Economia

Eleições na Argentina 'fizeram EUA ganharem muito dinheiro', diz Trump

Declaração do presidente americano foi feita a jornalista a bordo do Air Force One, onde celebrou a vitória do partido de Milei nas eleições legislativas de domingo

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 27 de outubro de 2025 às 19h28.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elogiou Javier Milei, presidente da Argentina, depois que o partido A Liberdade Avança (LLA) saiu vitorioso nas eleições legislativas de domingo. Para Trump, o resultado valida o apoio financeiro extraordinário que Washington concedeu ao seu aliado na América do Sul.

"Foi uma grande vitória", declarou Trump a jornalistas a bordo do Air Force One nesta segunda-feira, segundo informações da Bloomberg. Ele se referia à conquista de uma maioria de votos pelo partido de Milei em um pleito considerado crucial para o andamento das reformas econômicas implementadas pelo governo.

Trump fez questão de enfatizar que Milei "não somente venceu”, mas “venceu por uma margem larga”.

"Essa eleição fez os Estados Unidos ganharem muito dinheiro", disse Trump. "Os títulos subiram. A classificação da dívida inteira melhorou".

De olho nas eleições da América Latina

A ascensão política de Milei é vista como um componente da estratégia mais ampla de Trump para consolidar uma mudança no panorama político da América Latina, onde várias nações estão com eleições programadas para os próximos meses.

O Secretário do Tesouro, Scott Bessent, coordenou uma série de ações para estabilizar os ativos da Argentina após o peso ter despencado com a derrota do partido de Milei na eleição provincial de Buenos Aires no mês passado. A intervenção, segundo estimativas de mercado, envolveu a compra de mais de US$ 1 bilhão em pesos.

Histórico complicado

Contudo, a aposta da Casa Branca foi feita em um país que historicamente deu calotes e ainda possui uma dívida de US$ 55 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Bessent, um veterano do mercado de fundos hedge especializado em câmbio, estruturou neste mês um swap cambial de US$ 20 bilhões com o Banco Central da Argentina. Essa transação, incomum, evitou o Federal Reserve, que tradicionalmente é o principal parceiro em operações dessa natureza. Além disso, ele estava negociando um acordo de financiamento adicional de US$ 20 bilhões com bancos privados.

Até a última terça-feira, o peso argentino havia alcançado um preço mínimo histórico, e os títulos nacionais estavam em queda, refletindo a cautela dos investidores antes da votação.

Ainda existem riscos. O partido de Milei permanece em minoria no Congresso, e o endividamento do país é alto. A jogada de Bessent, por enquanto, parece ter sido mais um acerto.

Nesta segunda-feira, o secretário de Trump sinalizou que os EUA podem começar a reduzir suas ações de intervenção.

"Agora acredito que o mercado vai se autorregular e ganhar confiança nas políticas de Milei", disse, também a bordo do Air Force One, durante a viagem de Trump à Ásia.

Ele acrescentou: "Eles têm grandes refinanciamentos no próximo ano, mas o povo argentino já se pronunciou."

Em uma publicação na plataforma X (antigo Twitter), Bessent comemorou:

“Parabéns ao presidente @JMilei pelo excelente resultado nas eleições de meio de mandato. O presidente Milei tem um mandato renovado para a mudança. A Argentina é um aliado vital na América Latina. Esses resultados são um claro exemplo de que a política do governo Trump de “paz por meio da força” está funcionando.”

Bessent reiterou que o apoio financeiro americano foi concebido apenas como uma “ponte” para o período subsequente à eleição. No entanto, persistem dúvidas sobre a capacidade da Argentina de manter o atual regime de câmbio controlado sem a assistência dos EUA.

Pressão nas contas

Muitos analistas preveem que, após o pleito, Milei pode optar por um câmbio flutuante, o que aliviaria a pressão sobre a balança comercial do país.

"O risco é que os formuladores de política na Argentina acreditem que a combinação da vitória política de Milei e do apoio (incondicional?) dos EUA lhes permita sustentar uma política de peso forte, mesmo sem um balanço externo capaz de sustentá-la", analisou Brad Setser, ex-funcionário do Tesouro e atualmente membro do Council on Foreign Relations, à Bloomberg.

Nos Estados Unidos, o resultado positivo do investimento em Buenos Aires pode contribuir para silenciar as críticas que se intensificaram no Congresso nas últimas semanas.

Bessent foi interpelado por membros democratas e republicanos sobre o apoio concedido à Argentina, que é concorrente direta dos EUA na exportação de soja para a China. Pequim interrompeu suas compras durante a safra americana atual, em retaliação à política comercial de Trump.

Bessent se defendeu das críticas:

"Essas compras de soja iriam acontecer de qualquer forma", disse ele no programa Face the Nation, da CBS, no domingo. "É um mercado global. Os três principais fornecedores são Brasil, Argentina e Estados Unidos".

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