Economia

Fatura para aprovar Previdência chega a R$ 55 bilhões

Com a instabilidade política, reforma da Previdência está mais distante. Mas a fatura já era alta antes mesmo das acusações contra Temer

Velhice (Zoonar/Thinkstock)

Velhice (Zoonar/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de maio de 2017 às 11h04.

Brasília - A fatura para a aprovação da reforma da Previdência, cuja tramitação agora está ameaçada pela instabilidade política que paira sobre o País, já era alta antes mesmo das acusações contra o presidente Michel Temer.

Medidas sinalizadas pelo governo, como o parcelamento das dívidas de Estados e municípios com o INSS, ou apresentadas por parlamentares, como o Super-Refis para empresas, poderiam custar pelo menos R$ 54,8 bilhões, segundo levantamento feito pelo 'Estadão/Broadcast'.

Todas as medidas já estavam na mesa de negociações e eram usadas como barganha antes das revelações que abalaram o Palácio do Planalto e a base aliada do governo. Agora, a capacidade de articulação de Temer é colocada em xeque por economistas. Há também a preocupação de que, na busca por apoio para manter sua governabilidade, o presidente ceda ainda mais aos pedidos.

Só com o Refis de Estados e municípios, as prefeituras estimavam alívio de R$ 30 bilhões de um débito total de R$ 75 bilhões com o INSS. Os Estados, porém, não fizeram avaliação de quanto dos R$ 15 bilhões devidos poderiam ser abatidos com as condições mais vantajosas oferecidas pelo governo. Os descontos são de 25% em multas e encargos e de 80% nos juros.

O governo ainda poderia ter um prejuízo de R$ 23 bilhões com a desfiguração do Programa de Regularização Tributária (PRT), que foi transformado em um Super-Refis durante a tramitação da medida provisória no Congresso Nacional. A ideia dos parlamentares era conceder anistia total em juros e multas. Com isso, além de não arrecadar os R$ 8 bilhões esperados com o programa, o Fisco teria perda adicional de R$ 15 bilhões com tributos correntes que deixariam de ser pagos.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já articulou com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um acordo para manter algum desconto no Refis, mas bem menos benevolente do que desejavam os deputados. O texto deve ser votado na próxima semana, antes de expirar o prazo da MP.

O governo também vai editar um Refis para produtores rurais com dívidas com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural). O valor total do débito é estimado em R$ 10 bilhões, mas ainda não há projeção de quanto disso vai virar fatura para a União. A área econômica concederá desconto de 100% no juro e de 25% na multa.

Apesar do gesto do governo, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), advertiu que "uma coisa não tem nada a ver com a outra", e não garantiu os votos de toda a bancada ruralista, que conta com 109 deputados, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar.

Segundo técnicos, as renúncias com esses Refis vão dificultar ainda mais qualquer redução no corte já feito no Orçamento de 2017, até agora de R$ 42,1 bilhões. Além disso, representam risco adicional ao cumprimento da meta fiscal deste ano, de déficit de R$ 139 bilhões.

Outras medidas

Há ainda outras medidas em fase de negociação, como a correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) e o aumento da faixa de isenção, que também teria impacto nas contas públicas.

No campo político, o governo já começou o loteamento de cargos para a base aliada. O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, nomeou o advogado Rodrigo Sérgio Dias para a presidência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Dias foi indicado para o cargo pelo bloco formado por PTN, PTdoB e PSL. A Casa Civil também nomeou um aliado do deputado Kaio Maniçoba (PMDB-PE) para comandar a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senadi).

Refis de Estados e municípios: Parcelamento de R$ 90,136 bilhões em dívidas de prefeituras com o INSS, com desconto, deve custar R$ 30 bilhões

Refis de produtores rurais: Parcelamento de R$ 10 bilhões em dívidas com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural)

Programa de Regularização Tributária (PRT): A previsão do governo era arrecadar R$ 8 bilhões com o PRT, mas as flexibilizações feitas no Congresso Nacional acabam com essa possibilidade e ainda trazem perda adicional de até R$ 15 bilhões.

Emendas parlamentares: Até agora, o governo antecipou R$ 1,8 bilhão em emendas que seriam desembolsadas só no quarto trimestre

Mudança no ISS: Não há custo, mas tem benefícios para mais de 5,5 mil municípios. Arrecadação de R$ 6 bilhões, hoje concentrada em 35 prefeituras, será distribuída a todos os municípios

EM NEGOCIAÇÃO

Fundeb: Governo vai mudar a distribuição dos recursos do Fundeb, fundo para a manutenção da educação básica. Neste ano, a previsão é que o fundo receba R$ 13 bilhões em repasses federais

Correção da tabela do IR: Senadores do PMDB cobram o aumento da faixa de isenção do imposto de renda, hoje aplicada a quem recebe até R$ 1.903,98 por mês. Equipe econômica, no entanto, diz que não há recursos

Cargos na administração pública: Governo está exonerando aliados de parlamentares que votam contra a reforma. Ao mesmo tempo, entrega cargos para quem se compromete em votar a favor

Prioridade na conclusão de obras: Ministérios do Planejamento e dos Transportes já fizeram levantamento das obras inacabadas que terão prioridade para a conclusão.

Acompanhe tudo sobre:Crise econômicaMichel TemerReforma da Previdênciareformas

Mais de Economia

MP do crédito consignado para trabalhadores do setor privado será editada após o carnaval

Com sinais de avanço no impasse sobre as emendas, Congresso prevê votar orçamento até 17 de março

Ministro do Trabalho diz que Brasil abriu mais de 100 mil vagas de emprego em janeiro

É 'irrefutável' que vamos precisar de várias reformas da previdência ao longo do tempo, diz Ceron