Banco Central: parte do mercado aposta que a queda de juros começará no último trimestre do ano e outra parte avalia que só ocorrerá em 2026 (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 19 de maio de 2025 às 09h17.
O processo de alta de juros pelo Banco Central (BC) chegou ao fim — pelo menos na avaliação de economistas de mercado. Após elevar a Selic em 3,5 pontos percentuais nas últimas quatro reuniões, para 14,75% ao ano, os especialistas debatem agora quanto tempo a taxa permanecerá nesse patamar e quando o processo de redução começará.
Diante de cenário global ainda adverso, mesmo com a trégua tarifária entre Estados Unidos e China, o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, afirmou que prevalece a visão de que o BC terá que ser bem conservador nas próximas avaliações porque as incertezas ainda são grandes.
Diante desse contexto, disse Oliveira, a autoridade monetária acompanhará com lupa o hiato do produto — que mostra se a economia opera acima ou abaixo do crescimento potencial — e os desvios da inflação para calibrar a política monetária.
“Na nossa visão, 3,5 pontos percentuais de alta de juros já são um aumento suficiente para que o aperto das condições financeiras leve mais a frente com que a inflação desacelere em direção ao centro da meta”, disse.
Para Oliveira, a tendência é que os juros permaneçam no mesmo patamar, pelo menos, até outubro. Ele espera que o BC comece o ciclo de queda da Selic no último trimestre. As duas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) em 2025 ocorrem em 04 e 05 de novembro e 09 e 10 de dezembro.
“O tamanho do ciclo de queda dos juros vai depender muito para onde vai a taxa de câmbio”, disse.
O diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, afirmou que a hipótese principal do cenário considera que política monetária funcionará, a economia deve perder fôlego ao longo do ano e permitirá uma gradual desinflação à frente.
Segundo ele, três dúvidas persistem nesse processo. A primeira é o grau de funcionamento dos canais de transmissão da política monetária. A segunda é se novas medidas de estímulo por parte do governo atenuarão o ritmo de desaceleração. E a terceira é qual será o efeito final das tarifas sobre o crescimento global.
Barbosa disse que esses três fatores serão monitorados de perto para determinar o ritmo e o timing da desaceleração da economia e as consequências para as outras variáveis do cenário.
“O BC defendeu que a convergência da inflação para a meta e a desancoragem das expectativas ainda demandam juros no campo significativamente restritivo por período prolongado, sugerindo que eventual início dos cortes levará tempo. Em nosso cenário, mantemos a expectativa de que o BC tenha encerrado as altas em 14,75% e que a desaceleração da economia e da inflação no segundo semestre o levarão a começar os cortes em dezembro”, afirmou, em relatório aos clientes.
A avaliação da autoridade monetária sobre os possíveis efeitos da mudança no ambiente externo, estabeleceu, para na opinião do economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, uma barra relativamente alta para um novo ajuste da Selic em junho.
“Passamos a esperar taxa Selic estável em 14,75% ao ano até o final do ano. Em sua comunicação recente, o Banco Central parece ter ganhado confiança de que a política monetária está em patamar significativamente contracionista e que a atividade está desacelerando, com sinais de arrefecimento no mercado de trabalho e inflexão em algumas linhas de crédito”, afirmou Mesquita, em relatório aos clientes.
Segundo ele, soma-se a isso a aparente escolha dos diretores do BC pela estratégia de manutenção de juros elevados por tempo prolongado. Nas contas de Mesquita, com a Selic estável em 14,75% a inflação projetada no horizonte relevante no quarto trimestre de 2026 estará em torno de 3,3% - provavelmente próxima o suficiente da meta para o comitê.
“Não vislumbramos espaço para cortes de juros esse ano, diante das expectativas desancoradas e da atividade ainda resiliente. Projetamos cortes apenas ao longo de 2026, quando a taxa de juros alcançará o nível de 12,75%”, disse.