Centro de inovação dos institutos Senai
Editor de Macroeconomia
Publicado em 19 de setembro de 2025 às 11h21.
Um estudo da Universidade de Lund, da Suécia, mostrou que os Institutos SENAI de Inovação (Senai ISI) adicionaram R$ 985 ao PIB per capita (isto é, por pessoa) e contribuem na média com 0,66% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
A pesquisa (leia mais aqui, em inglês) foi feita em parceria com dois institutos Fraunhofer (IPK e ISI), maior organização de pesquisa aplicada da Europa, e demostrou que os 26 institutos de inovação foram responsáveis por uma adição no PIB per capita de 2012 a 2019 — o PIB per capita médio no período analisado foi de R$ 52 mil.
"Nossos resultados confirmam que organizações públicas de pesquisa podem ter impactos profundos na economia", escrevem os autores Torben Schubert, Denilton Darold e Markus Will. "Focando na produtividade, estimamos que o efeito médio do tratamento nas regiões tratadas (ATT), em termos de PIB per capita, seja de pelo menos 985 reais."
Segundo eles, o efeito se mostrou robusto diante de "várias alternativas de especificação" e economicamente significativo, "dado que implica que cerca de 0,66% do PIB total do Brasil pode ser atribuído aos institutos Senai ISI".
O Senai tem 80 anos. Mas a rede de inovação do serviço foi criada em 2012, segundo a entidade, por iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) a partir da necessidade de uma rede nacional capaz de transformar pesquisa científica em inovação e maior produtividade para o setor industrial.
“O estudo aponta que o Senai conseguiu criar uma estrutura relevante e operacional para a indústria inovar. A rede foi criada a partir uma demanda real do nosso setor. O Senai não só atendeu à demanda como se tornou um parceiro estratégico das empresas e esse é o papel do Sistema Indústria", destaca o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Para chegar ao percentual de 0,66% de contribuição no PIB, os pesquisadores compararam o crescimento do PIB de regiões com institutos ou nas regiões imediatas de suas empresas clientes com regiões similares sem qualquer envolvimento dos institutos, abordagem metodológica chamada de diferença nas diferenças - ou difference-in-differences (DiD).
A técnica ganhou força na pesquisa econômica porque oferece uma maneira relativamente simples e transparente de estabelecer causalidade em contextos reais, ocasiões em que experimentos controlados quase nunca são viáveis.
Isso permitiu explorar a implantação gradual dos ISI pelo país para comparar regiões tratadas e não tratadas ao longo do tempo. Essa estratégia, pouco usual em estudos de ciência e inovação, permitiu isolar o efeito dos ISI sobre o PIB regional e superar a dificuldade de distinguir correlação de causalidade.
Com o impacto considerável da pandemia no PIB e nos investimentos privados em P&D, os pesquisadores delimitaram o período de análise de 2012 a 2019 – ano em que 26 dos 28 institutos já estavam em operação.
Os pesquisadores usaram duas fontes primárias de dados:
• Estatísticas macroeconômicas regionais: incluindo PIB por microrregião e dados populacionais, do IBGE;
• Dados administrativos do SENAI: dados dos institutos, projetos, categorias e localização dos clientes.
“Os institutos SENAI são um caso exemplar para mensuração dos efeitos econômicos da pesquisa científica em razão de sua configuração única, o que minimiza diferenças regionais pré-existentes, garantindo resultados confiáveis. Adicionalmente, o foco dos institutos em pesquisa aplicada e colaboração com a indústria liga diretamente os efeitos econômicos com avanços científicos”, afirmam os pesquisadores.
A rede de Institutos Senai de Inovação começou em 2012 e, desde então, chegou a 27 unidades em operação — uma, no Distrito Federal, está em construção.
Segundo a entidade, até meados deste ano, a rede desenvolveu cerca de 3.350 projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), com valor total de R$ 3,15 bilhões, e mais da metade desses projetos são feitos por pequenas e médias empresas (PMEs).
Nesses ambientes, a ideia é que os projetos sejam desenvolvidos pelos institutos a partir de uma demanda específica da indústria.
Nanossatélite VCUB1 desenvolvido pela Visiona Tecnologia Espacial, joint-venture entre a Embraer e a Telebras (CNI/Senai/Divulgação)
Entre as soluções já entregues, diz o Senai em nota, estão um veículo autônomo submarino para inspeções visuais em 3D em águas profundas para a produção de petróleo e gás, biocombustível de algas de usinas hidrelétricas, processos de produção de combustível sustentável de aviação (SAF), além da participação no desenvolvimento do primeiro nanossatélite da indústria nacional.
“A rede criou uma estrutura inédita, de pesquisa aplicada para a indústria, o que é fundamental para o desenvolvimento de inovação e para que ela chegue ao mercado. Até então, poucas instituições não universitárias faziam pesquisa e desenvolvimento para o setor produtivo. O que o estudo nos mostra é que o investimento em inovação tem retornos evidentes não só para as empresas, mas para a economia como um todo", afirma o diretor geral do SENAI, Gustavo Leal.
Segundo Leal, a localização dos institutos seguiu dois critérios: capacidades técnicas pré-existentes e descentralização geográfica.
Inicialmente, o critério foi a capacidade técnica das unidades SENAI: unidades de alta performance, com prévia experiência com serviços tecnológicos, dispostas a implementar P&D, onde as competências já desenvolvidas na área de educação profissional convergiam com tecnologias prioritárias.
Em um segundo momento, estabeleceu-se o critério de desenvolvimento regional, contemplando estados como Amazonas, Pará e Mato Grosso do Sul.
Em seu artigo, os pesquisadores estrangeiros também ponderam que o efeito multiplicador de investir em inovação identificado no estudo é muito elevado.
Segundo a CNI, a rede recebeu R$ 1,1 bilhão em investimentos do Sistema Indústria — parte da verba veio de um empréstimo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
"Ao mesmo tempo, é sabido que os retornos de atividades relacionadas à inovação e ao conhecimento são muito elevados", escrevem, citando a literatura econômica, que mostra multiplicadores altos, de 10 a 30, para o retorno de investimentos em inovação.
Em uma economia emergente como a brasileira, apontam os pesquisadores, esses efeitos podem ser ainda mais amplificados.
"Não é irrazoável supor que os institutos Senai ISI tenham fechado uma lacuna sistêmica no sistema de inovação brasileiro, o que explica os retornos consideráveis", dizem. "É claro que, uma vez que as atividades do ISI se expandam suficientemente, retornos decrescentes podem entrar em cena. Porém, ao menos enquanto os gastos permanecem em seu nível limitado atual, nossos resultados sugerem que investimentos adicionais parecem economicamente justificados."