Banco Central: com inflação corrente pressionada, expectativas acima do teto da meta e incertezas externas, o questionamento entre os analistas é se os diretores do BC reduzirão o ritmo de alta da taxa (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 17 de março de 2025 às 12h32.
Última atualização em 17 de março de 2025 às 15h32.
O Comitê de Política Monetéria (Copom) se reunirá na quarta-feira, 19, e deve subir os juros para 14,25% ao ano, em decisão amplamente esperada pelo mercado. Entretanto, a dúvida entre analistas e investidores é sobre o tamanho do ciclo de alta da Selic.
Com inflação corrente pressionada, expectativas acima do teto da meta e incertezas externas, o questionamento entre os analistas é se os diretores do Banco Central (BC) reduzirão o ritmo de alta da taxa e quando a autoridade monetária encerrará esse ciclo. A expectativa é que essas dúvidas sejam sanadas com a divulgação do comunicado pós-Copom.
Em relatório aos clientes, o diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, afirmou que dará atenção especial às previsões de inflação para o fim de 2025 e para o terceiro trimestre de 2026 que serão divulgadas pelo Copom na quarta, já que o horizonte relevante da política monetária considera o efeito dos juros 18 meses à frente.
“Essas previsões serão essenciais para calibrar a trajetória da taxa Selic e o tamanho do ciclo de aumento”, afirmou.
Segundo ele, é esperado que o BC reconheça no comunicado a deterioração adicional observada nas expectativas de inflação, além de apresentar projeções de inflação acima da meta e sinais mistos, mas no geral mais suaves, de atividade real.
“Dada a maior incerteza interna e externa, o Copom, provavelmente, dará a entender que o ciclo de aumento não terminou, mas a magnitude do aumento da taxa de juros será dependente dos dados, com o ciclo geral de aperto determinado pelo firme compromisso de atingir a meta de inflação”, disse.
O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, afirmou, em relatório, que o ciclo de alta de juros deve seguir avançando, mas será menos extenso.
Segundo ele, o Copom destacou nas últimas comunicações que a dinâmica da taxa de câmbio e do repasse cambial, bem como das expectativas de inflação serão crucias para determinar a extensão ciclo.
“Continuamos avaliando que as expectativas de inflação desancoradas, o hiato positivo, e as projeções do próprio BC são consistentes com a continuidade do ciclo de aperto monetário ao longo do 1º semestre todo. Mas, entendemos que, dada a acomodação da taxa de câmbio em patamares mais apreciados, o BC deve optar por um ciclo um pouco menor”, disse.
Diante desse contexto, Mesquita revisou a projeção para a Selic no fim de ciclo em 15,25% ao ano na reunião de junho, patamar que deve ser mantido até o final de 2025. Antes, ele esperava que a Selic chegaria 15,75% ao ano.
Além da alta de 1 ponto percentual na reunião da próxima quarta, ele espera duas altas de 0,5 ponto percentual nas deliberações de maio e junho. Para 2026, ele projeta cortes de juros ao longo do 1º semestre, o que levará a taxa para 13,25% ao ano.
Os economistas do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) Cláudio Ferraz, Bruno Martins e Bruno Balassiano afirmaram, em relatório aos clientes, que as comunicações do BC, desde janeiro, têm sido interpretadas como mais “dovish”.
Na prática, significa dizer que a autoridade monetária sinaliza que pode suavizar ou até encerrar o ciclo de alta de juros.
“Contudo, em nossa visão, dado o cenário ainda altamente desafiador para a convergência da inflação, com um hiato de produto positivo, inflação acima do limite superior da faixa de metas e expectativas altamente desancoradas, acreditamos que o ambiente atual ainda exige uma postura monetária mais restritiva”, afirmaram.
Além da alta de 1 ponto percentual esperada para a próxima quarta, eles projetam duas outras altas com a Selic terminando o ano em 15,25%.
“Reconhecemos, no entanto, que os riscos para o nosso cenário parecem inclinados para o lado negativo. Portanto, estaremos monitorando de perto a declaração pós-reunião e as atas de março. Uma comunicação mais aberta sugeriria uma menor disposição em estender o ciclo de aumentos”, afirmaram.