Conflito Israel e Irã: aumento das tensões pode resultar no petróleo a três digitos (MEGHDAD MADADI / TASNIM NEWS/AFP)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 14 de junho de 2025 às 06h01.
A escalada do conflito entre Israel e o Irã poderá ter efeito na economia global e impactar os preços de produtos no Brasil, como os combustíveis, e aumentar o custo da logística, segundo analistas ouvidos pela EXAME. A perspectiva é que se o conflito avançar para uma guerra total, o petróleo possa atingir US$ 150 ou mais.
O aumento nas tensões no Oriente Médio resultou em uma alta de 7,02% do petróleo tipo Brent (referência mundial), com o barril chegando a US$ 74,23 nesta sexta, 13. Na semana, a commodity teve valorização de 12,37%.
O Irã é um importante produtor de petróleo, com geraçao de 3,3 milhões de barris diários. O país representa quase 5% de toda a produção mundial.
David Fyfe, economista-chefe da Argus, afirma que a perspectiva é que os preços permaneçam elevados, com possibilidade de bater US$ 85 por barril do tipo Brent, enquanto a incerteza acerca do risco de uma guerra completa entre os dois países do Oriente Médio e o possível envolvimento dos Estados Unidos.
Fyfe diz que enquanto não existir um bloqueio do Estreito de Ormuz, região que passa 21% de todo o petróleo do planeta, outros produtores da Opep+ podem ser incentivados a aumentar a oferta para conter a tendência ascendente dos preços do petróleo.
Caso poços ou plataformas forem atacados, o que até o momento não ocorreu, o preço do petróleo pode passar de três dígitos.
"Ataques contundentes à infraestrutura petrolífera regional ou um bloqueio total do Estreito de Ormuz poderiam levar o preço do petróleo para três dígitos (US$ 150 ou mais), mas esse quadro não é considerado altamente provável", afirma.
Segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, no curto prazo, a alta do petróleo alimenta preocupações inflacionárias. O especialista afirma que cada acréscimo de US$ 10 por barril tende a elevar a inflação em cerca de 0,2 ponto percentual.
A busca por segurança impulsiona a moeda americana, pressionando mercados emergentes. Se essa tendência se mantiver, podemos ver mais volatilidade cambial nas próximas sessões, relevante para países como o Brasil”, diz.
Sobre o impacto para além do mercado financeiro, Pedro Ros, analista e CEO da Referência Capital, afirma que a disparada do petróleo tende a pressionar diretamente os custos logísticos e operacionais no Brasil, em especial em setores dependentes de transporte rodoviário e importações.
"Esse tipo de choque externo pode gerar efeitos indiretos sobre a inflação e sobre o poder de compra da população", afirma.
Até o momento, Israel não realizou ataques diretos aos poços e plataformas de petróleo iraniano. Os analistas afirmam ainda que é necessário observar as próximas movimentações para entender o tamanho do impacto.
Sérgio Araujo, presidente executivo da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), diz que ainda existe muita especulação e é recomendável aguardar a estabilização do mercado, que deve ocorrer nos próximos dias, para verificar os novos patamares dos preços do petróleo e de seus derivados.
Araujo diz que não é previsto um impacto imediato nos preços dos combustíveis no Brasil, mas caso a tensão persista, existirá a tendência é de aumento dos preços no mercado internacional e consequente aumento nos preços dos produtores privados nacionais e, também, dos produtos importados.
"Poderá haver aumentos nos preços dos derivados de petróleo, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, que são menos abastecidas por produtos da Petrobras", afirma.
Nas primeiras de sexta-feira, 13, no horário local (noite de quinta-feira no Brasil), a força aérea de Israel lançou um grande ataque contra o Irã. O bombardeio teve como alvo diversas instalações no território iraniano, incluindo locais associados ao programa nuclear do país.
Segundo as autoridades de Israel, o "objetivo da operação foi conter o avanço do programa nuclear iraniano". Explosões foram registradas em Teerã e em outras cidades iranianas, com várias instalações sendo atingidas. Vários nomes importantes para o governo iraniano foram mortos, como o chefe da Guarda Revolucionária do Irã, Hossein Salami, e o chefe das Forças Armadas iranianas, Mohammad Bagheri. Além disso, dois cientistas nucleares também foram mortos nos bombardeios.
Em resposta ao ataque, Irã lançou um ataque contra Israel e classificou os ataques como uma "declaração de guerra". Os danos estão sendo avaliados. Segundo o jornal "The New York Times", ao menos sete locais em Tel Aviv, capital do país, foram atingidos. A extensão dos danos ainda estava sendo avaliada. Houve também mísseis sobre Jerusalém. Boa parte dos mísseis, no entanto, foi barrada pelo sistema de defesa israelense.