagos de uma vez, simplificando o processo. Ordine defende que o regime de simplificação foi criado não como uma renúncia fiscal, mas como um mecanismo de inclusão social para formalizar pequenos negócios e estimular o crescimento.
Esse processo, porém, fica em risco com o novo sistema de impostos, acredita o presidente da ACSP. "Vejo perda de competitividade, a possibilidade do encerramento dessas empresas, e, pior ainda, empresas que poderão se aventurar pelo campo da não tributação, da sonegação", afirma ele, resumindo a reforma a algo que "não era o que imaginávamos".
Além da questão do crédito tributário, outra preocupação da Associação Comercial é o mecanismo de split payment, que ainda não foi regulamentado.
Segundo Ordine, o modelo pode gerar problemas de fluxo de caixa para empresas que precisam administrar pagamentos de tributos e compromissos financeiros simultaneamente. "Não está claro como isso será aplicado. Se o imposto for recolhido no momento da transação, mas a empresa não receber o pagamento do comprador, como ficará essa situação?".
Para o presidente da ACSP, o período de transição para o novo sistema tributário será mais complexo do que o previsto e pode resultar em judicialização. "Fala-se em um ou dois anos para o início do novo sistema, mas não acredito que isso ocorrerá sem grandes desafios", finaliza Roberto Ordine.