Economia

Pressão do governo coloca à prova política do Banco Central para juros

Lula também já reclamou publicamente da atual meta de inflação, que considera baixa

Edifício-Sede do Banco Central em Brasília (Agência Brasil/Reprodução)

Edifício-Sede do Banco Central em Brasília (Agência Brasil/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de fevereiro de 2023 às 12h40.

Última atualização em 1 de fevereiro de 2023 às 13h54.

O Banco Central (BC) decide nesta quarta-feira, 1º, os rumos da taxa básica de juros "emparedado" entre o forte aumento das expectativas de inflação e as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de ministros ao atual patamar da Selic, índice que baliza todos os empréstimos. Lula também já reclamou publicamente da atual meta de inflação, que considera baixa.

Entre economistas consultados pelo Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, há consenso sobre a manutenção dos juros básicos em 13,75% ao ano. Eles também esperam que o comunicado que será emitido após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) reforce a preocupação com os rumos da inflação e com a sustentabilidade das contas públicas, enquanto cresce a cobrança para que o governo implemente um programa de corte de gastos públicos.

Nas últimas semanas, o mercado tem divulgado projeções de alta nos preços. Para economistas, trata-se de uma "inflação contratada", o que deve obrigar o BC a manter a Selic em patamares elevados por um período maior do que o previsto - e sem descartar a possibilidade de novos aumentos. Expectativas de inflação mais altas fazem os investidores exigirem taxas de juros maiores, impactando o custo de captação de empresas e do governo. Além disso, juros básicos altos encarecem o crédito e inibem o consumo da população.

No Boletim Focus desta semana, usado como uma variável no modelo de inflação do Copom, as estimativas do mercado para o IPCA continuaram se distanciando das metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A estimativa para 2023 subiu pela sétima vez seguida, saltando de 5,48% para 5,74% (quase um ponto porcentual acima do teto da meta, de 4,75%), enquanto a projeção para 2024 foi de 3,84% para 3,9%.

Com o aumento das expectativas de inflação e um resultado pior no IPCA-15 de janeiro (que subiu 0,55%), o economista-chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso, passou a projetar o início da queda da Selic só para setembro, e não mais em agosto, com a taxa terminando 2023 em 12,50%, e 2024, em 9%. O economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Souza Leal, disse apostar em uma Selic a 12,25% no fim do ano. Já o economista João Fernandes, sócio da Quantitas Asset, prevê que os juros devem ficar em 13,75% durante 2023, com um corte só no primeiro semestre de 2024.

Segundo Fernandes, o Copom deve trazer em seu comunicado alertas relacionados à política fiscal, vetor que também tem provocado a piora das expectativas inflacionárias. "O BC já deixou claro que o ambiente mais adverso no âmbito fiscal pode afetar a política monetária", disse Fernandes. "O Copom já vem mostrando um tom de bastante preocupação. A tendência é de manutenção desse discurso sem implicações para a trajetória de política monetária."

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