Publicado em 21 de novembro de 2025 às 09h09.
Após a perda de tração de alguns indicadores de atividade da Construção Civil em 2025, a expectativa é de retomada gradual no próximo ano. Medidas como a criação da Faixa 4 e da nova linha de crédito para reformas residenciais do programa Minha Casa, Minha Vida, além do lançamento do novo modelo de crédito imobiliário, deverão oferecer suporte adicional ao setor.
O PIB da Construção Civil avançou 1,8% no primeiro semestre do ano, após variação de +4,3% em 2024, considerando os dados em relação ao mesmo período do ano anterior. Tanto no 1T25 como no 2T25, houve recuo na margem dessazonalizada. Entre os componentes do PIB setorial, observa-se maior fraqueza da produção de insumos da construção civil.
Tabela: Produção de insumos da construção civil e aberturas selecionadas – taxa de variação ante o trimestre anterior com ajuste sazonal
Fonte: PIM-IBGE (classificação: Tendências Consultoria)
Dentre as principais aberturas do indicador, tem havido perda de dinamismo daquelas mais sensíveis ao segmento de reformas residenciais, como a fabricação de produtos cerâmicos, assim como daquelas relacionadas com o mercado imobiliário, como a produção de aços longos e de artefatos de concreto (como argamassas e telhas).
A deterioração recente está relacionada ao aperto das condições financeiras e à piora dos indicadores de crédito, que afetam, sobretudo, o varejo da construção e o mercado imobiliário de médio e alto padrão.
Além disso, houve aceleração de mudanças estruturais já em curso no segmento de crédito imobiliário: a redução da participação da caderneta de poupança e o aumento do uso de títulos e fundos imobiliários (como LCIs, CRIs e LIGs) como fontes de funding.
De acordo com dados de instituições financeiras (Anbima, B3, Banco Central e Caixa Econômica Federal), a participação da caderneta de poupança no funding imobiliário recuou de 40% para 30% entre dezembro de 2022 e julho de 2025. A menor oferta de recursos, atrelada às condições de crédito mais restritivas, acarretou queda das concessões de crédito imobiliário com recursos do SBPE (-21,9% YoY, considerando o acumulado do ano até agosto), sobretudo aquelas voltadas ao financiamento de construção e reforma de imóveis.
Além de fatores conjunturais, a menor captação líquida da poupança reflete a ampliação das opções de investimento, favorecida pela digitalização do mercado e pelo maior acesso da pessoa física a ativos de maior rentabilidade. Esses elementos tendem a favorecer o investimento em ativos financeiros mais rentáveis e restringir as captações líquidas da poupança.
Diante das limitações das fontes tradicionais de crédito imobiliário, o governo federal anunciou, no dia 10 de outubro, um novo modelo para financiamento do setor. O objetivo é modernizar as regras de direcionamento do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), diversificar as fontes de funding e ampliar os recursos disponíveis para o crédito imobiliário.
No que tange ao direcionamento dos recursos da caderneta de poupança, atualmente, 65% dos recursos depositados são destinados obrigatoriamente para crédito imobiliário, 20% para recolhimento compulsório no BC e 15% de uso livre pelos bancos. No novo modelo, o compulsório cairá a 15% ainda neste ano (desde que recursos excedentes sejam usados no financiamento imobiliário) e diminuirá gradativamente até zerar em uma década. Assim, a totalidade dos recursos provenientes da caderneta de poupança será utilizada no financiamento imobiliário.
Outra mudança importante é que os bancos poderão utilizar fontes alternativas, como emissões de títulos imobiliários, para atender ao direcionamento, liberando a poupança para aplicações mais rentáveis. Para tanto, 80% dos financiamentos feitos deverão ir para o Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que passará a englobar imóveis de até R$ 2,25 milhões, com juros de até 12% ao ano. O limite de juros e o possível descasamento entre o período de cumprimento do direcionamento (até 7 anos) e os prazos dos contratos de financiamento imobiliário (de até 30 anos) podem afetar a atratividade do modelo para os bancos privados.
Ainda assim, a diminuição do compulsório eleva a oferta de recursos disponíveis para o financiamento imobiliário a melhora as condições de crédito. De acordo com o Banco Central, o novo modelo de financiamento imobiliário liberou imediatamente R$ 36,9 bilhões para financiamento habitacional. Nesse sentido, a Caixa Econômica Federal anunciou elevação de 70% para 80% do percentual máximo financiável dos imóveis.
Em síntese, o novo modelo de crédito imobiliário tende a aliviar as restrições de oferta de crédito habitacional e a beneficiar o mercado de médio e alto padrão, cujas perspectivas vinham se deteriorando. O mercado imobiliário de baixa renda, que exibe dinamismo, será impulsionado pelo ganho de tração da faixa 4, que foi anunciada em abril, pela atualização das faixas do Minha Casa Minha Vida e pelo programa Reforma Casa Brasil que irá conceder financiamento para reformas residenciais a famílias com renda mensal bruta de até R$ 9,6 mil.
Assim, a expectativa é de que a atividade setorial apresente retomada gradual ao longo do próximo ano, à medida que as medidas se convertam em maior demanda por materiais de construção. Além disso, a massa de renda setorial também continuará a se expandir, haja vista o impacto positivo das medidas sobre a demanda por mão de obra setorial em contexto de escassez de trabalhadores qualificados. Nesse sentido, a expectativa é de que o PIB da Construção Civil avance 2,1% em 2026, após perspectiva de crescimento médio de 1,2% no ano corrente.
Matheus Ferreira é economista da Tendências Consultoria.