Economia

Economistas veem como positivas mudanças na poupança

Para eles, sem as medidas anunciadas nesta quinta-feira, outros investimentos estariam em desvantagem, incluindo os títulos do próprio governo

Economistas comemoram o novo momento da poupança, definido nesta quinta-feira  (Tatjana Krstic/Dreamstime.com)

Economistas comemoram o novo momento da poupança, definido nesta quinta-feira (Tatjana Krstic/Dreamstime.com)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de maio de 2012 às 08h28.

São Paulo - Com a taxa de juro básica no Brasil (Selic) em trajetória de queda, o governo precisou tomar medidas para impedir a migração dos investimentos em fundos e outras aplicações financeiras para a poupança. Para economistas ouvidos pelo site de Veja, as mudanças na remuneração da caderneta são positivas. Tornar a aplicação mais flexível, ainda que ela venha ficar menos rentável, é um passo crucial para permitir a continuidade do recuo dos juros no país – algo que, segundo os analistas, é digno de comemoração.

Fixo versus variável

Hoje, a poupança remunera mensalmente por meio de uma Taxa de Referência (TR) mais 0,5%. A ideia do governo é acabar com esta alíquota fixa e colocar, em seu lugar, um rendimento de 70% da Selic – a taxa básica de juros que sofre alterações a depender das decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Desta maneira, quando o BC mexer nos juros do país – o que poderá ocorrer na próxima reunião do Copom, em 30 de maio –, a rentabilidade da poupança também deverá mudar. Isso só ocorrerá se a Selic cair para 8,5% ao ano ou para menos que isso. A taxa está atualmente em 9% a.a..

“Flexibilizar a rigidez da poupança com uma taxa flutuante, como a Selic, é importante e facilita movimentos mais ousados com relação à própria Selic”, diz André Perfeito, da Gradual Corretora. Ele lembra que a atual taxa básica de juros é uma herança da década de 1980, ao passo que a poupança é centenária. Na avaliação do economista, a caderneta, tal como a conhecemos, não se sustenta mais em um ambiente em que outros investimentos acabam em desvantagem.

Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, concorda que a medida é benéfica. “A poupança com remuneração fixa distorce o sistema financeiro nacional”, explica. Ele destaca que a própria dívida do governo é prejudicada porque os títulos públicos competem com a poupança por investidores. “Essa medida não deixa de ser um avanço num governo que estava muito pautado em medidas de curto prazo”, comentou Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, que elogia o fato de a resolução ter sido "para todos".

Inflação X Juros

Com a nova proposta para poupança, o governo ganha mais liberdade para mexer com a taxa básica de juros do país. André Perfeito, da Gradual, acredita que, em sua próxima reunião, o Copom vai cortar 0,5 ponto porcentual a Selic. Sérgio Vale é ainda mais enfático: “A Selic poderá facilmente chegar a 8% nas próximas reuniões e não espantaria se caísse ainda mais do que isso”, diz.


A ressalva que fazem é que a inflação terá de se manter em patamar baixo para as medidas da poupança valerem. Caso o IPCA não dê trégua, o BC possivelmente precisará subir a Selic para controlar novamente a elevação dos preços. A dúvida é se isso de fato acontecerá no longo prazo.

"Essa questão da redução acaba afetando muitos aspectos da economia que vêm desde o viés fiscal, passam pela efetividade da política monetária no controle da inflação, e finalizam na forma de remuneração dos ativos financeiros da população", destaca o analista de finanças públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Gabriel Leal de Barros. Ele defende que o governo deveria dar mais espaço para a discussão pública sobre questões dessa magnitude.

Fundos X Poupança

Tal viés fiscal que está relacionado às mudanças da poupança consiste no fato de que a chamada ‘indústria dos fundos' de investimento país investe, sobretudo, em títulos do governo federal. Os de renda fixa – que adotam essa política – representam 22% das 10.800 carteiras do setor, mas respondem por 65% dos 1,85 trilhão de reais depositados. Como essas aplicações começam a perder feio para a inflação num cenário de queda da taxa básica de juros (Selic), as pessoas podem decidir migrar para a poupança. Tal movimentação imporia, contudo, um preço alto ao governo.

Enquanto a caderneta tem isenção de imposto de renda e remuneração fixa de 0,5% ao mês, mais a variação da Taxa Referencial (TR); as aplicações em renda fixa – que acompanham a Selic em declínio – são penalizadas pelo IR e pela cobrança de taxas administrativas dos bancos. Neste cenário, um eventual movimento de fuga dos fundos rumo à poupança implicaria imediata redução da demanda por papéis do governo, que teria de começar a remunerá-los melhor para manter sua atratividade. A dívida interna, aquela nas mãos de pessoas físicas e jurídicas, equivale a 91% do endividamento público federal.

Acompanhe tudo sobre:aplicacoes-financeirasEconomistasPoupança

Mais de Economia

MP do crédito consignado para trabalhadores do setor privado será editada após o carnaval

Com sinais de avanço no impasse sobre as emendas, Congresso prevê votar orçamento até 17 de março

Ministro do Trabalho diz que Brasil abriu mais de 100 mil vagas de emprego em janeiro

É 'irrefutável' que vamos precisar de várias reformas da previdência ao longo do tempo, diz Ceron