Agência de notícias
Publicado em 11 de agosto de 2025 às 13h39.
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que o Brasil tende a se “machucar” menos, do ponto de vista comercial, do que outros países diante das tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos.
A declaração foi feita nesta segunda-feira durante palestra na reunião do Conselho Político e Social (COPS) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), na sede da entidade, na capital paulista.
Segundo ele, a economia brasileira, por ser mais diversificada e menos dependente da americana, leva vantagem neste momento.
— Quando a economia americana estava construindo essa exuberância, a Bolsa estava crescendo muito, (a economia tendo) ganhos de produtividade, quem enxergava o México colado na economia americana, falava ‘bom, então ele vai se beneficiar disso’. O Brasil, menos correlacionado, era visto como alguém que se beneficiaria menos no caso da exuberância americana permanecer— disse o presidente do BC, acrescentando:
— A partir do anúncio de um tarifaço, aquilo que era visto como uma desvantagem passou a ser visto como proteção. Como o Brasil depende menos dos Estados Unidos, vai se machucar menos do ponto de vista comercial.
Galípolo destacou ainda que, recentemente, investidores vêm diversificando suas carteiras: não deixaram de aplicar nos Estados Unidos, mas passaram a incluir ativos que funcionam como proteção contra a desvalorização do dólar.
Nos questionários pré-Copom, disse, o mercado tem apontado tendências relacionadas às tarifas, a maioria consideradas menos duradouras. Uma delas é o aumento da oferta de produtos domésticos, o que poderia reduzir preços, efeito que, segundo o presidente do BC, tende a ser temporário.
Outra possibilidade seria um canal de transmissão do câmbio para a inflação. Caso a disputa com os EUA desvalorize o real, haveria impacto inflacionário, mas também de curta duração. O efeito que analistas enxergam como mais duradouro seria a perda de empregos e a dificuldade que certos setores terão para encontrar novos destinos para suas exportações.
Galípolo também chamou atenção para outro desafio na mesa do Copom. Apesar de alguma melhora recente na desancoragem das expectativas no curto prazo, elas continuam desalinhadas no médio e longo prazo.
— A gente ainda não enxerga, no médio e longo prazo, as expectativas convergindo para a meta, vemos uma alteração nas expectativas de inflação no curto prazo, mas as expectativas continuam desancoradas num patamar bastante incômodo para o BC […] que, talvez, de 2025 para 2026, vão demandar a vigilância do Banco Central.
Para o presidente do BC, essa ‘idiossincrasia’ da economia brasileira, que consegue combinar taxas de juros elevadas e, ainda assim, sustentar dinamismo econômico surpreendente, é um dos temas centrais que a geração atual tem que enfrentar. O desafio é conseguir o mesmo efeito com taxas de juros mais baixas.
— Como é possível normalizar os canais de transmissão da política monetária e normalizar a política monetária? Como é possível que o Brasil possa viver, ou seja, um paciente que possa ter doses menores do remédio e, com doses menores do remédio, conseguir o mesmo efeito?