Florianópolis, por exemplo, já é considerada um dos maiores polos de startups do Brasil (Leandro-Fonseca/Exame)
Editor da Região Sul
Publicado em 8 de julho de 2025 às 06h02.
Última atualização em 8 de julho de 2025 às 11h55.
Imagine uma região com quase 30 milhões de habitantes, equivalente à 35ª economia do mundo, com um Produto Interno Bruto (PIB) nominal de aproximadamente US$ 407 bilhões, valor logo acima de Hong Kong, Malásia e próximo de Áustria e Noruega, com US$ 482 bilhões. Com taxa de desemprego em torno de 3,8%, inferior à dos Estados Unidos (4,2%) e do Reino Unido (4,6%). Um Índice de Desenvolvimento (IDH) de 0,777, considerado alto pela ONU, taxa de alfabetização superior a 95%, sendo quase 18% da população com nível superior, e um crescente ecossistema de inovação que, em apenas 10 anos, já a coloca no mapa mundial como referência no fomento às startups.
A força desta região, comparável à de uma nação em franco desenvolvimento, vem do Sul do Brasil. Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná têm cerca de 14,6% da população nacional, mas respondem por 17% das riquezas produzidas pelo país em 2024. Com uma área de 576,7 mil quilômetros quadrados e fronteira com Paraguai, Argentina e Uruguai, a região possui uma base produtiva diversificada e dinâmica, tendo o empreendedorismo no seu DNA.
EXAME lança unidade no Sul e reforça o foco no empreendedorismo regionalNo Paraná, por exemplo, a agroindústria e o setor automobilístico, com três marcas de montadoras globais, são os dois principais pilares da economia. O estado é líder na produção nacional de frangos, além de possuir o porto de Paranaguá, estratégico para a exportação de grãos. Santa Catarina é considerado o Estado mais industrializado do país, com forte vocação para a exportação na indústria de transformação.
A WEG, de Jaraguá do Sul, é líder mundial na produção de motores elétricos, com fábricas nos cinco continentes. SC também lidera a produção e exportação de carne suína, tendo o sistema cooperativado, em especial no Oeste catarinense, como referência nacional. Já o Rio Grande do Sul possui o parque fabril mais diversificado, do setor metalmecânico, ao moveleiro, calçados e têxteis. Também é o maior produtor nacional de arroz. A Região Sul responde por cerca de 17% das exportações brasileiras, somando US$ 57 bilhões em 2024.
Outra característica marcante é o foco na inovação. Florianópolis, por exemplo, já é considerada um dos maiores polos de startups do Brasil, com o setor de tecnologia respondendo por 25% da arrecadação municipal.
Já no setor turístico, a região conta com atrativos únicos. Nas serras catarinense e gaúcha, o visitante pode desfrutar de todo conforto e opções gastronômicas durante o Inverno, em cidades como Gramado (RS) e, mais recentemente, Urubici (SC). No Verão, as opções para o “dolce far niente” em praias paradisíacas são inúmeras, da sofisticação de Balneário Camboriú ao pé na areia da Ilha do Mel (PR).
Apresentar toda a pujança da Região Sul em uma única reportagem é também a certeza de que se corre um sério risco de cometer alguma injustiça. Para onde quer que se olhe, lá está um setor da economia que é relevante, gera empregos e está em constante crescimento. Mas, independentemente, do indicador que se analise, lá estão os três estados juntos, trigêmeos que também formam o Top 3 nos principais índices econômicos e sociais.
O resultado, claro, não poderia ser diferente: no ranking dos estados mais felizes do Brasil, elaborado pela FGV, a partir da comparação dos índices de desemprego e inflação, Santa Catarina lidera com o menor índice de “infelicidade”, seguida por Rio Grande do Sul e Paraná. Do barreado à tainha, passando pelo clássico churrasco, as opções gastronômicas oferecidas no PR, SC e RS são tão ricas quanto sua diversidade cultural.
No entanto, os desafios enfrentados, não só pela questão geográfica, são gigantescos para o setor produtivo. Infraestrutura deficitária, com poucas opções de modais além do rodoviário, encarecem o custo da produção e desafiam a logística. Uma maior integração ferroviária é uma bandeira histórica, além da modernização de portos e aeroportos.
Em recente evento realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de SC, (Fiesc), em Florianópolis, o presidente da Fiergs e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Claudio Bier, falou sobre alguns dos principais entraves: juros altos, deficiência na infraestrutura, falta de trabalhadores qualificados e insegurança jurídica estão entre os desafios impostos à indústria. “É imperioso a redução do custo Brasil. Somente com equilíbrio fiscal e crédito, teremos melhores condições de competir no mercado global”, disse Bier.
Os três estados, explicou, recolheram R$ 267 bilhões em impostos em 2024 e apenas 21% desse valor retornou para a região. Mario Cesar de Aguiar, presidente da Fiesc, fez coro às declarações de Bier. No último ano, informou, a produção catarinense cresceu 7,6%, mais de duas vezes a média nacional. Os 28,5% que o setor tem de participação no PIB também colocam o Estado em posição de destaque nacional. Mas ela impacta muito mais na vida dos catarinenses, pois a cada 10 empregos na indústria, mais 16 são criados na economia.
Mais do que qualquer outro Estado, SC exporta valor agregado. O preço por tonelada embarcada é o mais elevado do país. E o principal destino é justamente o mercado mais exigente: os Estados Unidos, para onde 40% dos produtos enviados são intensivos em tecnologia. “Apesar destes números que mostram a pujança da nossa economia, somos o Estado que menos recebe recursos da União”, comentou.