Banco Central: diretores da autoridade monetária devem reconhecer piora do ambiente internacional no comunicado após reunião do Copom (Marcelo Casal/Agência Brasil)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 19 de março de 2025 às 06h00.
Última atualização em 19 de março de 2025 às 11h48.
O Comitê de Política Monetária (Copom) se reunirá nesta quarta-feira, 19, e deve elevar os juros para 14,25% ao ano, em decisão amplamente esperada pelo mercado. Entretanto, a dúvida entre analistas e investidores é sobre o tamanho do ciclo de alta da Selic.
Com a inflação pressionada, expectativas acima do teto da meta e incertezas externas, a questão para os analistas é se os diretores do Banco Central (BC) reduzirão o ritmo de alta da taxa e quando a autoridade monetária encerrará esse ciclo.
A expectativa é que essas dúvidas sejam sanadas com a divulgação do comunicado pós-Copom.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) deve manter a taxa básica de juros no intervalo entre 4,25% e 4,50% ao ano, conforme já precificado pelos mercados, afirmou o economista-chefe do banco Pine, Cristiano Oliveira.
Segundo ele, no entanto, investidores aguardam com atenção as projeções econômicas da autoridade monetária americana e a entrevista coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell, que pode sinalizar os próximos passos do banco central dos EUA.
"O impacto da nova administração Trump na economia global também adiciona volatilidade às expectativas de inflação e crescimento. Desde a posse, medidas protecionistas e declarações controversas do presidente dos Estados Unidos geraram incerteza, dificultando a condução da política monetária em diversos países, incluindo o Brasil", afirmou Oliveira.
No Brasil, as expectativas de inflação seguem desancoradas, com pressões de curto prazo. Segundo Oliveira, o principal motivo para a alta dos preços continua sendo a pressão dos alimentos e dos bens industriais, impactados pela depreciação cambial e pela demanda aquecida.
As expectativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 foram reduzidas de 2,06% para 1,99%, refletindo um ambiente de juros altos e maior incerteza econômica. Para 2026 e 2027, as projeções de crescimento econômico permanecem estáveis em 2%.
Segundo Oliveira, o Banco Central já havia indicado, na última ata, que o ambiente inflacionário adverso exigiria cautela redobrada. A sinalização foi reforçada pelo presidente da instituição, Gabriel Galípolo, que declarou, em evento realizado em fevereiro, que a política monetária já se encontra em um patamar bastante elevado de aperto monetário.
"Em nossa opinião, o comunicado deverá ressaltar o aumento da incerteza global com o início do governo Trump 2.0 e deve sinalizar que os próximos passos da política monetária são dependentes dos dados, mas que o Comitê adotará cautela redobrada por conta do aumento de riscos tanto para a atividade (baixistas) quanto para a inflação (altistas)", afirmou Oliveira.