Economia

Anfavea pressiona governo para aumentar em duas vezes a alíquota de importação de elétricos

Imposto está fixado em 18% e entidade quer o aumentar para 35%; associação critica volume recorde de carros chineses no Brasil

Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) voltou a cobrar do governo federal  (Leandro Fonseca/Exame)

Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) voltou a cobrar do governo federal (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 5 de março de 2025 às 19h37.

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A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) voltou a cobrar do governo federal um aumento imediato da alíquota de importação sobre veículos elétricos e híbridos para 35%, patamar que vigorava antes da redução promovida em julho de 2024. Atualmente, o imposto está fixado em 18% para elétricos, 20% para híbridos plug-in e 25% para híbridos convencionais.

O pedido da entidade ocorre após a chegada de mais de 5,5 mil veículos chineses no final de fevereiro e diante do estoque acumulado de 40 mil unidades importadas. Segundo a Anfavea, a política atual favorece um crescimento desenfreado das importações, prejudicando a produção nacional e ameaçando investimentos de longo prazo.

“Há um ano alertamos o governo sobre a necessidade de recompor a alíquota de 35% para evitar um desequilíbrio no comércio exterior que pode comprometer a produção, os investimentos e os empregos na cadeia automotiva brasileira”, afirmou a associação em nota divulgada nesta quarta-feira, 5.

Brasil como alvo de exportações chinesas

O Brasil se tornou um dos principais destinos de veículos elétricos fabricados na China, principalmente por conta das barreiras tarifárias mais elevadas impostas por outros mercados. Nos Estados Unidos e Canadá, a taxa de importação para veículos chineses chega a 100%, enquanto na Europa pode alcançar 48%.

Segundo a Anfavea, esse cenário faz com que o mercado brasileiro se torne um alvo fácil para montadoras chinesas, cujos produtos enfrentam maiores restrições em países concorrentes. Apenas em 2024, foram vendidos no Brasil mais de 120 mil veículos importados da China, um volume três vezes maior do que em 2023. Além disso, 55 mil unidades permaneceram em estoque no país ao final do ano passado.

Indústria local em risco

O setor automotivo brasileiro anunciou mais de R$ 180 bilhões em investimentos nos últimos anos, grande parte destinada ao desenvolvimento de veículos eletrificados. Além disso, o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover) prevê um investimento adicional de R$ 60 bilhões para pesquisa e desenvolvimento no setor.

Para a Anfavea, sem uma proteção tarifária adequada, esses investimentos podem ser comprometidos. A indústria automotiva no Brasil gera 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos, e a entidade alerta que a continuidade das importações em larga escala pode impactar negativamente a cadeia produtiva nacional.

“Apoiamos a chegada de novas marcas ao Brasil, desde que haja compromisso com a produção local, geração de empregos e fortalecimento da indústria de autopeças. O que vemos, no entanto, são sucessivos adiamentos dos planos de fabricação no país”, diz a Anfavea, reiterando o pedido ao governo para a recomposição da alíquota de importação.

Investigação sobre dumping

Além da pressão pelo aumento da alíquota, a Anfavea estuda apresentar ao Ministério do Desenvolvimento um pedido para investigar a prática de dumping na importação de veículos chineses. A suspeita é que os modelos estejam sendo vendidos no Brasil a preços abaixo do custo de produção, uma estratégia para ganhar participação de mercado e enfraquecer a concorrência local.

A associação também estima que o país tenha deixado de arrecadar R$ 6 bilhões em tributos em 2024, devido à tributação reduzida sobre os veículos elétricos importados.

Montadoras chinesas aceleram expansão no Brasil

Enquanto a Anfavea pressiona por restrições, marcas chinesas continuam expandindo sua presença no país. A BYD, que vendeu 76.713 veículos no Brasil em 2024, um aumento de 327% em relação a 2023, planeja iniciar a produção local ainda neste semestre. Sua fábrica em Camaçari (BA) terá capacidade para 150 mil veículos por ano na primeira etapa e até 300 mil na segunda.

Já a GWM, outra montadora chinesa, comercializou 29.218 veículos no Brasil no ano passado, um crescimento de 154% na comparação com 2023, e deve iniciar operações locais ainda este ano.

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