Economia

Custo do crédito ainda não reflete patamar histórico da Selic

O juro do cheque especial mais do que dobrou, apesar de bancos dizerem que cortaram taxas recentemente

Dinheiro: quem usa o limite da conta corrente, por exemplo, pagou em fevereiro juro anual de 324,1% (Foto/Thinkstock)

Dinheiro: quem usa o limite da conta corrente, por exemplo, pagou em fevereiro juro anual de 324,1% (Foto/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 8 de abril de 2018 às 09h06.

Brasília - Apesar de o juro fixado pelo Banco Central (BC) estar no menor patamar já visto, em 6,5%, o crédito está longe de ser o mais barato da história. Em todas as linhas bancárias mais populares para o consumidor, como crédito pessoal, veículos e cartão de crédito, a taxa atual é maior que a praticada no início de 2013. Naquele período, a taxa básica de juros (Selic) era maior (7,25%), mas o Brasil convivia com o menor custo de crédito verificado até hoje.

O juro do cheque especial mais do que dobrou. Bancos dizem que cortaram taxas recentemente, mas que é preciso atacar problemas com o poder público. Na terça-feira, os bancos devem anunciar regras para baratear o cheque. Números do BC mostram que nos últimos meses houve redução das taxas cobradas dos clientes diante dos cortes consecutivos do juro básico. A queda, porém, não foi suficiente para tirar a sensação dos consumidores de que o crédito continua caro. E os dados estatísticos confirmam essa percepção.

Quem usa o limite da conta corrente, por exemplo, pagou em fevereiro juro anual de 324,1%. É mais do que o dobro do verificado cinco anos antes, quando estava no patamar mínimo histórico, de 136,5%, em maio de 2013. O mesmo ocorre em outras operações. A taxa do cartão parcelado, que hoje está em 174,3%, era de 100,1% em abril de 2013. Também houve aumento no crédito pessoal e de veículos. Até o rotativo do cartão, que ganhou novas regras, está mais caro que há cinco anos.

"Em 2013, os bancos públicos reduziram juros na marra. A presidente Dilma Rousseff queria baratear o crédito e usou as estatais, mas os concorrentes não foram atrás", diz o coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Getulio Vargas, Rafael Schiozer. "Como os privados não seguiram, os públicos acabaram subindo o juro depois. Era uma situação artificial."

Ainda que, na média, grandes bancos estejam praticando juros maiores que os de 2013, dados do BC confirmam a avaliação de Schiozer: a alta de custos nos públicos foi, proporcionalmente, maior do que na concorrência privada.

Incerteza

O professor de finanças do Insper, Ricardo José de Almeida, diz que outra explicação pode estar na maneira como a qual os bancos estabelecem o preço do crédito. "Como esses números foram ruins no passado recente, o juro embute maior incerteza. Em 2013, os anos anteriores tinham sido muito bons e, por isso, os parâmetros eram melhores", diz.

Ou seja, ao contrário de 2013, quando a economia descrevia uma curva descendente, mas ainda carregava os resquícios de bons resultados anteriores, agora a conjuntura econômica inicia uma lenta recuperação, ainda amargando a sequência de recentes saldos ruins. Schiozer acredita que esses parâmetros melhorarão com a continuidade da retomada da atividade. Mas tem dúvida se isso se transformará em juro menor. "É uma questão competitiva. Há pouca competição e isso leva o juro para cima."

Em nota, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) afirma que o setor "tem aproveitado a queda da taxa Selic para reduzir também o custo do crédito ao consumidor" e que há linhas em que a redução do juro foi mais acentuada que o visto no juro básico anunciado pelo BC.

Para a redução estrutural do custo do crédito, "é preciso atacar os custos excessivos que oneram a concessão de crédito no Brasil". A entidade argumenta ainda que no Brasil há "custos elevados da intermediação financeira".

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