Economia

BC mantém tom duro — e as dúvidas sobre início do ciclo de cortes da Selic

Mercado se divide entre analistas que preveem início do ciclo de cortes em janeiro ou em março do próximo ano

BC: economistas se dividem sobre corte em janeiro ou março (Adriano Machado/Reuters)

BC: economistas se dividem sobre corte em janeiro ou março (Adriano Machado/Reuters)

Publicado em 5 de novembro de 2025 às 20h13.

O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na decisão desta quarta-feira, 5, que manteve a taxa de juros em 15% ao ano, reforçou o tom duro e não deu pistas sobre quando o início do ciclo de cortes da Selic começará, segundo economistas consultados pela EXAME.

O mercado esperava algum ajuste no texto, que indicaria uma redução da taxa de juros na primeira reunião de 2026, em janeiro. Com poucas mudanças, os analistas se dividem sobre quando o ciclo começará.

“Entendo que começará em janeiro, porque as expectativas estão convergindo e a atividade já está esmorecendo, nitidamente, o que fundamentaria o início do ciclo de queda. Mas é incerto e, não há como negar, o tom do comunicado segue bastante duro”, diz economista-chefe da Warren Brasil, Felipe Salto.

Segundo ele, o texto reconhece a melhora da inflação, mas também “aponta que as expectativas ainda estão acima da meta” e a indicação de que continuarão com o mesmo patamar de juros ainda por algum tempo se manteve.

“O calcanhar de Aquiles é o fiscal. A segurança para um ciclo de redução da Selic seria maior na presença de um quadro interno mais sólido nas contas públicas”, afirma.

O governo corre para aprovar as medidas no Congresso para cobrir o rombo de R$ 46 bilhões nas contas públicas em 2025 e 2026.

Parte das iniciativas foram aprovadas na Câmara, e o restante, como a taxação de bets e fintechs, deve avançar no Senado na próxima semana.

Para Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, a grande novidade do comunicado foi a projeção de inflação do BC para o prazo relevante da política monetária (de 18 meses) já está em 3,3%, bem próxima do centro da meta (de 3,0%).

“No comunicado, houve pouca mudança, com uma maior confiança na atual estratégia, mas mantendo o tom duro e indicando a manutenção da taxa no atual patamar por período bastante prolongado”, afirma.

A avaliação da economista é que o comitê reconheceu a manutenção do atual cenário de câmbio favorável e desaceleração da atividade, com uma queda da inflação consistente, ainda que lenta, observada tanto em bens como serviços.

A projeção de Vitória é que o início dos cortes na Selic deve ocorrer a partir de janeiro de 2026, também afirmando que o fiscal e as eleições do próximo ano são um risco para a tomada de decisão do Copom.

O diretor de pesquisa macroeconômica do Banco Pine, Cristiano Oliveira, afirma que não há sinalização no comunicado do Copom sobre os próximos passos da política monetária. Para ele, a decisão apenas elimina a chance de queda da taxa Selic em dezembro, aposta de parte minoritária do mercado.

“Mantemos a expectativa de início de ciclo de afrouxamento monetário a partir da primeira reunião do BC de 2026, dada a comunicação recente dos membros do Copom”, diz Oliveira.

Lucas Lima, analista da Aware Investments, avalia que o comunicado manteve um tom mais hawkish, com os juros em patamar elevado por “período bastante prolongado”.

Por isso, o analista afirma que aumentam as probabilidades de início de um ciclo de cortes apenas a partir de março.

“Diante das incertezas fiscais e da contínua desancoragem das expectativas de inflação, apesar de alguns dados recentes mais favoráveis, aumentam as probabilidades de início de um ciclo de cortes apenas no segundo trimestre de 2026”, afirma.

Para Julio Barros, economista do Banco Daycoval, o comitê manteve o tom duro dizendo que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue necessário. Mas reconheceu que a estratégia de manutenção do nível corrente dos juros por período bastante prolongado é suficiente para a convergência da inflação à meta.

"Diante disso, entendemos que a probabilidade do início do ciclo de cortes em janeiro passa a ser baixa", diz trecho de relatório.

Na última segunda, o Boletim Focus apresentou nova queda nas expectativas para o IPCA. A mediana das projeções de 2025 caiu de 4,56% para 4,55%, mantendo a trajetória de desinflação gradual, próxima do teto da meta -- que é de 3% com uma faixa de tolerância de 1,5% a 4,5%. As expectativas para 2026 e 2027 também caíram nos últimos boletins.

Governo pressiona por corte da Selic

Apesar da avaliação do mercado, o governo, porém, pressiona para que o Banco Central inicie os cortes nos juros, nem que isso se inicie no próximo ano.

Na véspera da reunião, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que se fosse o presidente do Banco Central votaria pela queda da taxa de juros, que está em 15% ao ano.

Haddad disse que a economia está melhor do que quando o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu o mandato e que não há motivos para que a Selic permaneça tão alta.

Nos dois primeiros anos de governo, o então presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi alvo de diversas críticas do presidente Lula (PT) pela manutenção da Selic em um patamar que dizia considerar muito alto. Agora, no entanto, a instituição financeira é presidida por Gabriel Galípolo, indicado pelo petista.

A expectativa é de que o escolhido de Lula atue em linha do que defende a equipe econômica. O início dos cortes é considerado importante também do ponto de vista político para que o chefe do Executivo explore a tendência de juros menores nos discursos de campanha do ano que vem.

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