Economia

Haddad confirma que governo socorrerá empresas afetadas pelo tarifaço com linhas de crédito

De acordo com o ministro da Fazenda, apesar das tarifas, os empresários brasileiros podem parcerias com outros países, mas esse processo será gradual e exigirá adequação

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 29 de julho de 2025 às 15h27.

Última atualização em 29 de julho de 2025 às 15h59.

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou nesta terça-feira, 29, que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva prevê uma série de medidas contra as tarifas de 50% impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Segundo Haddad, o plano de contingência vai oferecer linhas de crédito para ajudar as empresas a enfrentar os impactos das taxações. Essa proposta foi antecipada pela EXAME.

As tarifas aos produtos brasileiros estão programadas para entrar em vigor nesta sexta-feira, 1º de agosto.

"A encomenda do presidente Lula, que foi dada a quatro ministérios como Fazenda, Relações Exteriores, Casa Civil e Desenvolvimento, foi justamente de apresentar a ele um painel com todas as medidas possíveis de curto, médio e longo prazo. Algumas são até estruturantes no sentido de fortalecer exportações, reformular programas de governo focados em exportação de pequenas, médias e grandes empresas. Além de parcerias comerciais", afirmou Haddad, em entrevista à CNN Brasil nesta tarde.

E acrescentou: "Entre as medidas de curto prazo, há o socorro para empresas que sejam duramente afetadas e que não tenham condições de enfrentar esse desafio que foi imposto ao Brasil".

O ministro explicou que o plano de ajuda aos empreendedores funcionará de modo semelhante às iniciativas do governo durante a enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024.

"Como foi o que fizemos com as empresas no Rio Grande do Sul. Oferecemos linhas de crédito com juros baixos, dando prazo de carência, para permitir que aos empresários se adaptarem a nova realidade".

De acordo com Haddad, as empresas brasileiras podem conseguir parcerias com outros países, mas esse processo será gradual e exigirá adequação. Ele também reforçou que o Brasil não deve ver a decisão de Donald Trump como um desestímulo para sua atuação no comércio internacional.

“Eventualmente essas empresas terão que importar maquinário e investir na abertura de novos mercados. Estamos preparando um cardápio para o presidente que possa ser utilizado na necessidade de cada setor e empresa, para que as pessoas sintam segurança para continuar seus investimentos e não façam dessa iniciativa unilateral dos EUA para desistir de novos caminhos”.

A três dias do início das tarifas, Haddad disse o governo brasileiro ainda desconhece a medida que será tomada: "Não podemos fazer do dia 1º de agosto um dia fatídico, vamos continuar negociando, os canais estão sendo desobstruídos, vagarosamente, mas estão".

Diálogo com o Tesouro dos EUA

Haddad disse que tem expectativa de conversar com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, sobre o tema.

"Já liguei para o secretário, que está na Europa. A assessoria dele disse que, na volta da Europa, possa ser que se estabeleça um canal do Tesouro americano com o Ministério da Fazenda", disse o ministro, em entrevista à CNN Brasil.

No entanto, Haddad enfatizou que, embora as tarifas impostas por Trump sejam preocupantes, os Estados Unidos não são atualmente o principal destino das exportações brasileiras.

"A gente exporta muito mais para outras regiões do planeta. A China, toda a Ásia. O Brasil exporta para o Sudeste Asiático um volume maior do que exporta para a Europa. Já temos um acordo com a União Europeia bastante amadurecido e podemos concluir o ano com esse acordo."

O ministro também apontou que o tarifaço pode provocar eventualmente queda nos preços domésticos do Brasil, pois podem elevar a oferta desses produtos no país.

Críticas a Trump

Haddad disse que compreende a movimentação do presidente Donald Trump como uma defesa dos interesses dos Estados Unidos. Mas, classificou suas ações contra o Brasil como "equivocadas", pois as relações comerciais entre os dois países não são prejudiciais aos interesses de Washington.

“Temos que entender que os EUA estão defendendo seus interesses, mas o fato é que há um presidente lá que está tomando medidas equivocadas em relação ao Brasil, porque mais importamos do que exportamos para eles. Não há sentido punir alguém que tem déficit com você", argumentou. 

Por outro lado, o ministro da Fazenda afirmou que as consequências não serão sentidas apenas pelo povo brasileiro, pois os cidadãos americanos sentirão no bolso o efeito das tarifas.

"Nós exportamos muitos insumos para os EUA, são coisas que vão encarecer o dia a dia do povo americano. Como carnes, ovos, café, frutas, suco de laranja. Tudo isso vai afetar o trabalhador dos EUA".

Entenda as tarifas dos EUA contra o Brasil

Em 9 de julho, Trump anunciou uma tarifa extra de importação de 50% para os produtos brasileiros. Ele disse que a taxa se deve aos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e contra redes sociais americanas.

A medida entraria em vigor em 1º de agosto, mas ainda não foi oficializada por uma ordem executiva. Assim, o governo brasileiro busca negociar formas de evitar que a nova taxa entre em vigor.

Em uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele disse:

"Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como recentemente ilustrado pelo Supremo Tribunal Federal, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e despejo do mercado brasileiro de mídia social), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais. Mercadorias levadas a outros países  para escapar dessa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta".

"Conheci e lidei com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o respeito profundamente, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tratou o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!", afirmou.

"Além disso, tivemos anos para discutir nossa Relação Comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da relação comercial de longa data e muito injusta, gerada pelas Políticas Tarifárias e Não Tarifárias e Barreiras Comerciais do Brasil. Nossa relação está longe de ser recíproca", disse o presidente americano.

No tarifaço anunciado em abril, o Brasil havia ficado na categoria mais baixa, de 10% de taxas extras. Os EUA possuem superávit comercial com o Brasil. Ou seja: vendem mais produtos para cá do que os brasileiros enviam para os americanos.

No primeiro trimestre de 2025, os dois países trocaram US$ 20 bilhões em mercadorias, sendo que os EUA tiveram superavit de US$ 653 milhões, segundo dados da plataforma Comexstat, do governo brasileiro.

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial brasileiro, atrás da China. O Brasil é um grande exportador de aço, café, carne, suco de laranja e outros produtos aos americanos.

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