Economia

Era urgente frear a escalada do dólar, diz economista argentino

"Conflitos social e político fazem com que o esquema tenha de ser gradual", diz Dante Sica

MAURICIO MACRI: desafio maior agora, avalia economista, será o do Banco Central, que vinha perdendo sua credibilidade desde o fim do ano passado (Alex Wong/Getty Images)

MAURICIO MACRI: desafio maior agora, avalia economista, será o do Banco Central, que vinha perdendo sua credibilidade desde o fim do ano passado (Alex Wong/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de maio de 2018 às 11h52.

São Paulo - Após a mais turbulenta semana no mercado financeiro que já enfrentou, o governo de Mauricio Macri não deve alterar sua política econômica gradualista, em que os ajustes são feitos sem mudanças drásticas, de acordo com o economista Dante Sica, sócio da consultoria argentina Abeceb. "Conflitos social e político fazem com que o esquema tenha de ser gradual", diz Sica. O desafio maior agora, avalia, será o do Banco Central, que vinha perdendo sua credibilidade desde o fim do ano passado. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Essa crise cambial ocorreu mais por causa de fatores externos, sobretudo a tendência de alta na taxa de juros dos Estados Unidos, ou internos?

Foi uma mistura. Por um lado, a mudança das condições internacionais, a valorização do dólar e a desvalorização de várias moedas. Mas houve também fatores domésticos: uma forte mudança na carteira de grandes investidores porque a Argentina começou a cobrar impostos da receita financeira e certa desconfiança em relação à atuação do governo e do BC. A Argentina, por ser um país mais frágil financeiramente, pagou um custo maior em termos de risco país e de desvalorização do câmbio. Mas o governo deu hoje (ontem) sinais de que acertou o rumo e parece que conseguiu acabar com essa "minicorrida" cambial.

Na semana passada, o BC afirmou que manteria a taxa de juros e depois anunciou três altas. Como avalia essa atuação?

Do ano passado para cá, passamos de um esquema de flutuação de câmbio totalmente livre a um esquema de flutuação com intervenção. Talvez o Banco Central, na semana passada, tenha tido alguns problemas de coordenação com a Fazenda e atuado de forma questionável. Acredito que o trabalho importante, o Banco Central já fez. Era urgente cortar e frear a escalada do dólar. Agora, é preciso esperar para que, na próxima semana, se estabilize um pouco.

Juros em 40% têm potencial para frear a economia, não?

Com certeza, mas não é uma taxa permanente. A partir de junho, a inflação deve começar a ceder.

O Brasil pode sofrer impactos?

Acho que não. A demanda argentina em relação aos produtos brasileiros continua sustentável. O consumo de bens duráveis, em especial o de veículos, está caminhando.

Desde que Macri chegou à Casa Rosada, foi a primeira vez em que houve desconfiança...

Sim. Houve muita incerteza. Em um momento inoportuno também, porque a inflação está muito alta. Talvez, se tivesse acontecido em julho, quando a inflação deverá estar mais baixa, o impacto tivesse sido menor. Parece que gerou desconfiança. A autoridade do BC já havia ficado prejudicada quando houve a mudança das metas de inflação em dezembro. Mas, com os sinais que deu nesta semana, vai se recuperando aos poucos.

Em geral, qual a situação da economia argentina? O governo Macri deverá seguir com sua política gradual?

Ainda há muito para percorrer, mas, de alguma maneira, o governo está cumprindo a redução do déficit fiscal e melhorando a eficiência do setor público. Teremos expansão neste ano, talvez um pouco mais baixo (que os 3,5% já estimados), ao redor de 2,5%. Macri vai seguir com a política gradual. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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