Repórter
Publicado em 4 de agosto de 2025 às 17h39.
Última atualização em 4 de agosto de 2025 às 19h32.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira, 4, que o Brasil não terá dificuldade para redirecionar a exportação de café e carne para outros países, a fim de mitigar os impactos das tarifas impostas pelos Estados Unidos. Os produtos foram excluídos da lista de isenção e terão uma tarifa de 50% aplicada a partir de quarta-feira.
"Não compreendi a manutenção do café na lista das tarifas, porque isso vai encarecer o produto para o consumidor nos EUA. Isso já é sentido lá e vai agravar ainda mais a situação deles, porque são os americanos quem vão pagar essa taxa. O Brasil não terá dificuldades para redirecionar essas mercadorias para outros mercados", afirmou Haddad, em entrevista à Band News.
O ministro destacou que a economia brasileira se tornou menos dependente dos Estados Unidos ao longo dos anos, em razão da diversificação das parcerias comerciais e das exportações, o que facilita o envio dessas commodities para outros mercados.
"Temos 12% das nossas exportações para os EUA. Mas o que preocupa mais imediatamente é 4% disso. E dessa parte, mais da metade vai encontrar destinos alternativos, caso a tarifa de 50% seja mantida, pois se tratam de commodities, com preços internacionais definidos pelo mercado global. Produtos como café e carne podem ser redirecionados, pois a demanda por esses produtos é crescente".
O ministro também mencionou que alguns setores exigem maior atenção, principalmente pelo impacto no mercado de trabalho nas regiões dependentes da produção, mais do que pelo efeito macroeconômico no país.
"Há determinados setores que exigem grande cuidado. É um impacto que poderíamos considerar microeconômico, porque não afeta a macroeconomia do país. O impacto no nível de emprego é pequeno", afirmou Haddad.
O ministro expressou preocupação com os setores mais vulneráveis às taxações, especialmente aqueles produtos que são direcionados justamente ao mercado americano, citando a Embraer como exemplo.
"Nossa maior preocupação é com os setores que não estão produzindo commodities, mas artigos sob medida para os Estados Unidos. Alguns setores industriais estão produzindo diretamente para parceiros nos EUA, como a Embraer, que ficou fora da lista de tarifas. Se tivesse sido incluída, enfrentaria dificuldades, pois compra muito dos EUA e vende muitas aeronaves para lá, além de realizar a manutenção da frota que circula na aviação regional do país", afirmou Haddad.
Economistas estimam que, com as isenções, o impacto do tarifaço no PIB pode chegar a até 0,15 ponto percentual.
O ministro informou que o plano de contingência para apoiar as empresas brasileiras afetadas pelas tarifas de 50% impostas pelos EUA seguirá as regras do arcabouço fiscal.
"As medidas já estão desenhadas e orçadas, tem impacto primário, que é uma coisa pequena, que pode acontecer, dentro das regras fiscais, a questão das linhas de crédito para atender esses setores", afirmou.
Haddad não detalhou o custo dessas medidas, mas ressaltou que, além do uso das despesas primárias do Orçamento, o governo pode criar linhas de crédito alternativas para os setores afetados.
"Nesse momento não estamos prevendo nenhuma medida que saia dos marcos estabelecidos pela legislação atual, então vamos seguir o custo do ponto de vista fiscal.
Para além do orçamento primário, você tem um orçamento financeiro que te permite, em um momento como esse, criar linhas de crédito que não impactam as contas primárias, mas podem ser instrumentos importantes para direcionar crédito para setores que estão duramente afetados por essas medidas", explicou.
Haddad também confirmou que conversará nesta semana com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, sobre as tarifas de 50% impostas pelo presidente americano Donald Trump ao Brasil.
O governo brasileiro se vê diante de uma semana decisiva na negociação sobre a taxação de 50% sobre produtos nacionais, anunciada pelos Estados Unidos na última semana. Esse movimento impacta mais de 700 setores, mas, segundo as últimas informações, alguns segmentos, como o de suco de laranja e aviação civil, ficaram de fora da imposição.