Economia

Será difícil adiar tarifas de Trump contra o Brasil, diz Jaques Wagner em Washington

Líder do governo no Senado faz parte da comitiva de parlamentares nos Estados Unidos para negociar com empresários e autoridades, em tentativa para barrar as sobretaxas

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 28 de julho de 2025 às 12h51.

Última atualização em 28 de julho de 2025 às 13h18.

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O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmou nesta segunda-feira, 28, que considera difícil conseguir adiar o início das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, previstas para entrar em vigor nesta sexta-feira, 1º de agosto.

A declaração foi dada durante a chegada de uma comitiva de oito senadores à residência da Embaixada do Brasil em Washington, nos Estados Unidos. O grupo está na capital americana com o propósito de negociar com empresários e autoridades para tentar barrar as sobretaxas.

“Expectativa positiva, apesar da dificuldade”, disse Wagner a jornalistas sobre as conversas que ocorrem ao longo da semana. Questionado sobre a possibilidade de estender o prazo para a implementação das tarifas, o parlamentar respondeu: “Eu acho que não [é possível adiar]. O que a gente está fazendo é a diplomacia parlamentar. É preciso que os governos se entendam. A gente está aqui para contribuir”.

A agenda da comitiva inclui reuniões com a embaixadora Maria Luiza Viotti e representantes do BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento, além de encontros com líderes empresariais na Câmara de Comércio dos EUA. No entanto, nenhuma reunião com integrantes do Executivo americano está prevista.

A missão é liderada pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS) e conta com nomes como Tereza Cristina (PP-MS) e Marcos Pontes (PL-SP), ambos ex-ministros do governo Jair Bolsonaro, além de Carlos Viana (Podemos-MG), Rogério Carvalho (PT-SE), Esperidião Amin (PP-SC) e Fernando Farias (MDB-AL). Viana teve a chegada adiada por conta de um atraso em seu voo.

Após reunião com a embaixadora, Nelsinho Trad declarou que a comitiva busca “distensionar as relações entre Brasil e EUA” por meio do diálogo com parlamentares americanos. Ele informou que seis senadores, democratas e republicanos, já confirmaram presença nos encontros, mas preferiu não divulgar os nomes. “Essa reunião está previamente marcada para amanhã nós já temos seis parlamentares confirmados a proximidade dela. Alguns outros já estão entrando em contato e a gente está aguardando até em função de uma estratégia essa informação para que não haja nenhuma interferência no sentido de inibir ou cancelar qualquer agenda previamente marcada”, afirmou.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem atuado para impedir reuniões de representantes brasileiros com autoridades americanas. Trad, porém, não mencionou diretamente o nome do parlamentar ao falar sobre possíveis interferências.

A presença de ex-ministros de Bolsonaro na comitiva também gerou desconforto em Eduardo Bolsonaro. Ele defende, desde o início do ano, que os Estados Unidos adotem sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Agenda nos próximos dias

Na terça-feira, 29, os senadores brasileiros terão encontros com parlamentares americanos de diferentes partidos. Já na quarta-feira, 30, último dia da missão, o grupo se reunirá com executivos do setor privado no Council of the Americas, o Conselho das Américas.

Tarifas de Trump contra o Brasil

Em 9 de julho, Trump anunciou uma tarifa extra de importação de 50% para os produtos brasileiros. Ele disse que a taxa se deve aos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e contra redes sociais americanas.

A medida entraria em vigor em 1º de agosto, mas ainda não foi oficializada por uma ordem executiva. Assim, o governo brasileiro busca negociar formas de evitar que a nova taxa entre em vigor.

Em uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele disse:

"Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como recentemente ilustrado pelo Supremo Tribunal Federal, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e despejo do mercado brasileiro de mídia social), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais. Mercadorias levadas a outros países  para escapar dessa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta".

"Conheci e lidei com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o respeito profundamente, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tratou o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!", afirmou.

"Além disso, tivemos anos para discutir nossa Relação Comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da relação comercial de longa data e muito injusta, gerada pelas Políticas Tarifárias e Não Tarifárias e Barreiras Comerciais do Brasil. Nossa relação está longe de ser recíproca", disse o presidente americano.

No tarifaço anunciado em abril, o Brasil havia ficado na categoria mais baixa, de 10% de taxas extras. Os EUA possuem superávit comercial com o Brasil. Ou seja: vendem mais produtos para cá do que os brasileiros enviam para os americanos.

No primeiro trimestre de 2025, os dois países trocaram US$ 20 bilhões em mercadorias, sendo que os EUA tiveram superavit de US$ 653 milhões, segundo dados da plataforma Comexstat, do governo brasileiro.

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial brasileiro, atrás da China. O Brasil é um grande exportador de aço, café, carne, suco de laranja e outros produtos aos americanos.

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