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Alckmin se reúne com ministro de Comércio dos EUA nesta quinta; saiba o que esperar

Relatório aponta que importação de etanol dos EUA pode crescer até cinco vezes sem tarifas; governo dos EUA quer reciprocidade tarifária

Etanol do Brasil: entenda o que está em jogo com a mudança tarifária dos EUA (Leandro Fonseca/Exame)

Etanol do Brasil: entenda o que está em jogo com a mudança tarifária dos EUA (Leandro Fonseca/Exame)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 6 de março de 2025 às 09h59.

Última atualização em 6 de março de 2025 às 10h04.

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O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, se reúne nesta quinta-feira, 6, com o ministro de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, para tratar da relação entre os países. Entre os temas, espera-se uma conversa para realinhar as tarifas impostas pelos EUA sobre a importação do etanol do Brasil. A reunião ocorre às 17h30, no Palácio do Planalto, após crise tarifária entre os dois países.

Em fevereiro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um memorando que determina a criação de tarifas recíprocas a países que aplicam taxas sobre produtos norte-americanos. Um dos principais exemplos citados foi a tarifa de 18% sobre o etanol americano.

Entidades de produtores americanos demonstraram apoio ao presidente e fizeram críticas sobre a postura do Brasil, à qual consideram "injusta". "Há quase uma década, temos gasto tempo e recursos preciosos combatendo um regime tarifário injusto imposto pelo governo do Brasil sobre as importações de etanol dos EUA", disse a Renewable Fuels Association, em comunicado.

A entidade diz que os dois países tiveram uma relação comercial pacífica e cooperativa por vários anos, com um país suprindo o outro em momentos de escassez, mas que a situação mudou em 2017.

Os EUA cobram tarifas de 2,5% sobre a importação o etanol brasileiro. "Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto exportaram apenas US$ 52 milhões para o Brasil", diz um comunicado de fevereiro do Governo dos EUA.

Além do etanol, o governo brasileiro deve tratar das tarifas impostas nesse início de ano à exportação de aço e alumínio brasileiro para os EUA, que impôs uma tarifa de 25% para os produtos. A nova alíquota deve passar a vigorar na próxima semana. O aço é o segundo item mais exportado pelo Brasil para o país.

Em entrevista ao Estadão, o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, afirmou esperar que o País recompoonha o acordo de cotas de exportação fechado em 2018 com os americanos, na primeira gestão de Donald Trump.

Segundo ele, a ideia é estabelecer "canais de comunicação". "O governo brasileiro está de fato empenhado em negociar e o ministro já se colocou dessa forma, formalmente. Nossa expectativa é que a gente possa recompor um acordo que é bom para a siderurgia brasileira, mas é bom para a siderurgia americana também”, disse ao Estadão/Broadcast.

O que muda no mercado brasileiro?

Um relatório da Datagro Consultoria revelou em fevereiro que, se o Brasil eliminar as tarifas sobre as importações de etanol dos Estados Unidos, o biocombustível americano pode ganhar espaço no Nordeste, região com déficit de oferta, pressionando os preços internos e impactando o mercado do Centro-Sul, principal polo produtor de etanol do país.

"Caso o Brasil ceda à pressão de Trump, o mercado, sobretudo o nordestino, seria inundado pelo etanol norte-americano, o que pressionaria para baixo os preços do etanol ao produtor em todo o país, uma vez que também afetariam as transferências de etanol da região Centro-Sul para o Norte-Nordeste, cujo volume médio gira em torno de 1 bilhão de litros ao ano", diz o economista Bruno Wanderley, da Datagro Consultoria. “O Brasil precisa ponderar sobre uma possível redução ou eliminação da tarifa sobre o etanol dos EUA. Com a derrubada dessa taxa, o volume de importação do biocombustível americano pode crescer até 5 vezes.”

O estudo mostra, ainda, que desde 2021, as importações brasileiras de etanol dos EUA caíram para 247 milhões de litros ao ano, enquanto as exportações do Brasil para os EUA ficaram em 309 milhões de litros anuais. No Brasil, o etanol de cana responde por 78% da oferta total de etanol no país, enquanto o de milho, por 22%.

No entanto, com a expansão da produção americana e preços mais competitivos, os EUA aumentaram suas exportações globais em 34,8% em 2024, enquanto o Brasil reduziu suas vendas externas em 25%, impactado pelos altos custos do etanol de cana e pelo aumento do mix de açúcar (proporção da cana-de-açúcar destinada à produção de açúcar em relação à de etanol em uma usina).

Tarifas ainda sem prazo

Na segunda-feira, 10, Trump não assinou uma ordem executiva, que permitiria aplicar as tarifas de forma imediata, mas um memorando presidencial, que orienta os departamentos (equivalente a ministérios) do governo dos EUA a estudarem casos em que a relação comercial esteja desequilibrada e quais formas de aplicar tarifas para balancear a situação na visão dos EUA.

Tampouco foi determinada uma data para que as tarifas possam ser implantadas. Lutnick disse que os estudos devem ser concluídos até 1º de abril. Além disso, um relatório sobre o tema deverá ser entregue até agosto. As novas taxas poderão ser aplicadas antes disso — ou depois, o que torna o cenário ainda mais incerto.

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