Economia

Governo argentino pede calma diante dos sinais de moratória

Governo latino considera a possibilidade de moratória possível, mas tenta transmitir tranquilidade

O secretário Pablo López chega ao escritório do mediador Daniel Pollack (Stan Honda/AFP)

O secretário Pablo López chega ao escritório do mediador Daniel Pollack (Stan Honda/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de julho de 2014 às 17h39.

Buenos Aires - A Argentina inicia a semana sob risco de cair em nova moratória, caso não alcance um acordo antes de quarta-feira com os fundos especulativos no litígio sobre os títulos não renegociados da sua dívida soberana. O governo considera a possibilidade de moratória possível, mas tenta transmitir tranquilidade.

O governo argentino tem 48 horas -até a última hora do dia 30 de julho- para obter um entendimento com os fundos que chama de "abutres". Esses fundos ganharam uma decisão da justiça americana que obriga o país a chegar a um acordo com os demandantes antes de continuar pagando a dívida renegociada em 2005 e 2010.

Funcionários argentinos do Ministério da Economia viajam para Nova York nesta segunda-feira para se reunir na quarta-feira com o mediador Daniel Pollack, designado pelo juiz federal Thomas Griesa para conseguir que a sua sentença de pagamento de 1,33 bilhão de dólares aos fundos especulativos seja cumprida.

Pollack afirmou que a reunião acontecerá na terça-feira às 11h00 locais (horário de Brasília) e afirmou em um comunicado que pediu às partes "uma reunião cara a cara com os credores privados (litigantes), mas que isso não ocorrerá amanhã (terça-feira)", disse.

A Argentina depositou os pagamentos aos credores reestruturados no dia 26 de junho, mas o juiz bloqueou esse dinheiro destinado a bancos intermediários em Nova York. Caso os pagamentos não sejam feitos até quarta-feira, a terceira maior economia da América Latina entraria em moratória.

"Os argentinos precisam estar tranquilos porque a vida continua", afirmou o chefe de Gabinete Jorge Capitanich, porta-voz da presidente Cristina Kirchner.

Analistas advertem que o governo esgotou todas as opções nesta disputa e que estudam as implicações de enfrentar um default.

"O período de carência da Argentina vence na última hora de quarta-feira. Se não houver um acordo neste dia, a agência (de classificação de risco) notificará na primeira hora de quinta-feira a nota de 'Selective Default' -porque seria apenas uma parte dos títulos sem pagamento-", explicou à AFP Sebastian Briozzo, diretor de Classificação Soberana da agência Standard & Poor's em Buenos Aires.

Recessão acelerada

"No dia 30 não acontecerá nada", disse na sexta-feira o ministro da Economia, Axel Kicillof, mas analistas garantem que uma moratória potencializaria os sinais de recessão frágil economia argentina, que acumula no primeiro semestre uma inflação de 15% e queda de sua atividade econômica.

Carlos Caicedo, principal analista da IHS (empresa de informação econômica) para América Latina, advertiu na segunda-feira que uma suspensão dos pagamentos resultaria em mais desvalorização, inflação e marginalização dos mercados de capitais, ao considerar que as autoridades argentinas "estão vendo a opção do default como a menos custosa".

Um relatório da consultora Abeceb.com apontou que "uma queda de 3,5% do PIB, com a inflação anual alcançando 41% e uma retração do consumo de 3,8%, são as principais variáveis para 2014 em caso de default".

Se houver acordo, o mesmo informe afirma que os indicadores teriam "um recuo de 1,5% do PBI, uma inflação de 34,5% e uma redução do consumo de 1,8%".

"Tudo o que a Argentina está vivendo hoje pode ser potencializado", afirmou à AFP o economista Fausto Spotorno, diretor do Centro de Estudos Econômicos Orlando Ferreres.

O principal temor é que as demissões cresçam, no país onde a taxa de desemprego está em 7,1%.

Para 2015, ano de eleições presidenciais, as perspectivas se houver default prevem uma retração de 0,5% do PIB, uma inflação de 24,1% e uma retração do consumo de 0,8%.

A importância do 'stay'

Capitanich reiterou a condição para chegar a um acordo: "A Argentina precisa de tempo para negociar e esse tempo se chama 'stay'", como é chamada em inglês a medida cautelar suspensa por Griesa quando sua decisão foi ratificada pela Suprema Corte em junho, e que prorroga o pagamento das obrigações até janeiro de 2015, quando vence a denominada "cláusula Rufo" dos títulos.

Essa cláusula, que a Argentina quer evitar a todo custo, estabelece que o país não pode melhorar antes desse prazo a oferta recebida pelos credores que aderiram à reestruturação, sob pena de ter que estender os benefícios aos demais credores.

Uma moratória, portanto, também não seria conveniente aos fundos litigantes, já que, se a Argentina tiver que reestruturar novamente a sua dívida, eles perderiam a atual posição de credores privilegiados e teriam que negociar como qualquer credor.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaArgentinaDívidas de paísesMercado financeiroMoratóriaTítulos públicos

Mais de Economia

As duas áreas com maior oportunidade de disrupção no Brasil, segundo fundadores dos maiores VCs

INSS recebeu 480,6 mil pedidos de devolução de descontos no primeiro dia para solicitações

Alesp aprova aumento do salário mínimo paulista para R$ 1804; veja quem tem direito

PF faz busca e apreensão em investigação contra fraudes no INSS em descontos de aposentadorias