Economia

Transporte marítimo de cargas entre Brasil e Chile é alterado

Pelo prazo de um ano, a reserva de mercado no setor deixará de ser exclusivo das embarcações de bandeiras brasileira e chilena

Porto de Santos: reserva de mercado havia sido estabelecida em 1974 com o intuito de fortalecer a marinha mercante dos dois países (Andrew Harrer/Bloomberg)

Porto de Santos: reserva de mercado havia sido estabelecida em 1974 com o intuito de fortalecer a marinha mercante dos dois países (Andrew Harrer/Bloomberg)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de dezembro de 2017 às 08h32.

Brasília - Problema apontado pelo setor exportador brasileiro, a reserva de mercado no transporte marítimo de cargas entre Brasil e Chile foi parcialmente quebrada esta semana, depois de 43 anos de existência.

Pelo prazo de um ano, esse serviço deixará de ser exclusivo das embarcações de bandeiras brasileira e chilena.

A exceção abrange as cargas não transportadas em contêineres, como granéis e automóveis. Essa liberação atinge 10% das cargas do comércio bilateral, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

"Entendemos que havia uma reserva de mercado", disse ao Estado a secretária executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Marcela Santos de Carvalho.

Essa reserva, explicou ela, havia sido estabelecida em 1974 com o intuito de fortalecer a marinha mercante dos dois países.

Porém, informou ela, estudos feitos pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e pelo Ministério das Relações Exteriores indicaram que os objetivos dessa política não foram alcançados.

Depois de meses de embate interno, o conselho de ministros da Camex decidiu, em julho, pelo fim do acordo a partir de 2020. Mas, até lá, continuaria a dificuldade para as empresas que exportavam cargas não "conteinerizadas".

Isso porque não existem embarcações brasileiras ou chilenas que transportem esse tipo de mercadoria nessa rota. Para driblar a falta de navios adequados e a reserva prevista no acordo marítimo, o que as exportadoras faziam era pedir uma exceção ("waiver") à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) para usar embarcações de outra bandeira para o Chile.

Esse processo, além de levar semanas, representava uma burocracia e um custo adicional para as empresas, disse Marcela.

Um sinal dessa dificuldade é que 62% das exportações brasileiras para o Chile seguem pela via marítima. Para os demais destinos, o padrão é 85%.

Nesta semana, seguindo decisão da Camex, a Antaq autorizou um waiver estendido pelo prazo de um ano. Ou seja, o pedido que era feito navio a navio agora está autorizado de forma geral nesse período. "Foi ótimo", disse o gerente executivo de Infraestrutura da CNI, Wagner Cardoso.

"Vai diminuir o frete e a burocracia para 10% do mercado. A agora esperamos a finalização do acordo em 2020 para beneficiar os outros 90%."

"As empresas tomaram uma decisão que pode custar caro", disse o vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma), Luís Fernando Resano.

Ele alertou que os exportadores podem simplesmente não encontrar transportadoras para o Chile, pois esse setor é "extremamente volátil" e atua onde o retorno é maior.

Com isso, o risco é haver aumento no preço do frete. O executivo informou também que as empresas de navegação foram pouco ouvidas nesse debate.

Estudo da Fundação Getúlio Vargas diz que, com o fim da reserva de mercado, haveria redução de 45% no frete e a exportação poderia crescer 8,4%.

Um estudo do Ipea indica que as mercadorias brasileiras ficariam 5% mais competitivas sem o acordo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:ExportaçõesNaviosTransportes

Mais de Economia

MP do crédito consignado para trabalhadores do setor privado será editada após o carnaval

Com sinais de avanço no impasse sobre as emendas, Congresso prevê votar orçamento até 17 de março

Ministro do Trabalho diz que Brasil abriu mais de 100 mil vagas de emprego em janeiro

É 'irrefutável' que vamos precisar de várias reformas da previdência ao longo do tempo, diz Ceron