Economia

O preço das tarifas de Trump: setores de aço e alumínio podem perder até US$ 2,9 bi

Estudos e projeções aponta que a medida poderá afetar a produção nacional, com impacto direto sobre grandes exportadoras de aço

Tolo de aço (ArcelorMittal/Divulgação)

Tolo de aço (ArcelorMittal/Divulgação)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 13 de março de 2025 às 15h38.

A aplicação de tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio pelo presidente Donald Trump terá impacto limitado na economia brasileira, mas poderá causar perdas de até US$ 2,9 bilhões em receita de exportações no setor. As estimativas são de estudos e analistas consultados pela EXAME.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projeta que a tarifa pode gerar queda de 2,19% na produção, contração de 11,27% nas exportações do metal e redução de 1,09% nas importações. Isso significa que o Brasil enfrentará uma perda de exportação equivalente a US$ 1,5 bilhão e uma queda de quase 700 mil toneladas de produção em 2025.

As principais empresas afetadas pela medida devem ser a ArcelorMittal, Ternium e CSN, as maiores exportadoras de aço para os Estados Unidos.

O aço exportado pelo Brasil para os EUA é majoritariamente semiacabado, um insumo intermediário que é processado e laminado pelas siderúrgicas americanas antes de ser vendido para indústrias, como a automotiva, para a produção de bens finais.

Por outro lado, a Gerdau, que possui 11 unidades de produção nos EUA, deve evitar os custos adicionais enfrentados pelos exportadores, já que 35% das suas operações estão no país.

Fernando Ribeiro, coordenador de Relações Econômicas Internacionais do Ipea e autor do estudo, destaca que o Brasil tem uma indústria siderúrgica bem desenvolvida, por isso, é fundamental que o governo busque negociar para minimizar os impactos ao setor. "É importante que o país busque algum tipo de negociação para o governo americano para reverter essa medida e evitar prejuízos para o setor", afirmou.

Yasmin Riveli, analista da Tendências Consultoria, estima que as perdas podem variar entre US$ 1,8 bilhões e US$ 2,9 bilhões em receita com as exportações brasileiras para os EUA.

Segundo o Instituto Aço Brasil e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), as exportações totais de produtos siderúrgicos somaram cerca de US$ 7,7 bilhões em 2024.

Riveli explica que, apesar das tarifas, as perdas podem ser menores caso os compradores americanos continuem adquirindo produtos brasileiros, especialmente semiacabados, devido à dificuldade de substituição.

Em 2024, o Brasil foi o segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos, superado apenas pelo Canadá. Durante o ano, o Brasil enviou 4,08 milhões de toneladas para os EUA, o que corresponde a 15,5% de todas as importações de aço realizadas pelos americanos, segundo o Departamento de Comércio dos Estados Unidos (DOC). O montante alcançou US$ 2,99 bilhões.

No caso do alumínio, o Brasil exportou US$ 796 milhões do produto para os EUA no ano passado, com destaque para os produtos semimanufaturados, conforme dados da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).

Impacto limitado no PIB

Em termos macroeconômicos, o impacto da tarifa será pequeno. O estudo do Ipea projeta uma queda de apenas 0,01% no PIB do Brasil e uma redução de 0,03% nas exportações totais, com um ganho de saldo na balança comercial de US$ 390 milhões, devido à redução nas importações (-0,26%).

Para os Estados Unidos, o impacto sobre o PIB será mínimo (-0,02%), mas as quedas nas exportações (-0,39%) e importações (-0,66%) serão um pouco mais significativas, com um aumento de US$ 7,3 bilhões no saldo comercial – valor considerado insignificante frente ao déficit comercial de mais de US$ 1 trilhão.

No setor de metais ferrosos, as importações dos EUA terão uma queda de 39,2%, enquanto a produção doméstica aumentará 8,95%. Já as exportações do setor se reduzirão em 5,32%.

Outros setores também sofrerão queda de produção devido ao aumento nos custos de produção com a encarecimento do aço, como máquinas e equipamentos (-1,1%), produtos de metal (-0,9%), equipamentos elétricos (-0,6%) e veículos e peças (-0,5%). As exportações desses setores também serão prejudicadas, com quedas de -1,9%, -4,3%, -0,9% e -0,7%, respectivamente.

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