São Paulo, Brasil: economia brasileira deve desacelerar neste ano (StockLapse/Getty Images)
Repórter
Publicado em 23 de setembro de 2025 às 06h47.
Última atualização em 23 de setembro de 2025 às 06h58.
A economia global enfrenta um cenário de crescimento mais modesto nos próximos anos, e o Brasil pode estar no centro dessas mudanças.
Após uma forte expansão em 2024, com um crescimento de 3,4%, o país verá uma desaceleração significativa, segundo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)divulgado neste terça-feira, 23.
Para a organização, o crescimento deste ano deve ser de apenas 2,3%, seguida de um crescimento ainda mais modesto de 1,7% em 2026.
E o motivo, segundo a OCDE, são as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em 2025, os Estados Unidos aumentaram suas tarifas bilaterais sobre praticamente todos os seus parceiros comerciais, elevando a taxa efetiva de tarifas sobre as importações de mercadorias para 19,5% — o nível mais alto desde 1933.
O aumento das taxas, para a OCDE, tem um impacto significativo no comércio global, com impactos diretos países como o Brasil, que, juntamente com outros grandes parceiros comerciais como a China e a Índia, enfrenta tarifas mais altas sobre produtos de exportação, especialmente na agricultura. Por aqui, as tarifas foram de 50%.
As tarifas elevadas são um dos principais desafios para o comércio internacional e, de acordo com a OCDE, o impacto de todos os efeitos delas ainda não foi sentido pelas economias.
A organização aponta que empresas têm absorvido parcialmente os aumentos iniciais de tarifas por meio de margens de lucro mais altas, mas uma mudança está perto de acontecer.
Com o tempo, os consumidores podem começar a sentir o peso desses aumentos nos preços dos produtos, especialmente em bens duráveis, como automóveis e eletrônicos, com um conteúdo de importação significativo.
Em relatório, a OCDE aponta que o Brasil enfrentou um crescimento temporário, impulsionado por um aumento na produção agrícola no primeiro trimestre de 2025, mas a desaceleração foi iminente.
O aumento, de acordo com a organização, tem impacto direto em setores como o agrícola, que depende fortemente das exportações para os Estados Unidos.
Embora o Brasil tenha visto um crescimento de 3,4% em 2024, a previsão para 2025 foi reduzida para 2,3%, refletindo a desaceleração que já está ocorrendo devido a esses novos desafios.
O impacto das tarifas mais altas começa a afetar as cadeias de suprimentos e reduzir a competitividade das exportações brasileiras, o que faz com que o crescimento observado no início de 2025 não seja sustentável a longo prazo.
O Brasil deverá enfrentar uma redução no ritmo de crescimento, que pode continuar a cair para 1,7% em 2026 .
Globalmente, a OCDE projeta que o crescimento, que foi de 3,3% em 2024, desacelerará para 3,2% em 2025 e 2,9% em 2026.
O número representa uma leve melhora em relação ao relatório de junho, que previa crescimento de 2,9% para este ano.
A desaceleração é, segundo a OCDE, em grande parte resultado do fim do "front-loading" de produção e comércio, que ajudou a impulsionar os números no primeiro semestre de 2025, antes da implementação de tarifas mais altas pelos Estados Unidos, segundo a organização.
Pesam sobre as economias também incertezas políticas e o aumento das tarifas afetaram negativamente o investimento e o comércio global, que já estavam lidando com as consequências da pandemia de covid-19 e a recuperação econômica.
A OCDE destaca que as economias emergentes, em particular, mostram uma resiliência maior do que o esperado até agora, com algumas superando as previsões de crescimento. Mas a resistência pode não ser duradoura.
Em países como o Brasil, para a OCDE, a desaceleração já é visível, com um crescimento reduzido nas exportações e um impacto direto nos mercados de trabalho.
O risco de uma desaceleração mais acentuada em 2026 é real, especialmente se as tarifas continuarem a ser elevadas e a incerteza política persistir.
Nos Estados Unidos, o crescimento projetado para 2025 é de 1,8%, uma queda substancial em relação aos 2,8% de 2024.
As tarifas mais altas, a queda no número de imigração líquida e as incertezas políticas, segundo a OCDE, são os principais fatores que irão impulsionar essa desaceleração.
A organização também alerta para o risco de um aumento adicional nas tarifas, que pode afetar ainda mais a economia dos EUA, reduzindo o crescimento nos próximos anos.
Na Europa, a Zona do Euro deverá enfrentar um crescimento modesto de 1,2% em 2025 e 1% em 2026, com as fricções comerciais e a incerteza geopolítica impactando a demanda interna.
Embora a facilidade de crédito possa ajudar a amortecer o impacto, as restrições comerciais e a falta de confiança nas políticas fiscais podem limitar as perspectivas de crescimento robusto.
Países como França e Itália, por exemplo, enfrentam uma pressão fiscal adicional que pode desacelerar ainda mais sua recuperação.
Já na Ásia, a China deve crescer 4,9% em 2025 e 4,4% em 2026, o que representa uma desaceleração em relação aos anos anteriores.
O crescimento da China tem sido sustentado principalmente pelo aumento do gasto público e pelas políticas fiscais, mas o enfraquecimento do mercado imobiliário e as tensões comerciais com os Estados Unidos estão pesando no ritmo de expansão do país.
Em países emergentes como a Índia, o México e a Indonésia, as previsões de crescimento da OCDE são mais otimistas, com a Índia projetando um crescimento de 6,7% em 2025 e 6,2% em 2026, impulsionado por reformas fiscais e políticas monetárias mais flexíveis.