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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h16.
Os números são claros: o Brasil representa 63% do produto interno bruto do Mercosul, mas apenas 4% do PIB dos países envolvidos na negociação da Área de Livre Comércio das Américas. Já os Estados Unidos, sozinhos, são responsáveis por quase 80% do PIB do continente.
Apesar de representantes do Itamaraty tergiversarem quanto ao impacto das propostas americanas, a estratégia dos Estados Unidos para a Alca é evidente para todos os analistas: negociar separadamente com vários grupos de países e, com isso, enfraquecer o poder de uma negociação em conjunto. A essência da proposta americana é fazer uma Alca em diferentes velocidades, abrindo o mercado em tempos distintos, de acordo com o produto e o poder de competitividade de cada país , diz o economista Marcos Jank, professor da Universidade de São Paulo. Isso reduz o nosso poder de barganha.
Resta, então, saber como o Brasil deve agir para salvaguardar seus interesses e contrabalançar o poderio comercial americano. Para a professora de Negociação Internacional do Ibmec Josefina Guedes, essa é uma questão muito mais complicada do que parece. Ela afirma que, em muitos setores da economia, a questão tarifária é pouco relevante nas relações comerciais com os Estados Unidos: O problema não está nas alíquotas, mas nas barreiras não tarifárias que os americanos acabam impondo aos produtos brasileiros. É nisso que os nossos negociadores devem prestar atenção .
Do jeito como a proposta americana foi feita, se o Brasil aceitá-la, corre o risco de por em xeque a sobrevivência de alguns setores da indústria nacional e, conseqüentemente, de sacrificar o crescimento econômico do país. Se for o único país a recusar, aniquilará a capacidade competitiva dos produtos brasileiros no mercado americano - um volume de exportações de quase 13 bilhões de reais em 2000 -, uma vez que eles receberão taxação, enquanto os produtos dos demais países das Américas, não.
Jank chama atenção para a importância de o Brasil sustentar nas negociações que a eliminação das tarifas ocorra ao mesmo tempo para todos os paises da Alca. Analisando friamente os números, a representatividade econômica do Brasil é pequena diante da força americana. Mas somos um mercado que interessa aos exportadores americanos e temos um peso político regional não desprezível. É com isso que devemos jogar para tentar conquistar espaço. "Devemos usar toda a nossa força diplomática", diz Josefina, do Ibmec. "Claro que, se o acordo não for interessante, podemos simplesmente deixar de assinar."
Os principais blocos negociadores
da Alca | ||
Bloco | Percentual do PIB da região (2001) | Resultado da balança comercial com o Brasil (2000, em US$ milhões) |
Brasil | 3,95% | - |
Mercosul | 6,28% | -74,7 |
Estados Unidos | 79,87% | 89,3 |
Nafta + Chile | 90,54 | 791,9 |
Caribe + América central + Andinos | 3,18% | 688,3 |
Fonte: Banco Mundial e
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