Economia

EXCLUSIVO: Na Rússia e na China, Lula quer atrair investimentos em urânio, fertilizantes e energia

Presidente tem a missão de reduzir déficit comercial com o país comandado por Vladimir Putin e atrair investimentos da nação presidida por Xi Jinping

Lula: presidente irá a Moscou, na Rússia, de 8 a 10 de maio, no contexto das comemorações dos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, e a Pequim, na China, em 12 e 13 de maio, por ocasião da visita de Estado e do 4º Fórum China-CELAC. (Ricardo Stuckert / PR/Flickr)

Lula: presidente irá a Moscou, na Rússia, de 8 a 10 de maio, no contexto das comemorações dos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, e a Pequim, na China, em 12 e 13 de maio, por ocasião da visita de Estado e do 4º Fórum China-CELAC. (Ricardo Stuckert / PR/Flickr)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 6 de maio de 2025 às 20h03.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca na noite desta terça-feira, 6, para viagem oficial à Rússia e à China, com a missão de reduzir déficit comercial com o país comandado por Vladimir Putin e atrair investimentos da nação presidida por Xi Jinping. Para isso, estão previstas assinaturas de acordos para serem instaladas no Brasil fábricas de fertilizantes de empresas russas e chinesas, além de negócios nas áreas de mineração, combustíveis energia, afirmaram à EXAME técnicos do governo brasileiro.

Em Moscou, capital da Rússia, Lula terá compromissos entre 8 a 10 de maio. A vista ocorre durante as comemorações dos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, celebradas pelos russos. Mas além de tentar sensibilizar Putin a acabar com a guerra com a Ucrânia, Lula quer equilibrar a balança comercial entre os dois países.

A dependência brasileira dos fertilizantes e do diesel russo pesam nessa relação. De janeiro a março de 2025, a corrente de comércio entre os dois países totalizou US$ 12,4 bilhões, segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

No período, as empresas brasileiras exportaram US$ 1,45 bilhão e importaram US$ 10,9 bilhões, o que fez da Rússia o quinto país de quem o Brasil mais importa produtos.

Entre os principais produtos vendidos pelo Brasil estão a soja, carne bovina, café não torrado, carne de aves e suas miudezas, e tabaco. Já as companhias brasileiras importam da Rússia, principalmente, óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos (exceto óleos brutos) e adubos e fertilizantes químicos.

“Haverá, do ponto do nosso presidente, uma menção para reequilibrar essa balança. Importamos fertilizantes e diesel. Mas queremos ampliar as nossas exportações para a Rússia”, disse o secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Eduardo Saboia, durante conversa com jornalistas, no Palácio do Itamaraty.

Acordos Novatek e Tenex

Entre os acordos que devem ser assinados na Rússia, afirmaram técnicos do governo, está um memorando de entendimentos com a Novatek, gigante russa que produz Gás Natural Liquefeito (GNL), para:

  • estudar oportunidades de colaboração em desenvolvimento de infraestrutura de GNL no Brasil;
  • investimentos em projetos termelétricos a GNL no Brasil; e
  • investimentos em indústria local de fertilizantes nitrogenados.

O Brasil tem se esforçado para diminuir a dependência dos fertilizantes russos. Como mostrou a EXAME, a empresa suíça Atlas Agro deve inaugurar em 2028 uma fábrica de fertilizantes de nitrogênio verde em Uberaba, em Minas Gerais, com capacidade de produzir 500 mil toneladas do produto. Entretanto, até lá, os produtos da Rússia ainda serão necessários.

Também está prevista a assinatura de acordo colaboração com a Tenex, gigante russa que produz urânio enriquecido, para o desenvolvimento conjunto de atividades de prospecção, desenvolvimento e exploração mineral de urânio no Brasil. Tenex e Núcleo Brasil constituirão joint venture para o desenvolvimento das atividades, segundo técnicos do governo brasileiro.

Por fim, os governos de Rússia e Brasil assinarão memorando de entendimento para cooperação e troca de conhecimento sobre o SAF (combustível sustentável de aviação, na sigla em inglês). Serão feitos estudos e análises da cadeia produtiva, distribuição e comercialização.

Mulher latino-americana ou caribenha na ONU

Em Pequim, capital da China, Lula terá agendas em 12 e 13 de maio, por ocasião da visita de Estado do presidente a Xi Jinping e do 4º Fórum China-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos).

Durante o evento com países da América Latina e do Caribe, Lula buscará o apoio do presidente chinês para tentar emplacar uma mulher da região no posto de secretária-geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

A diplomacia brasileira está envolvida nas tratativas para tentar fortalecer o multilateralismo global, em meio à guerra comercial promovida pelos Estados Unidos. E parte dessa agenda passa por ocupar o mais alto posto da ONU.

Fábrica de fertilizante chinesa no Paraná

A estratégia do Brasil com a China neste momento de grande incerteza global é de fortalecer ainda mais a parceria comercial já existe, mas atrair investimentos diretos de empresas chinesas para o território brasileiro. E a dependência de fertilizantes estrangeiros é um dos gargalos que Lula quer fechar para tornar fortalecer a economia brasileira.

Segundo técnicos do governo, está prevista durante a visita de Estado a assinatura de um contrato para a CNCEC (China Chemical) estudo de viabilidade técnica e financeira para a instalação de planta de fertilizantes nitrogenados no Paraná, com capacidade de produzir 520.000 toneladas anuais de ureia.

“O que nós queremos é diversificar nossa pauta exportadora e diversificar os investimentos e parcerias com a China, procurando atraí-la para investimentos na neo industrialização e na transição energética”, disse Saboia.

Protocolos de intenção entre Brasil e China

Também estão previstos, segundo técnicos do governo, a assinatura de protocolos de intenção para desenvolvimento tecnológico e aporte de investimentos em sistemas de transmissão de energia elétrica, energia nuclear, geração renovável, sistemas isolados e informações energéticas, com foco em transição energética. Esse acordo será firmado pela Administradora Nacional de Energia da China e o Ministério de Minas e Energia.

Como desdobramento do memorando de cooperação para o desenvolvimento sustentável da mineração assinado em 2024 entre os dois países, um plano de ação entre Brasil e China deve ser assinado para promover o desenvolvimento sustentável da indústria de mineração, o progresso tecnológico, o investimento responsável e a promoção das relações bilaterais. O Ministério de Minas e Energia celebrará esse plano com a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China.

Também está prevista a assinatura de uma carta de intenções entre o governo brasileiro e a CGN, maior companhia de energia nuclear da China e a terceira maior do mundo. O tratado entre as partes prevê estabelecer uma plataforma de cooperação para promover a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e a inovação em áreas relacionadas a transição energética e urânio.

Por fim, um memorando de entendimento entre o Ministério de Minas e Energia e Windey, estatal chinesa de turbinas eólicas e outras soluções renováveis, será formalizado para a cooperação nas áreas de energia eólica, armazenamento de energia e soluções energéticas sustentáveis no Brasil.

O acordo prevê a criação de um centro de pesquisa e desenvolvimento com foco em tecnologias de baixo carbono, além de iniciativas conjuntas para aplicação de energias renováveis em áreas agrícolas remotas, estímulo à implantação de fábricas de equipamentos no país, e mitigação de cortes na geração renovável conectada ao sistema elétrico nacional.

A previsão é que ocorra assinatura de atos entre Brasil e China nas áreas de agricultura, comércio, investimentos, infraestrutura, indústria, energia, mineração, finanças, ciência e tecnologia, comunicações, desenvolvimento sustentável, turismo, esportes, saúde, educação e cultura.

Segundo Saboia, do Itamaraty, há 16 protocolos e anúncios já definidos e outros 32 em negociação.

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