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Inadimplência das famílias no crédito livre sobe a 6,5% em julho, maior patamar em mais de 12 anos

BC afirma que parte do aumento está ligado a uma mudança na forma que as instituições financeiras reportam a dívida

Agência o Globo
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Publicado em 27 de agosto de 2025 às 16h56.

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A inadimplência das famílias no crédito com recursos livres aumentou de 6,3% para 6,5% de junho para julho, alcançando o maior patamar desde maio de 2013 (6,6%) — um recorde de mais de 12 anos —, mostram dados divulgados pelo Banco Central nesta quarta-feira.

Segundo o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, parte do aumento está ligado a uma mudança na forma que as instituições financeiras reportam a inadimplência por meio de uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN).

— Se a pergunta é quanto é atribuído a uma tendência do mercado de crédito ou à resolução 4966, é uma composição das duas coisas, sem que eu consiga saber exatamente, a partir dos dados disponíveis qual é a proporção de cada uma delas.

Por modalidade de crédito, o maior aumento foi verificado no rotativo do cartão de crédito, cuja elevação foi de 3,0 pontos percentuais, de 57,5% para 60,5% - o maior nível da série histórica do BC, iniciada em 2011.

— O cartão rotativo é uma modalidade absolutamente emergencial, que deve ser evitada pelos clientes sempre que possível, porque são operações de curtíssimo prazo, com taxas de juros especialmente elevadas. Agora, em julho, chegaram a 446,6%. Tem se mantido nesse mesmo nível há bastante tempo.

Em relação ao rotativo, Rocha ainda informou que quatro instituições financeiras reportaram cobrança de juros superior ao permitido pela lei. Desde o início de 2024, os juros e encargos só podem chegar ao mesmo valor da dívida original. A regra foi estabelecida para tentar conter os juros cobrados na modalidade, que são muito maiores do que a Selic - taxa básica de juros - que hoje está em 15% ao ano. As instituições foram Via Certa Financiadora, Banco XP, Sicoob e Banco Rendimento.

— Isso é uma evidência possível de infração da lei — disse Rocha. — O BC está acompanhando os casos que indicam percentual acima do permitido em lei, orientando envio correto das informações. Instituições com cobranças indevidas estão sujeitas a ações de supervisão e ações cabíveis.

A dificuldade do pagamento das dívidas também se verificou em outros recortes do crédito em julho, para além das famílias. Juntando as operações das famílias e empresas com recursos livres, a inadimplência subiu de 5,0% para 5,2%, nível mais elevado desde novembro de 2017. No crédito total (livre e direcionado), a inadimplência foi de 3,8%, maior patamar desde maio de 2017.

O saldo da carteira de crédito em julho subiu 0,4% - 0,2% no crédito livre e 0,7% no direcionado. Para o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, avalia que os resultados de julho mostram a continuidade do movimento de desaceleração do crescimento do crédito.

— Temos visto uma desaceleração do crescimento do crédito, mas certamente não é igual para todas as modalidades.

Consignado privado

Rocha destacou que o consignado privado está em uma tendência diferente do restante do mercado de crédito devido à reformulação pelo governo federal, que ampliou o público-alvo da modalidade com desconto em folha. Em julho, o consignado privado alcançou o maior saldo da série histórica do BC, de R$ 49,7 bilhões.

Em relação aos juros na modalidade, o chefe de departamento destacou que houve uma leve redução em julho, mas dentro do padrão mais alto do novo modelo de consignado privado. Antes da reformulação, em fevereiro, o juro médio era de 40,9% ao ano, enquanto, em julho, foi de 55,5%, contra 56,3% em junho.

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