Leandro Vilain, CEO da ABBC (Leonardo Muniz/ABBC/Divulgação)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 16 de março de 2025 às 06h10.
As novas regras para o consignado privado são um marco histórico para o país na busca por baratear o crédito para os brasileiros, assim como foram as linhas de crédito com desconto em folha criadas para servidores públicos e beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A afirmação é do CEO da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Leandro Vilain, em entrevista à EXAME. Apesar disso, ele diz que ainda existem dúvidas sobre detalhes operacionais da linha de crédito
Para Vilain, que acumula mais de 30 anos de experiência no setor financeiro e é o primeiro CEO da instituição, os juros tendem a ser menores com a garantia de que as instituições financeiras receberão os pagamentos dos empregadores.
Além disso, ele afirma que o governo acertou ao não estabelecer um teto para as taxas de juros e cada operação de crédito terá um custo que considerará os riscos envolvidos. Nessa conta será considerado o vínculo empregatício do trabalhador com a empresa, a renda, o prazo para o pagamento e saúde financeira do empregador.
Os detalhes operacionais de contratação e do pagamento das parcelas também precisam ser mais bem esclarecidos, afirmou Vilain.
Segundo ele, ainda restam dúvidas sobre a experiência do cliente para contratação do crédito, o processo tecnológico que envolve o compartilhamento de informações do trabalhador com as instituições financeiras, como se dará o pagamento das parcelas e os mecanismos de cobrança em caso de atraso na quitação das parcelas.
“Até aqui, veio tudo muito bem, mas o jogo não está ganho. Mas essas coisas irão definir o sucesso da operação. Vários detalhes técnicos ainda não estão claros. Alguns manuais técnicos estão pendentes. Todas as instituições financeiras estão mirando o dia 21 [para iniciar a oferta dos empréstimos]”, disse.
Além de acompanhar os processos do novo consignado, Vilain afirma que um dos principais objetivos da sua gestão – ele assume o posto em 7 de abril – será reforçar os mecanismos de segurança das instituições financeiras para coibir fraudes.
“As questões relacionadas a fraudes bancárias e financeiras me preocupa. Esse mal existe em toda a sociedade e acomete vários países no mundo. Recebi relatos recentes de golpes de engenharia social na Ásia. Esse tema me preocupa bastante”, diz.
Outro ponto de atenção de CEO da ABBC diz respeito a previsibilidade, a segurança jurídica e regulatória para a operação dos negócios do setor bancário.
“O Brasil é o país com maior número de processos trabalhistas no mundo. E isso é um custo para a operação, que impacta nos juros cobrados dos clientes. Isso vale para setores intensivos e capital e mão obra, como o setor financeiro”, diz.
Outro tema considerado importante por Vilain está ligado ao processo de independência do Banco Central (BC), considerado por ele um modelo excepcional. Além da supervisão bancária, o presidente da ABBC diz que o BC tem feito um trabalho brilhante desde que iniciou o ciclo de alta de juros no ano passado.
“O BC já vinha observando a tendência de alta inflacionária e se antecipou a esse movimento. Infelizmente, essa inflação não deu sinais de queda. Isso demonstra que a política monetária está correta na decisão de aplicar o remédio, que é a alta de juros. O pior que pode acontecer para a sociedade é cenário de descontrole da inflação. Já vimos esse filme antes”, diz.
Apesar de elogiar o trabalho do BC, ela afirma que a taxa de juros traz efeitos colaterais para a economia, com desaceleração do nível de atividade e retração de investimentos.
“Ninguém está feliz com os juros altos. Nem as instituições financeiras e nem as famílias. Temos que arcar com os efeitos colaterais dos juros mais elevados. Isso não é bom para setores intensivos em capital, como os bancos e para indústria. Mas temos que ter paciência com esse ciclo.”