Inovação: fundadores de VCs e startups debatem o futuro da IA no Brasil e as maiores oportunidades (João Melhado/ Loft/Divulgação)
Editor de Macroeconomia
Publicado em 15 de maio de 2025 às 08h41.
NOVA YORK* - O Brasil teve avanços de inovação no setor financeiro nos últimos anos. Mas duas áreas ainda concentram algumas das maiores oportunidades de transformação no Brasil: a saúde e a eficiência da máquina pública. A avaliação é de alguns dos principais nomes do ecossistema de venture capital e startups do país, reunidos em um painel recente sobre o futuro do empreendedorismo.
“Eu vi muitas mudanças nos serviços financeiros, vi algumas na educação. Mas não vi nenhuma mudança na saúde. Temos um enorme problema no setor. As operadoras de saúde estão quebradas, o serviço é ruim e a população está envelhecendo. Essa combinação coloca enorme pressão sobre as contas públicas”, afirmou Martin Escobari, diretor-geral da General Atlantic, durante um painel em evento do Financial Times sobre o Brasil durante a Brazil Week nesta quarta-feira, 14.
Escobari estava acompanhado de grandes nomes do setor de capital de risco, como Cesar Carvalho, CEO e co-fundador da Wellhub, Hernán Kazah, managing partner e co-fundador, da Kazek, e Mate Pencz, CEO da Loft e fundador da Canary. Somados, esses fundos administram bilhões de dólares.
Segundo o CEO da General Atlantic, há consenso de que a tecnologia pode ser parte da solução para melhorar o cuidado, reduzir custos e evitar desperdícios na saúde.
“Precisamos entrar no funcionamento interno dos hospitais e das operadoras de saúde, assumir riscos, alinhar incentivos e eliminar o desperdício. Há muito desperdício. É uma oportunidade gigantesca”, disse.
Outro setor que representa um desafio — e também uma grande chance de inovação — é o próprio governo. “O único setor que rivaliza com a saúde em escala, tamanho, ineficiência e desperdício é a máquina pública brasileira. Estamos falando de algo entre 30% e 35% do PIB, espalhado por diferentes níveis de gasto público”, disse Pencz, CEO da Loft.
Os investidores acreditam que há espaço para empreendedores dispostos a jogar um jogo de longo prazo, criando empresas que facilitem a interação entre cidadãos, negócios e o Estado.
"Construir soluções usando inteligência artificial e aplicações de atendimento ao cliente de classe mundial ou das melhores do mercado vai gerar muito valor — tanto para as empresas quanto para o governo e, em última instância, para o usuário final", afirmou Pencz.
Apesar das críticas, o governo brasileiro também recebeu elogios por sua atuação recente em áreas como o sistema de pagamentos. O Pix foi citado diversas vezes pelos empreendedores como exemplo mundial de liderança estatal em inovação.
“O que o Banco Central fez com o Pix é de classe mundial”, disse Kazah, da Kazek.
Para ele, a inovação do regulador ajudou todos os empreendedores que estavam desenvolvendo soluções nesse mercado. "E hoje o Brasil é número um, eu diria, em fintechs — pelo tipo de inovação que vemos vindo do país. Acho que esse é o ponto. O governo foi realmente um facilitador e um catalisador desse processo", afirmou.
Para Kazah, a inovação no setor financeiro brasileiro se deu em três camadas distintas e complementares: o acesso do consumidor final a serviços antes inacessíveis (B2C), a oferta de crédito e soluções entre empresas (B2B), e avanços em infraestrutura, como o Pix.
Agora, com o avanço da inteligência artificial, Kazah acredita que o país está diante de uma nova onda de transformação.
“Hoje, você pode ter um agente de IA que diga exatamente qual é a carteira certa para o seu perfil de risco”, disse Kazah. Para ele, a combinação dessas três camadas com o uso crescente de IA “vai nos levar a um patamar completamente diferente”.
Segundo o investidor, mesmo com os avanços já realizados, o potencial de inovação no setor financeiro brasileiro está longe de se esgotar.
Em um balanço sobre o desenvolvimento do setor nos últimos anos, dois fatores se combinam, na avaliação de Escobari, da General Atlantic, para o sucesso de inovação e tecnologia no Brasil: a alta taxa de digitalização da população e a ineficiência de serviços públicos e privados.
"De um lado, o Brasil é extremamente digital. De outro, o Brasil analógico é muito ruim, as coisas não funcionam. Se você consegue construir uma solução digital para problemas analógicos, é possível fazer muito dinheiro", afirmou.
Carvalho, da Wellhub, apontou que as condições para começar iniciativas de tecnologia melhoraram muito desde que iniciou sua jornada, há 12 anos. "Mal havia um ecossistema. Tínhamos fundadores de 'primeira viagem' e o capital era escasso. Não havia saída para grandes companhias e IPOs", afirmou.
Hoje, avaliou, há fundadores mais experientes, com ambições globais em alguns casos e muito mais fundos disponíveis.
Com a inteligência artificial ganhando espaço em todos os setores, os investidores alertam que o momento de agir é agora. “Se você tem uma estratégia de IA, já está atrasado. Você tem que estar implementando. Em breve, toda empresa será, de alguma forma, uma empresa de IA”, afirmou Kazah.
*O jornalista viajou a convite da Apex Partners