Paul Krugman: "as tarifas de Trump contra o Brasil são ilegais" (Horacio Villalobos / Colaborador/Getty Images)
Repórter
Publicado em 1 de agosto de 2025 às 10h18.
Para o economista Paul Krugman, um dos vencedores do Nobel de economia, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está perdendo a guerra comercial que ele mesmo começou. A estratégia de Trump de impor tarifas a diversos países, incluindo o Brasil, para Krugman, não resulta em concessões significativas para os EUA e, no caso brasileiro, é uma "tentativa ilegal de influenciar questões internas do país".
Krugman destaca que a ideia de "vencer" uma guerra comercial, ao usar tarifas para forçar mudanças de políticas externas, é um conceito que não se aplica à realidade das negociações de Trump. "O mercado dos EUA é grande, e negar a outros países o acesso a esse mercado os prejudica. Mas não os prejudica tanto assim, e qualquer um que imagine que a América pode usar a ameaça de tarifas para forçar grandes mudanças de políticas no exterior está sofrendo de ilusões de grandeza", escreveu Krugman em uma postagem em seu blog.
O economista ainda afirma que "a situação do Brasil é um exemplo claro dessa falácia". Trump impôs tarifas de até 50% sobre parte das exportações brasileiras, valor muito mais alto do que o aplicado a outros parceiros comerciais.
"Agora, quase tudo o que Trump tem feito no comércio é ilegal, mas no caso do Brasil é completamente flagrante. Não acho que sequer o advogado mais astuto e sem escrúpulos poderia encontrar algo na lei dos EUA que dê ao presidente o direito de impor tarifas a uma nação, não por razões econômicas, mas porque ele não gosta do que seu judiciário está fazendo", escreveu.
A imposição das tarifas ao Brasil, argumenta o economista, é "uma estratégia equivocada e desprovida de fundamentos legais".
Krugman reforça que "a imposição de tarifas não deve servir como uma ferramenta para pressionar outros países em questões políticas internas". "Trump está tentando usar a ameaça de tarifas para forçar a política interna do Brasil. Isso é algo que a lei dos EUA não permite", afirmou Krugman. A postura de Trump, ao usar as tarifas para pressionar o Brasil sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é vista por Krugman como um "claro exemplo de abuso do poder tarifário".
Além das questões legais e econômicas, Krugman também afirma que, em vez de enfraquecer o governo brasileiro, como Trump esperava, as ameaças de tarifas serviram para fortalecer a popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "As tarifas parecem estar voltando contra Trump. Como aconteceu no Canadá, onde as pressões de Trump claramente ajudaram a salvar o governo liberal de grandes perdas eleitorais, as ameaças contra o Brasil têm feito maravilhas para a popularidade de Lula", disse.
Krugman também critica a narrativa de Trump de que os países estrangeiros são os principais prejudicados pelas tarifas impostas. Para o economista, é "evidente que quem realmente arca com os custos dessas tarifas são os consumidores americanos", e não os exportadores estrangeiros. Um exemplo claro disso, para ele, é o suco de laranja, que, apesar de ser uma das principais exportações do Brasil, foi isento de tarifas pelo governo de Trump.
"O fato de o suco de laranja ter sido isento é um reconhecimento tácito de que os consumidores americanos, e não os exportadores, são os principais afetados pelas tarifas. A administração de Trump tem isentado produtos essenciais para os consumidores americanos, enquanto continua a aplicar tarifas sobre produtos menos importantes", afirmou.