Economia

Tesouro: Receita previdenciária será insuficiente para cobrir despesas no horizonte de 77 anos

Órgão estima que a necessidade de financiamento da Previdência — prevista em 2,45% do PIB este ano — poderá atingir o patamar de 10,3% no ano de 2100

Explanada dos Ministérios, em Brasília (DF) (Antônio Cruz/Agência Brasil)

Explanada dos Ministérios, em Brasília (DF) (Antônio Cruz/Agência Brasil)

Estadão Conteúdo
Estadão Conteúdo

Agência de notícias

Publicado em 5 de abril de 2024 às 18h07.

Última atualização em 5 de abril de 2024 às 18h23.

O Tesouro Nacional avalia que, no horizonte de 77 anos, as receitas previdenciárias arrecadadas no país serão insuficientes para cobrir as respectivas despesas. O órgão estima que a necessidade de financiamento da Previdência — prevista em 2,45% do produto interno bruto (PIB) este ano — poderá atingir o patamar de 10,3% no ano de 2100. Os dados foram apresentados na publicação anual do Balanço Geral da União (BGU).

"As receitas previdenciárias serão insuficientes para a cobertura das respectivas despesas no horizonte de 77 anos. Mantendo-se, no futuro, o mesmo comportamento das hipóteses e parâmetros utilizados no cálculo, haverá crescimento do déficit previdenciário", diz o relatório divulgado nesta sexta-feira, 5. O estudo leva em conta a grade de parâmetros divulgada em janeiro pela Secretaria de Políticas Econômicas (SPE).

De acordo com a estimativa feita pelo Tesouro, as receitas previdenciárias chegariam a R$ 636,545 bilhões neste ano (5,53% do PIB) e as despesas, R$ 918,834 bilhões (7,98% do PIB). Com a insuficiência de arrecadação para cobrir os gastos, a necessidade de financiamento da Previdência, portanto, chega a R$ 326,168 bilhões (2,45% do PIB). Em 2057, a necessidade de financiamento atingiria a casa dos 5% do PIB. Em 2097, chegaria aos 10,04% do PIB; em 2100, o patamar é esperado em 10,30% do PIB.

Na avaliação do economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, os dados mostram que a Previdência, mesmo após a reforma aprovada em 2019, continua a ser um problema para o alcance e a manutenção do equilíbrio das contas públicas.

"Quando da aprovação da Emenda Constitucional, naquele ano, eu avisei que, pelas concessões que acabaram sendo feitas à época, acabaria sendo preciso voltar ao tema em cinco ou dez anos. Hoje, confirmo esse prognóstico", disse Salto ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado). O economista reforça que, em meio à evolução das despesas e à dinâmica da população economicamente ativa, já não mais auxiliada pelo chamado bônus demográfico, o país terá um "encontro marcado" com o tema da Previdência.

O diagnóstico é compartilhado pelo economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Segundo ele, a reforma aprovada em 2019 foi "incompleta" e a discussão precisará ser enfrentada novamente no futuro. Ele aposta que o debate deva ocorrer depois de 2027. "Tem um cenário fiscal por conta da Previdência que a gente vai precisar novamente fazer reforma. Isso estava muito claro e muito presente desde a reforma de 2019", disse ao Broadcast.

O economista considera que a política econômica adotada pelo atual governo, centrada em aumento de receitas, também traz desafios à estrutura fiscal. "O governo optou por fazer ajuste baseado em arrecadação, não fez um olhar mais atento à questão do gasto e agora vai ter de fazer algumas reformas importantes nessa estrutura para evitar que você tenha um descontrole lá na frente. Uma delas é voltar à questão da Previdência", disse.

Acompanhe tudo sobre:Tesouro NacionalGoverno LulaLuiz Inácio Lula da SilvaPIB

Mais de Economia

Reforma tributária: apenas 9,5% das empresas se dizem prontas para mudanças, segundo estudo

Qual o valor do salário mínimo em 2025? Veja histórico dos últimos 10 anos

Como as novas tarifas de Trump podem mexer no mercado de caminhões

Câmara pode votar MP que tributa LCI, LCA e LCD nesta terça em meio a impasse com agro