Economia

Com isenções, impacto da tarifa de Trump cai para 0,13 p.p do PIB, estimam bancos

Itens brasileiros exportados para os Estados Unidos, como suco de laranja, minérios, petróleo e avião, não terão a taxação adicional de 40%, segundo ordem executiva de Trump

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 31 de julho de 2025 às 06h04.

Última atualização em 31 de julho de 2025 às 17h47.

A decisão do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em isentar quase 700 produtos brasileiros da tarifa de 50% reduzirá o impacto negativo no Produto Interno Bruto (PIB) do país, estimam analistas. Projeções iniciais apontavam para uma queda entre 0,3 e 1,5 ponto percentual na economia brasileira com a taxação de produtos exportados.

Agora, a expectativa é para uma redução entre 0,13 e 0,15 ponto percentual em 2025. O Boletim Focus projeta que o PIB crescerá 2,23% neste ano. 

Itens brasileiros exportados para os Estados Unidos, como suco de laranja, minérios, petróleo e avião, não terão a taxação adicional de 40%, segundo ordem executiva de Trump. A medida entrará em vigor em sete dias, no dia 6 de agosto.

O governo americano havia anunciado taxa mínima de 10% para o Brasil em 2 de abril. Os produtos isentos agora ficarão com a taxa de 10%.

Impacto diferenciado por setor

Segundo cálculos do banco Daycoval, com a tarifa, as exportações serão reduzidas em quase US$ 3 bilhões, com impacto de 0,13 p.p.

Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco, afirma que o efeito das isenções é expressivo no grupo de combustíveis e lubrificantes, onde praticamente 100% das exportações brasileiras ficaram livres da tarifa. Isso praticamente zera qualquer impacto negativo sobre esse setor.

O economista avalia ainda que os bens de consumo, especialmente os não duráveis, como alimentos, e, em menor escala, os duráveis — como eletrônicos — foram as categorias menos beneficiadas pelas isenções, com apenas 19% e 3% das exportações poupadas da tarifa, respectivamente.

“Por serem produtos finais, esses segmentos seguem mais expostos ao novo choque tarifário”, diz Cardoso.

Já nos cálculos da XP, as tarifas podem reduzir o crescimento do PIB do Brasil em cerca 0,15 p.p. em 2025, um cenário melhor do que o esperado, na avaliação do banco.

As projeções do banco é para uma redução de US$ 4 bilhões das exportações, mas com o alerta que as negociações podem avançar entre os países para mais itens entrarem na lista de exceções.

Na terça-feira, 29, o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, já havia afirmado que produtos não produzidos internamente pelos EUA podem entrar no país com tarifa zero.

Senadores brasileiros que fizeram missão em Washington para encontrar com parlamentares americanos afirmam que houve uma sinalização de produtos não cultivados pelos americanos, como café a manga, poderiam ser isentos.

Impacto na inflação

Segundo relatório da XP, o impacto no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá ser leve e temporário, uma vez que itens como café e carne, encontrarão demanda em outros mercados globais, acessarão o mercado dos EUA indiretamente ou serão absorvidos a preços mais altos (como a carne moída).

"Não esperamos um impacto significativo e persistente sobre a inflação anual do consumidor. No curto prazo, podemos observar deflação material em frutas, como o caso amplamente discutido das mangas. No entanto, o impacto deve dissipar-se dentro de alguns meses", afirma.

Em decisão que manteve a taxa de juros em 15% ao ano, o Comitê de Política Econômica (Copom) sinalizou que o tarifaço reduzirá a inflação no curto prazo. 

Julia Gama, analista do banco BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), avalia que o saldo positivo para o governo é visível.

"O governo tem a possibilidade de manter a narrativa que tem ajudado a alavancar a popularidade de Lula e sem necessidade de grandes esforços, fiscais ou políticos, para mitigar os danos que um tarifaço de maior magnitude poderia requerer", afirma.

Lista de isenções

A lista de isenções ao aumento, e que seguirão com tarifa de 10%, representaram 42,3% do total das exportações do Brasil para os EUA em 2024, nas contas da Amcham, a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Combustíveis de petróleo, aviões, minérios e suco de laranja escaparam da nova cobrança.

Nos outros 57,7% que serão taxados em mais 50%, há itens importantes, como café e carne. A nova taxa é cumulativa às anteriores, assim, a carne passará de 26% para 76%, um percentual que deve inviabilizar as vendas para os americanos, como disse Roberto Perosa, diretor da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), em entrevista à EXAME, na véspera do anúncio.

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