Economia

Meta de inflação em 2011 está no fio da navalha

Quase metade dos analistas do mercado financeiro acredita que o teto de 6,50% será rompido

Tombini terá de enviar carta à Fazenda se o Banco Central estourar a meta de inflação (Agência Brasil)

Tombini terá de enviar carta à Fazenda se o Banco Central estourar a meta de inflação (Agência Brasil)

DR

Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2011 às 13h38.

São Paulo – O Banco Central (BC) está correndo um enorme risco de não cumprir a meta de inflação neste ano. O centro do alvo a ser atingido é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para cima e para baixo.

Os analistas do mercado financeiro, que declararam guerra ao Banco Central após o corte inesperado dos juros, elevaram novamente as projeções para o IPCA neste ano. A mediana das expectativas colhidas pelo boletim Focus aponta que a inflação encerrará o ano em 6,45%. Se a mediana está muito próxima do teto da meta, significa que quase metade dos economistas consultados acredita no seu descumprimento.

Vale lembrar que o Sistema de Metas de Inflação, criado em 1999, pressupõe um alvo determinado pelo Conselho Monetário Nacional, que é formado pelo presidente do Banco Central e pelos ministros da Fazenda e do Planejamento. A partir daí, cabe aos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central calibrar a taxa de juros com o objetivo de cumprir a meta estabelecida ou, pelo menos, impedir que a inflação ultrapasse o limite máximo.

Quando a inflação estoura a meta, o presidente do Banco Central precisa explicar, por meio de uma “Carta Aberta” ao ministro da Fazenda, os motivos do descumprimento, bem como as providências e o prazo para o retorno da taxa de inflação aos limites estabelecidos. Isso já aconteceu três vezes: em 2001, 2002 e 2003 (veja tabela na próxima página).


Seria incorreto afirmar que a decisão do BC de cortar os juros no final do mês passado será a culpada pelo eventual descumprimento da meta em 2011. É consenso entre os economistas que existe uma defasagem de seis a nove meses entre a mudança na taxa Selic e seus efeitos na economia.

Porém, ao tomar uma atitude que contrariou as expectativas do tal “deus mercado”, o Banco Central sabia que as expectativas inflacionárias subiriam – seja porque os preços realmente estão em alta ou simplesmente por pirraça dos agentes.

Polêmicas à parte, os dados concretos até o momento são de uma inflação acumulada em 12 meses de 7,23%, com viés de baixa. A questão é: a desaceleração dos preços prevista para os próximos meses será suficiente para trazer a taxa anual à casa de 6,50% até dezembro?

Se a resposta for sim, o BC terá cumprido a sua missão. Caso contrário, terá o ingrato dever de escrever a cartinha para o Ministério da Fazenda. A carta, é claro, é um mero simbolismo. O que está em jogo é a credibilidade o Banco Central, que saiu arranhada da última reunião do Copom. Afinal de contas, a meta de inflação está no fio da navalha.

Fonte: Banco Central do Brasil
Ano Meta Inflação Efetiva (IPCA)
1999 8% 8,94%
2000 6% 5,97%
2001 4% 7,67% (estourou o teto)
2002 3,5% 12,53% (estourou o teto)
*2003 8,5% 9,30% (estourou o teto)
*2004 5,5% 7,60%
2005 4,5% 5,69%
2006 4,5% 3,14%
2007 4,5% 4,46%
2008 4,5% 5,90%
2009 4,5% 4,31%
2010 4,5% 5,91%
2011 4,5% projeção Focus: 6,45%
2012 4,5% projeção Focus: 5,40%

* Metas ajustadas para cima

Acompanhe tudo sobre:Alexandre TombiniBanco CentralEconomistasInflaçãoMercado financeiroPersonalidades

Mais de Economia

Balança comercial tem superávit de US$ 5,9 bi em junho; governo reduz projeção de saldo positivo

STF ajuda a fortalecer as instituições, diz Haddad sobre IOF

AGU diz que decisão de Moraes sobre IOF reafirma compromisso por separação de Poderes

Motta diz que decisão de Moraes mantendo IOF sem alta está em 'sintonia com a Câmara'